“Eu assisti o renascimento do semiárido. Vi famílias saírem da miséria para a glória, vi pessoas sem nenhuma expectativa de vida adquirirem dignidade humana depois que participaram do processo de implementação das cisternas de consumo e produção”. A declaração é do padre Neivaldo Oliveira, que, há 20 anos, trabalha na Cáritas Diocesana de Amargosa, organização parceira da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado(SJDHDS), que atua na implementação de estruturas hídricas de consumo e produção no semiárido baiano.
Sob a ótica da defesa dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável solidário e com uma mística ecumênica, desde 2012, a Cáritas Diocesana já implementou 1.718 cisternas de consumo, nos municípios de Brejões, Irajuba, Milagres, Iaçu e Itatim, beneficiando um número igual de famílias. “Não é apenas a construção dessas estruturas hídricas”, ressalta o padre, “estamos falando de um processo de libertação, que eleva a autoestima e promove a cidadania, a autonomia de um povo que sempre viveu à margem das políticas públicas de acesso à água”, comemora.
Segundo o secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado, Geraldo Reis, “o acesso à água foi fundamental para que, de 2004 a 2013, a Bahia reduzisse de 12,6% para 6,6% o percentual de domicílios em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, mais de um milhão de domicílios saíram da situação de insegurança para a segurança alimentar nesse período”. Ações semelhantes são realizadas por outras 36 entidades executoras, que, em parceria com a secretaria e o governo federal, já construíram 15.830 cisternas de placas para a captação e armazenamento de água da chuva. A metodologia é baseada no aprendizado, onde o envolvimento das famílias é parte essencial para a sustentabilidade do projeto.
Para a superintendente de Inclusão e Segurança Alimentar da SJDHDS, Rose Pondé, as cisternas de consumo são tecnologias importantes porque “além da inclusão social, elas facilitam o acesso à água de boa qualidade para consumo humano, contribuem para o combate da mortalidade infantil e a redução de doenças”. Com capacidade de armazenar até 16 mil litros de água, as cisternas de placas suprem a necessidade de consumo de uma família de cinco pessoas por um período de estiagem de oito meses.
Autonomia
A implantação das estruturas hídricas para captação de água de chuva para produção, por meio do projeto “Mais Água”, iniciado em 2012, também trouxe para a população do semiárido a garantia da segurança alimentar e nutricional, a autonomia das famílias, por meio da geração de renda, além de viabilizar as condições para a convivência com o semiárido. Foram implementadas 7.042 cisternas de produção, 7.435 barreiros trincheira familiares, 525 barreiros trincheira comunitários, 48 tanques de pedra, 61 barragens subterrâneas e 1.278 limpezas de aguadas realizadas, que beneficiaram 21 mil famílias em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar, em 135 municípios do semiárido.
A experiência da Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal (Fatres) ilustra bem esse resultado positivo. Com atuação no Território do Sisal, a entidade já implementou 1.106 estruturas hídricas, entre eles, barreiros trincheira familiares, cisternas de enxurrada, barreiros comunitários, tanque de pedra e 100 quintais produtivos, nos municípios de Monte Santo, Queimadas, Cansanção, Itiúba e Nordestina.
A iniciativa, segundo o presidente da Fatres, Urbano de Carvalho, “garantiu a segurança alimentar e nutricional e geração de renda para 1.106 famílias”. Gente como a agricultora Maria Clemente dos Santos, moradora da Fazenda Tapera, em Monte Santo, que comemora os resultados alcançados, graças à cisterna de produção. “Antes de ter a minha cisterna, não conto as vezes que perdi toda a safra em períodos de estiagem. Vendia 60 porções de hortaliças a cada feira, agora estou vendendo 200 porções entre cebolinha, alface, coentro e salsa, sem falar em outros produtos”.
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