É preciso olhar para o abismo, com a consciência de que viemos de dentro dele.
Juazeiro é, sem dúvidas, a meca cultural do grande Vale do São Francisco, labirinto de infindáveis vertentes, se destaca principalmente na música, e aí os nomes são muitos, não vou citá-los, já que o papo aqui é outro, é mais para além, ou dentro, é literatura, e aí temos mais nomes ainda, um caldeirão de letras espalhadas por todos os cantos da terrinha.
Faz-se literatura em Piranga, em casa de Manollo, cordéis esvoaçam no varal alegre de Demis Santana, sob o sol ardente do João XXIII, enquanto brotam os sonhos e versos de Manuca Almeida em seu quintal de poeta. Uma Ruthe Maciel nasce em um novo sopro no seu moinho de poesia, John, o tempo, andou mexendo com a gente sim. Juazeiro, um porto pequeno para um Lupeu andarilho, espelho idílico onde Pinzóh vai muito além do seu mesmo outro. E são tantos, escritores e poetas e apaixonados pela palavra, que não caberiam aqui sem as devidas referências.
E contando assim, de alma lúdica, parece, que tudo gira qual fosse um carrossel de maravilhas, e não, não é, existe de fato uma movimentação literária, farta e acessível. O que foge à vista em Juazeiro são os leitores, e aí temos a abundância da falta. Falta o incentivo da rede pública de ensino, desde as salas fundamentais até as faculdades que formam profissionais, que formarão famílias, formarão leitores? Falta ao cidadão comum juazeirense (e brasileiro...) o hábito da leitura, falta o culto ao livro, a literatura enquanto arte, formadora do quociente racional humano, falta, mas é o fim?
Não creio, há ainda muitas luzes a brilhar nos pontilhões, pequenas centelhas agregando outras por entre os postes de uma ponte que talvez nos leve para além do sonho e da vaidade.
João Gilberto Guimarães Sobrinho
Texto originalmente publicado na primeira edição da revista "A Barca" lançada em setembro de 2017.
Ilustração de Parlim
5 comentários
09 de Feb / 2018 às 12h47
Parabéns aos nossos poetas, corajosos e perseverantes artistas da palavra encantada, chamada POESIA. O povo de Juazeiro é maior que seus representantes e vaqueiros de almas "sufragiadas"!!!
09 de Feb / 2018 às 13h44
Juazeiro isala cultura, infelizmente o poder publico não enxerga isso. Na música, nas artes visuais, na dança, na teledramaturgia, nos palcos teatrais, nos versos e prosas, nos cordéis, na poesia e porque não dizer também nos esportes (esporte é arte), e em varias modalidades Juazeiro se desta. Só falta os empresários e o poder publico fazerem sua parte, apoiando e patrocinando nossos artistas.
09 de Feb / 2018 às 15h43
Enquanto não melhorar o nível cultural dos candidatos, e a maioria dos eleitores elegendo políticos semi-analfabetos para cargos de comando administrativo nos municípios, dificilmente a cultura no bom sentido da palavra, se alavancará, porque os eleitos não se interessarão por esse assunto. Basta verificar o nível da maioria dos Secretários Municipais de Educação e Cultura, nomeados. A não ser a cultura sertaneja da vaquejada, onde predomina o boi, o cavalo, o vaqueiro, a cachaça, o analfabetismo e a poeira.
09 de Feb / 2018 às 16h33
Os citados no texto, são realmente as Flores do Mandacaru. Diferentemente de umas M... que se dizem professores, compositores e outros ORES.
09 de Feb / 2018 às 16h35
Finalmente alguém colocou aquele professor aloprado no lugar dele, ou seja, em lugar nenhum kkkkkkk