Em finais dos anos 1950, uma menina baiana de 12 anos, cabeluda, se insinuando cada vez mais na arte de tocar violão e exercitando uma voz que era admirada por quem a ouvia teve a chance de sua vida, iria conhecer João Gilberto, tão baiano quanto ela. Um cronista social amigo da família iria se encontrar com o pai da bossa nova. Ela pediu, implorou – e a mãe deixou ela ir ao encontro. Ao vê-la, João disse: “Você é Gracinha, a menina que todo mundo em Salvador diz que canta bem?”, perguntou o cantor definitivo de Chega de Saudade. A menina assentiu. Ele perguntou se ela tinha violão. Quando disse que sim, ele mandou apanhar.
Uma hora João disse: “Gracinha, cante Mangueira (Exaltação à Mangueira). Qual é o seu tom?”. Ela disse: “Lá”. Ele deu o tom e ela começou a cantar. João não falou nada. Para a menina de 12 anos, ele tinha odiado. “Cante outra, Gracinha”, determinou João. Ela cantou Tom Jobim e outras músicas que João Gilberto havia gravado. O cantor não dizia nada, só mandava a menina continuar a cantar. Uma hora ele parou e disse, do alto da certeza de seu ouvido absoluto: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil”. “Eu era uma menina, nunca tinha saído da Bahia. Já imaginou o que foi isso?”, revelou, em 2019, Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gracinha, que se tornou – se é que alguém ainda não sabe – Gal Costa, a cantora a quem qualquer adjetivo ou superlativo sempre parecerão insuficientes...