É preciso olhar para o abismo, com a consciência de que viemos de dentro dele.
Juazeiro é, sem dúvidas, a meca cultural do grande Vale do São Francisco, labirinto de infindáveis vertentes, se destaca principalmente na música, e aí os nomes são muitos, não vou citá-los, já que o papo aqui é outro, é mais para além, ou dentro, é literatura, e aí temos mais nomes ainda, um caldeirão de letras espalhadas por todos os cantos da terrinha.
Faz-se literatura em Piranga, em casa de Manollo, cordéis esvoaçam no varal alegre de Demis Santana, sob o sol ardente do João XXIII, enquanto brotam os sonhos e versos de Manuca Almeida em seu quintal de poeta. Uma Ruthe Maciel nasce em um novo sopro no seu moinho de poesia, John, o tempo, andou mexendo com a gente sim. Juazeiro, um porto pequeno para um Lupeu andarilho, espelho idílico onde Pinzóh vai muito além do seu mesmo outro. E são tantos, escritores e poetas e apaixonados pela palavra, que não caberiam aqui sem as devidas referências.
E contando assim, de alma lúdica, parece, que tudo gira qual fosse um carrossel de maravilhas, e não, não é, existe de fato uma movimentação literária, farta e acessível. O que foge à vista em Juazeiro são os leitores, e aí temos a abundância da falta. Falta o incentivo da rede pública de ensino, desde as salas fundamentais até as faculdades que formam profissionais, que formarão famílias, formarão leitores? Falta ao cidadão comum juazeirense (e brasileiro...) o hábito da leitura, falta o culto ao livro, a literatura enquanto arte, formadora do quociente racional humano, falta, mas é o fim?
Não creio, há ainda muitas luzes a brilhar nos pontilhões, pequenas centelhas agregando outras por entre os postes de uma ponte que talvez nos leve para além do sonho e da vaidade.
João Gilberto Guimarães Sobrinho
Texto originalmente publicado na primeira edição da revista "A Barca" lançada em setembro de 2017.
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