No centro da praça – a praça ampla e desnuda – ficava o grande tamarindeiro, à sombra do qual, desde épocas imemoráveis, eran realizadas as feiras livres semanais.
Ouvi dos mais antigos, dentre eles o velho João Grande, um chegado meu de primeira ordem, que tais feiras eram sempre disputadíssimas, a elas acorrendo levas inteiras de homens e mulheres, todos provenientes do grande sertão, que ali se vendia de um tudo, ou, melhor, um pouco de tudo, que era bom por demais ver aquele mundaréu de gente arreunida, uns comprando outros vendendo, uns comendo outros bebendo, uns jogando outros paquerando, gente de tudo que era classe e ofício, como roceiros, vaqueiros, pedreiros, oleiros, carpinas, parteiras, costureiras, lavadeiras, benzedeiras, malabaristas, capoeiristas, retratistas, jogadores, boêmios, agiotas, arruaceiros, vagabundos, meganhas, mulheres da vida, o prefeito, o delegado, o promotor, o juiz de paz, o juiz de direito, a freira, o padre, o coroinha, o sacristão, o pastor, que lá pras tantas, quando os feirantes iam-se embora, os mendigos, que então já eram tantos, acercavam-se do local e entre eles dividiam os refugos que, misturados com os gravetos, ali eram encontrados, que na semana seguinte era a mesma agitação, o povo correndo pra cidade, a cidade embalada pela feira, a feira que era o maior dos acontecimentos, maior até mesmo do que a eleição do prefeito, e que assim foi por muitas e muitas décadas, uma geração após a outra, até o dia em que tudo aquilo, melhor, até o dia em que quase tudo aquilo haveria de sucumbir para sempre...