Se eu tivesse de tecer um paralelo entre música e literatura, ousaria dizer que os caminhos de uma e de outra são, de certa forma, um tanto diversos (para não dizer inversos).
Com efeito, enquanto a literatura espera que alguns poucos de vez em quando a ela se deem, a música se dá a todos o tempo todo. E como o ouvido não tem pálpebra, seu fluxo é livre e inevitável.
Ora, ouve-se música na rua, no rádio, na televisão, na igreja, no boteco. Até no ambiente de trabalho é possível ouvir música.
O mesmo não acontece com a literatura, ela que – discreta e silenciosa – tem a triste sorte de habitar a frieza das estantes, à mercê da boa vontade de um ou outro leitor generoso.
Ocorre que, diversamente da música, que é feita de som, melodia e decibéis, a literatura é feita de silêncio, sussurro e exclamação.
Isso não quer dizer que a literatura seja superior à música, nem a música superior à literatura.
Aliás, na arte nada é superior a nada, pois tudo é superior em tudo.
O que há é que cada uma tem um jeito próprio de ser, de se mostrar e de ressignificar o mundo.
José Gonçalves do Nascimento
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