“Todo mundo canta sua terra/Eu também vou cantar a minha/Modéstia à parte seu moço/Minha terra é uma belezinha.” Assim diz a primeira estrofe do belíssimo baião composto por João do Vale e interpretado, entre outros, por Alcione e Aldair Soares.
Cantar (e decantar) a terra de origem é um desejo próprio do ser humano, em qualquer tempo ou cultura. A Odisseia, o Antigo Testamento, Os Lusíadas, a obra de Jorge Amado, as telas de Tarsila do Amaral, a música de Luiz Gonzaga, os cordéis de Leandro Gomes de Barros, tudo isso outra coisa não faz senão cumprir esse desejo que é inato a cada homem e mulher, que é o desejo de cantar, enaltecer, honrar seu torrão natal.
Cantar a terra de origem é “delimitar” território, é fundar raízes, é firmar identidade; é estabelecer relação de pertencimento com o espaço e com a memória; é construção poética e ato político da maior grandeza.
Continua a letra do lendário músico maranhense:
“Quando estava fazendo esse baião/Que quase me esqueço de dizer/Que essa terra é tão linda é o Maranhão.”
Na obra que aqui se descortina, a terra cantada (e decantada) obviamente não é o Maranhão de João do Vale, mas a Sento-Sé de Laurenço Aguiar – este militante das causas sociais, e agora militante das letras.
Sim, a terra aqui cantada (e decantada) é a Sento-Sé dos ribeirinhos, tantas vezes morta e tantas vezes ressuscitada. Morta pelas águas e morta pelo desgoverno. Mas ao mesmo tempo ressuscitada pelo sonho e pelo canto da sua gente, canto e sonho que transformam tragédia em utopia, como se deduz dos versos de Sá & Guarabira:
“O sertão vai virar mar/Dá no coração
o medo que algum dia/O mar também vire sertão.”
O canto de Laurenço Aguiar é canto doce e amargo. É canto alegre que canta a flor da caatinga, mas também é canto triste que canta a dor da terra e sua gente.
Como todo canto que se canta, seu canto é a expressão da alegria, da dor, da indignação. Seu canto não é só um canto: é um grito rebelde que desconcerta, empolga e revoluciona.
É esta a tônica do livro “Sento-Sé – terra expressiva”, lançado recentemente pelo nosso companheiro Laurenço Aguiar.
O livro, resultado de acurada (e apurada) pesquisa, visita e revisita a história e as histórias da cidade baiana de Sento-Sé, expondo suas mazelas, seus vícios e suas virtudes.
A obra chama a atenção também para os valores e potenciais que distinguem e caracterizam esta cidade san-franciscana, fazendo dela um celeiro de inumeráveis oportunidades.
José Gonçalves do Nascimento
Escritor
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