Foram encontrados 66 registros para a palavra: José Gonçalves do Nascimento

Mato Queimado (Canto Distópico)

Mato Queimado é real; não é um pesadelo. 
Pesadelos se dissipam com o despertar. 
No caso de Mato Queimado, não; 

Aqui, o sono e o despertar 
São faces da mesma moeda, e o pesadelo, 
Nada mais do que um processo – 
Um processo em plena execução...

Artigo - Toda reverência ao solo sagrado de Canudos

Sempre que eu visito os sítios históricos de Canudos faço questão de tirar o meu calçado e permanecer o máximo que posso com os pés apoiados sobre aquele solo ao mesmo tempo quente, sagrado e santificador.

Faço-o por duas razões:

Primeiro, em sinal de respeito aos heroicos sertanejos e às heroicas sertanejas que ali tombaram, a maioria deles e delas insepulta e profanada ante os olhos de cruéis e insensíveis sanguinários, muitos dos quais travestidos de pios cristãos ou de ilustres e conceituados cidadãos de bem.

Isso no país que acabava de proclamar uma república e uma constituição, ambas consideradas como o último bastião do humanismo e do processo civilizatório.

Segundo, porque sinto emanar daquela terra, daquele chão, daquelas escarpas, daqueles arbustos retorcidos alguma coisa que não se explica pela nossa vã filosofia, alguma coisa de místico, de divino, de sobrenatural.

E pisar descalço ali é como entrar em estreita sintonia com aquele universo povoado de tanta energia boa, de uma espiritualidade que se faz presente em cada folha seca, em cada flor mirrada e entristecida, em cada pássaro solitário que vagueia por aqueles céus límpidos e azulados.

Pisar descalço ali é para mim ainda estreitar laços e comunhão com aqueles homens e mulheres, proto-mártires do Brasil republicano – eles que, subjugados pela bala e pela gravata vermelha, acabaram por dar o mais elevado testemunho de fé, de amor e de solidariedade...

Artigo - Sento-Sé por Laurenço Aguiar

“Todo mundo canta sua terra/Eu também vou cantar a minha/Modéstia à parte seu moço/Minha terra é uma belezinha.” Assim diz a primeira estrofe do belíssimo baião composto por João do Vale e interpretado, entre outros, por Alcione e Aldair Soares.

Cantar (e decantar) a terra de origem é um desejo próprio do ser humano, em qualquer tempo ou cultura.  A Odisseia, o Antigo Testamento, Os Lusíadas, a obra de Jorge Amado, as telas de Tarsila do Amaral, a música de Luiz Gonzaga, os cordéis de Leandro Gomes de Barros, tudo isso outra coisa não faz senão cumprir esse desejo que é inato a cada homem e mulher, que é o desejo de cantar, enaltecer, honrar seu torrão natal...

Artigo: Proust, "O Peru de Natal" e o Coronavírus

A literatura é dessas coisas que entram na vida da gente e aí permanecem, ora em forma de luz, ora em forma de caminho. Melhor: parafraseando Proust, literatura é a vida plenamente vivida.

Tenho por algumas obras literárias um apreço quase devocional. Uma dessas obras é o conto “O peru de Natal”, de Mário de Andrade, que leio religiosamente sempre que se aproximam os festejos natalinos...

Espaço do Leitor: Conto de quarentena

Em frente à pequena banca, a única do bairro, Jônatas lia as capas dos principais jornais daquela manhã de segunda-feira. Uma das manchetes dava conta de que seu time do coração – após longos meses de jejum – vencera de goleada a partida do dia anterior, garantindo participação no campeonato estadual.

Logo abaixo da chamada uma foto grande e colorida mostrava um jogador do time vitorioso correndo freneticamente atrás da bola. "Caramba, até que enfim!", pensou Jônatas. Aquela vitória importava muito para ele, torcedor fanático que há muito não via o time da sua paixão ganhar uma partida. Agora sim, sentia-se de alma lavada!..

Espaço do Leitor: Pequeno conto para ser lido daqui a algum tempo

Ainda um tanto espantadas – como se houvessem despertado de um longo pesadelo – as pessoas não sabiam se acreditavam ou não no que estava acontecendo.

Já nos primeiros momentos, uma mensagem de Twitter – veiculada pelo iluminado guru – tentava minimizar a situação, afirmando que tudo não passava de mais uma conspiração com o objetivo de derrubar Sua Excelência, o PR...

Artigo - De lesma, lagarta e outras cositas: o novo livro de Edvan Cajuhy

"Tempo, Crônicas e Contos" é mais uma comprovação da versatilidade do acadêmico bonfinense Edvan Cajuhy. Ele, que já escreveu de quase um tudo, inclusive na língua de Cervantes, agora se aventura na seara do conto e da crônica revelando, também aí, o alcance do seu talento.

"Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo", disse Arquimedes. "Dê-me caneta e papel, ou melhor, um laptop e uma taça de vinho, que construirei castelos de sonhos", diria nosso Edvan.

O artista é o operário da ilusão e do assombro, e seu mundo é o mundo do ilimitado e do imensurável. Seu papel é propor o impossível e subverter a regra, fugindo do óbvio e do previsível. Quando tudo parece ir mal e sem remédio, eis que surge a arte como um facho de luz e um lance de esperança.

Arte é trabalho e é delírio. É bênção e maldição. É estupidez e contradição. Não dá dinheiro, não rende votos, mas salva almas e cura corações.

Pois Edvan tem feito disso sua cachaça. Melhor: uma de suas cachaças. O autor, como também este resenhista, adora uma "loira" gelada, de preferência acompanhada de bons papos e bons amigos – o que nesses tempos de "corona" é absolutamente proibido.

Há anos na lide de escrevinhador – ora como um Dom Quixote, ora como um João Batista – o autor tem apostado tudo na literatura.

Talvez por acreditar no novo mundo e no novo homem que só a poesia é capaz de engendrar.

É verdade que a república da Bruzundanga nunca foi afeita à arte. Mas o artista foi feito pra teimar, e Edvan é dessa estirpe.

Aí está "Tempo, Crônicas e Contos" – espécie de diário de bordo povoado de um montão de coisa boa. Ou, como diria Helio Freitas, um caçuá de bugigangas, onde o autor foi colocando tudo que é do seu agrado.

Por aí desfilam pessoas, coisas, viagens e fantasias. O autor não só é amigo das letras, como um amante inveterado do mundo. Viaja sempre que lhe dá na telha. E essas viagens têm lhe rendido histórias pra lá de fabulosas, como algumas enfeixadas neste livro.

Saúdo a poesia e saúdo Edvan Cajuhy, felicitando-o por seu gosto e compromisso para com a literatura brasileira.

José Gonçalves do Nascimento..

Artigo - A morte das estátuas

Os protestos antirracistas que ora se propalam mundo afora, como resposta ao assassinato de George Floyd, trazem pro debate a questão dos monumentos históricos, com todas as suas contradições.

Na esteira desses acontecimentos, um bocado de monumentos públicos relacionados a figurões da escravidão tem sido deitado por terra. Alguns chamarão isso de vandalismo, atentado ao patrimônio público, algo a ser punido nos rigores da lei...

Artigo - O Covid e o papel do estado

Tenho dúvidas – e até acho improvável – que o coronavírus vá provocar uma guinada na vida das pessoas, transformando positivamente de um momento para o outro seus costumes, comportamentos, modo de agir, e os cambaus. As coisas não são tão simples como às vezes podem parecer, sobretudo quando se trata do comportamento humano. E nem é preciso ser psicólogo para saber disso.

Pelo menos até onde se sabe, não foi isso que ocorreu quando de outras crises pandêmicas havidas ao longo da história - tirante, é óbvio, uma possível e natural euforia resultante da sensação de alívio que alguns abençoados tenham tido – uma vez passado o susto...

Artigo - Covid e com-vida: o valor do isolamento

Por que existe o mal? Esta questão acompanha a humanidade desde que o mundo é mundo.

A pergunta é assunto para os doutores da Teodiceia e da Teologia, para os quais o mal é parte do percurso humano rumo à perfeição – estando portanto inserido no plano da Salvação eterna...

Artigo - DEPOIS DO CORONAVÍRUS (do valor do recolhimento)

Por que existe o mal? Esta questão acompanha a humanidade desde que o mundo é mundo. A pergunta é assunto para os doutores da Teodiceia e da Teologia, para os quais o mal é parte do percurso humano rumo à perfeição – estando portanto inserido no plano da Salvação eterna.

O iluminista Voltaire encarou a questão de forma um tanto cômica e divertida. No romance filosófico “Cândido”, o personagem Pangloss – após uma série de fracassos e contratempos – dirige-se ao protagonista da trama (Cândido) nos seguintes termos: “Todos os acontecimentos estão encadeados no melhor dos mundos possíveis; pois afinal, se não tivesse sido expulso de um lindo castelo com uma saraivada de pontapés no traseiro por amor a Cunegundes, se não tivesse sido perseguido pela Inquisição, se não tivesse perdido todos os carneiros do bom país de Eldorado, não estaria aqui comendo cidras cristalizadas e pistaches"...

Artigo - Depois do Coronavírus

Ruas desertas, negócios paralisados, aulas suspensas, igrejas de portas fechadas, espetáculos cancelados, famílias confinadas, autoridades em polvorosa, projetos interrompidos, interesses prejudicados ...

A humanidade toda parece tremer diante da pandemia do coronavírus, que ora infesta os quatro cantos do planeta, levando o pânico e a dor.  O inimigo – invisível, mas real – agiganta-se a todo o momento, ganhando formas mais e mais assustadoras, capazes de colocar o mundo inteiro de joelhos...

ARTIGO - O BAILE FUNK E A LICENÇA PARA MATAR

A barbárie de Paraisópolis nada mais é do que resultado do ódio de classe cultivado pela burguesia brasileira, cuja mentalidade é ainda aquela do antigo senhor de escravos, a quem era dado, entre outras coisas, a prerrogativa de decidir sobre a vida e sobre a morte.

O atual burguês encara a favela com a mesma sensação com que o senhor de engenho encarava a antiga senzala. Ou seja, como propriedade sua, sujeita à exploração, ao constrangimento, e, se preciso, à eliminação física. Os lundus das senzalas de então podem ser os bailes funk das quebradas de hoje. De contrapartida, o chicote e o pelourinho de outrora podem ser o camburão e o fuzil desses dias em que vivemos.  ..

Espaço do leitor: PARAISÓPOLIS É O BRASIL

PARAISÓPOLIS É O BRASIL

Na cidade que é a mais capitalista das cidades,
A favela mais populosa da cidade
Fica ao lado do bairro mais rico da cidade...

OPINIÃO: MARX E A DULCE DOS POBRES

Não há na história humana qualquer fato, qualquer acontecimento, seja de que ordem for, que possa ser “quimicamente puro”, no  sentido de inquestionável, imune a qualquer ressalva, acima do bem ou do mal,  ou coisa que o valha. A história nunca é feita da forma como idealizado, nem entre os santos, mesmo porque os santos, como todos os outros humanos, são filhos e frutos da história.

É comum acharmos que este ou aquele acontecimento deveria ter sido assim ou assado e não da forma como se apresenta (ou foi apresentado); que determinado personagem errou porque não disse ou não fez aquilo que nós reputamos como sendo o correto, mesmo que às vezes estejamos a mil anos luz desse personagem...

Miscelâneas

UM POUCO DE MIM

Nasci em Monte Santo, no Marruás. Fui aluno do Instituto de Educação Monte Santo, escola da qual guardo as melhores referências. No auge de minha juventude, resolvi ser padre e ingressei no Seminário. Num período de 12 anos, passei por seis seminários em lugares diferentes, sendo o último em Roma, na Itália, onde concluí o curso de Teologia e me habilitei para o ministério sacerdotal. Ordenei-me em Monte Santo, no ano 2000, e depois de atuar, por cerca de três anos, em algumas paróquias da minha diocese, Bonfim, decidi renunciar, passando a militar em outras searas. As andanças, todavia, não pararam e eis que hoje me encontro aqui nessa Pauliceia Desvairada, longe do sertão árido do Nordeste, mas perto de um outro sertão, não menos árido: o sertão de cimento, cal e concreto...

ARTIGO - ARLINDO LEONE E SERGIO MORO: AGENTES DE DESTRUIÇÃO

Foi um juiz, Arlindo Leone, que, atendendo aos interesses das elites opressoras, desencadeou a guerra que destruiu Canudos e sua gente. Foi um juiz, Sergio Moro, que, atendendo aos interesses das mesmas elites opressoras, desencadeou o processo que está levando o Brasil à morte e à destruição.

Senão, vejamos:

Arlindo Leone era juiz de direito da comarca de Bom Conselho (atual Cícero Dantas), quando uma manifestação, envolvendo seguidores de Antônio Conselheiro, incinerou em praça pública os editais em que o município fixava os impostos a serem cobrados da população. (Era o início da república, e os municípios acabavam de obter o direito de estipular e realizar a cobrança de tributos).

O juiz tomou aquele episódio como uma afronta à sua autoridade e, a partir de então, não parou de alimentar e insuflar ódio contra a figura do Conselheiro. Só aguardava o momento de dar o bote e colocar as mãos no líder de Canudos.

E esse momento chegou. Foi em 1896. Conselheiro havia negociado em Juazeiro a compra de certa quantidade de madeira a ser utilizada no arremate de uma nova igreja. Comprado e pago, o material não foi entregue no prazo acordado. Frente à demora, os moradores de Canudos decidem ir, eles mesmos, até a cidade san-franciscana, a fim de apanhar a importante encomenda.

Sabendo disso, e achando a ocasião propícia para acertar contas com o Conselheiro, Arlindo Leone, àquela altura lotado na comarca de Juazeiro, manda um ofício ao governador informando do suposto saque, e ao mesmo tempo, solicitando providências. O governador atende o magistrado e despacha para o sertão uma tropa de cem policiais, que acaba destroçada pelos canudenses, no célebre combate do Uauá. Tinha início a guerra de Canudos. E essa história, todos a conhecem. O ódio das elites tradicionais, somado ao ódio de um juiz de direito, porta-voz dessas mesmas elites, transformava o sertão num mar de sangue e ceifava a vida de milhares de brasileiros.

Pois bem. É óbvio que a história não se repete. Mas pelo menos num particular ela tem sua continuidade. E este particular é a forma desprezível, odiosa e violenta com que as elites tradicionais trataram e continuam tratando os pobres desse país.

Porta-voz, capacho e serviçal dos interesses da burguesia brasileira e norte-americana, Sergio Moro – mutatis mutandis – reproduz Arlindo Leone.

Tudo começa quando ele, Sergio Moro, surfando na onda neofascista e subvertendo o Estado Democrático de Direito, prende sem provas o líder político mais importante da história, apenas para impedi-lo de participar de um processo eleitoral em que se mostrava favorito.

E, assim fazendo, abre margem para a eleição de um projeto perverso de poder, cujo mote é a negação de tudo que se construiu até agora no campo dos direitos sociais, como temos notado numa série de “reformas” e medidas ultimamente adotadas por esse governo.

Mas não só: sem quaisquer escrúpulos, e como que a completar a trama mesquinha, Moro ainda integrará o governo que ele mesmo, de forma arbitrária, ilegal e corrupta, ajudou a eleger.

Completada a obra perversa que se maquinou no mundo sombrio da Lava Jato, em conluio com os promotores estelionatários de Curitiba, Moro mudou de posto, mas não mudou de lado. Junto com Bolsonaro, e junto com o que há de pior no mundo da política, dos negócios e da justiça, o ex-juiz continua fazendo o que sempre fez: bajulando o “império”, disseminando ódio e perseguindo os pobres.

Sim, Moro está fazendo o que sempre fez e mais um pouco: junto com Bolsonaro e demais membros do atual governo, está destruindo o Brasil e o conceito do Brasil, aqui e lá fora.

Arlindo Leone e Sergio Moro são elos da mesma corrente que, por séculos sucessivos, sujeitou os pobres e os atrelou aos caprichos das elites escravocratas, opressoras e parasitárias...

ARTIGO - A JUSTIÇA TARDA, MAS NÃO FALHA (o Caso Dreyfus, Lula e a “Vaza Jato”)

Os recentes acontecimentos revelam que a prisão do ex-presidente Lula já se insere no índice dos grandes erros da história, podendo mesmo equiparar-se a episódios clássicos da trama judicial, como o "Caso Dreyfus", denunciado por Émile Zola, no célebre manifesto "J'Accuse".

Foi assim: no final do século XIX, um oficial do exército francês, de nome Alfred Dreyfus, foi acusado, julgado e condenado à prisão perpétua pelo crime de alta traição. Banido do exército, foi humilhado e degradado em praça pública. Algum tempo depois, descobriu-se que tudo não passava de uma farsa. Dreyfus, na verdade, havia sido vítima de perseguição, por conta da sua condição de judeu. Acabou inocentado e reabilitado. A exemplo de Zola, também Ruy Barbosa tomou parte na questão, redigindo um longo manifesto em defesa do oficial.

Algo similar tem ocorrido no Brasil dos nossos dias. Vítima do ódio de classe e do jogo político desonesto, um ex-presidente da república – o estadista brasileiro mais bem avaliado da história – é alvo de um processo injusto, arbitrário e desumano.

As circunstâncias em que surgiu tal processo, e agora as revelações da “Vaza Jato”, não deixam dúvidas quanto à farsa que se lavrou com a finalidade de justificar o encarceramento de Lula.

No papel de porta-vozes da extrema-direita, Sérgio Moro e seus asseclas trabalharam política e ideologicamente para tirar o ex-presidente do páreo, e assim, com mais facilidade, angariarem o poder. 

Como não dispunham de votos, os neofascistas, de forma vil, valeram-se da força do arbítrio para minar e tirar do caminho o concorrente que, naquele momento, mais chance tinha de vencer as eleições. E que, não por coincidência, era (e é) o mais odiado pela elite parasitária do país. 

Não deu outra. A fraude venceu o Direito e alçou ao topo do poder o que existe de pior e de mais imundo na política brasileira. E o resultado está aí: um projeto de poder sedimentado na incompetência, no ódio, no ressentimento, no autoritarismo, no obscurantismo, no desprezo aos pobres, no ataque à soberania nacional, na agressão ao meio ambiente, na destruição de conquistas sociais. 

A justiça tarda, mas não falha. Quando se desfizer por completo a farsa que desde o início se forjou, o ex-presidente Lula se imporá maior do que nunca, enquanto Moro, Dallagnol, Bolsonaro, et caterva sucumbirão no lixo da insignificância, engrossando o rol dos indivíduos mais infames da história...

O RÁDIO DO MEU PAI (Crônica)

Em nossa casa o rádio era quase que um membro da família. E tínhamos para com ele uma relação quase que de amor. Longe de ser apenas um aparelho receptor de ondas magnéticas, um item do mobiliário, ou coisa equivalente, o rádio era o símbolo do encanto, da poesia, do arrebatamento. O rádio nos falou da vida. Nos aproximou do mundo. Nos instigou a sonhar. 

(Mais do que uma caixa de som, o rádio era uma caixa de sonhos)...

Artigo - A cama de Procusto e a reforma da previdência

Na mitologia grega, Procusto era um perigoso salteador que costumava atrair viajantes para sua residência. Chegando ali, as vítimas eram deitadas numa cama de ferro, e depois que adormeciam tinham seus corpos moldados e ajustados de acordo com o tamanho do leito. Se fossem maiores, eram cortados a machado; se fossem menores, eram estirados com cordas até atingir a medida exata da cama.

É assim que têm avançado as políticas econômicas do pós-golpe. O que elas pretendem nada mais é do que moldar ou adequar as condições do povo às exigências do Estado (e do Mercado), quando deveria ser o oposto: eles é que têm de adequar-se às necessidades e bem-estar dos cidadãos e cidadãs – razão última de toda e qualquer política...