O orçamento para aquisição de terras caiu de R$ 930 milhões em 2011 para R$ 2,4 milhões neste ano. Com a verba discricionária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), aconteceu o mesmo: de R$ 1,9 bilhão em 2011 para R$ 500 milhões em 2020.
“Esse é um processo de desmonte da reforma agrária e ocupação de terras pelos agricultores”, afirma Ademir de Luca, técnico superior do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, especialista em agricultura familiar.
Luca conta que o número de assentamentos aumentou no governo de Fernando Henrique e atingiu o máximo durante o governo Luiz Inácio, quando, entre 2007 e 2008, 138 mil pessoas foram assentadas. O número começa a cair durante o mandato de Dilma Rousseff. No governo de Jair Bolsonaro, menos de 2 mil famílias foram assentadas.
O pesquisador critica a transformação da reforma agrária em titulação. Ele explica que o governo passa a dar o título da terra para o agricultor que já está assentado. “O governo está tirando sua obrigação de acompanhar o assentado e dar condições a ele”, afirma o professor.
Luca lembra que a reforma agrária está prevista na Constituição e é uma obrigação do Estado. Nela, além de fornecer a terra, o governo precisa criar uma infraestrutura de produção, educação e saúde, por exemplo, “para que o agricultor consiga se ocupar daquilo que é a função de ele estar lá: produzir”. “Quando você não dá essas condições, você não está fazendo reforma agrária, está fazendo uma repartição de terras”, avalia.
A terceirização das titulações também é questionada pelo pesquisador. Ele afirma que o Incra, de maneira centralizada, deveria identificar as terras improdutivas e fazer sua desapropriação, “mas o governo faz corpo mole”. Com a terceirização, o que ocorre, segundo ele, é a prestação de uma assistência técnica precária que não segue os interesses e determinações previstos na Constituição.
Luca também explica que a Constituição prevê que a terra, no Brasil, deve ter uma função social. A reforma agrária é feita nos casos em que essas terras não atendem a esse uso e são improdutivas. O pesquisador conta que existem processos de ocupação que estão há mais de 30 anos sem resolução.
Jornal da USP
1 comentário
23 de May / 2022 às 14h52
Srs leitores. Não era nem para estarmos falando mais, nessa tal reforma agrária, há muitos anos, se falavam, que achavamos que defendia, por 16 anos no poder, pelo jeito, nada fez, agora, com eleição se aproximando, vem a mesma ladainha. Trabalhar que é bom, pouquíssimos querem. Me deixem viu