Com mais tempo para ler e refletir sobre o que leu, os leitores encarcerados dentro de suas casas, no home office, pela crise sanitária provocada pela Covid-19, estão se dando conta de que as nossas reportagens empobreceram em informações. Não podemos botar a culpa na conta do coronavírus. Seria como dar um tiro no mensageiro. O vírus só mostrou os problemas. E um deles é a carência de fontes de bastidor. Para quem não é do ramo. Bastidor é aquela conversa que o repórter tem ao pé do ouvido com uma fonte para saber porque as coisas aconteceram da maneira que aconteceram, e não de outra. É enorme a lista de motivos para o desaparecimento da fonte de bastidores. Vou citar o que considero o mais importante.
A demissão em massa de jornalistas das redações. Hoje os jornais operam com número reduzido de repórteres, que realizam uma enorme carga de tarefas, produzindo textos, fotos, vídeos e áudios. E recebendo um dos salários mais baixos da história da categoria. E por uma dessas ironias da vida, a crise sanitária ressuscitou a importância da imprensa profissional para os seus leitores. A imprensa está se saindo muito bem no hard news – notícia dura. Mas estamos deixando muito a desejar na análise dos conteúdos publicados devido à carência de informações de bastidor. Por quê? O Brasil se perfila entre um número muito pequeno de países onde o chefe do governo é negacionista em relação aos males da Covid-19. Ou seja: temos uma crise sanitária misturada com uma confusão política por conta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Explicar toda essa confusão para o leitor não é uma tarefa fácil...