Provavelmente, as duas palavras-chave do discurso consumista sejam oportunismo e ansiedade. De um lado, o vendedor assegura a importância e a qualidade do produto. A seu turno, o consumidor se justifica, perante si e os concidadãos de bem, recorrendo a afirmações que exprimem urgência: “os exemplares vão acabar!”; “são os últimos dias de oferta!”; “o produto está com superdesconto!” e congêneres. Embora seja presa fácil das gôndolas, vitrines, anúncios em revistas ou jornais, além do self-marketing de “conteudistas” espalhados nas redes sociais, o consumista se considera um ser poderoso, bom e pensante.
Certo de sua relevância para a micro e a macroeconomia (“estou ajudando o comércio local”; “com isso, colaboro com a economia do país”), com frequência ele adquire produtos sem lembrar que metade do prazer em carregar sacolas consiste em ostentar os objetos à vista do maior auditório possível. Em parte, isso explica a altivez de quem marcha ao ritmo nem lento, nem frenético, sobre o piso de granito, cercado de vitrines perfumadas, a portar insígnias de bom-gosto que comprovam seu poder aquisitivo...