A cidade que o cantor e compositor Adoniran Barbosa (1910-1982) expôs em seus antológicos sambas – como Saudosa Maloca, Iracema e Trem das Onze – tem semelhanças com a São Paulo atual, principalmente no que se refere a questões sociais e urbanas, como a desigualdade, a especulação imobiliária e a moradia precária.
Foi o que afirmou o cineasta Pedro Serrano, diretor do documentário Adoniran – Meu Nome é João Rubinato, atualmente em cartaz na capital paulista, em entrevista no programa Via Sampa, da Rádio USP (93,7 MHz). “Tudo o que ele cantou segue muito atual”, disse Serrano. “São temas muito relevantes para a nossa sociedade de hoje.”
Além de mostrar a realidade paulistana presente na música de Adoniran, o documentário dirigido por Pedro Serrano destaca as outras faces do autor de Trem das Onze, que atuou no rádio, na televisão e no cinema. Para isso, o cineasta pesquisou o acervo pessoal do compositor, arquivos de emissoras de rádio e televisão e ainda o material cinematográfico preservado das extintas companhias Vera Cruz e Maristela. O filme traz também cenas raras de Adoniran, em que ele aparece fazendo artesanato. “Ele tinha uma habilidade manual incrível”, informa Serrano.
Sobre o hábito de falar errado, típico do compositor, Serrano disse que essa característica foi criada para personagens de rádio interpretados por Adoniran, que acabou sendo transportada para a sua música e incorporada na sua vida pessoal. “É aquela simbiose entre artista e obra, em que já não existem tantas fronteiras”, destacou o cineasta, lembrando que esse tipo de linguagem era uma expressão do “caldeirão social” que constituía São Paulo em meados do século passado, observado atentamente por Adoniran nas ruas da cidade. “Se quisesse, Adoniran sabia falar certo, mas, como ele dizia, ‘o certo é falar errado, mas tem que saber falar errado'”, disse o cineasta. “Segundo ele, tem um jeito certo de falar errado.”
Pedro Serrano, diretor do documentário “Adoniran – Meu Nome é João Rubinato”, falou sobre o filme na Rádio USP
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