Por Luiz Antonio Costa de Santana
Há um nítido dilema ético no vídeo em que o (novo) ministro da saúde, Nelson Teich, afirma que em caso de escolha entre salvar a vida de um idoso e de um jovem, este é prioritário.
Vale dizer, o idoso seria o que os romanos denominavam de Homo sapiens sapiens sacer, na medida em que a idade seria, indistintamente, um traço negativo. Isso porque, nas precisas palavras de GIORGIO AGABEN (Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 182):
“(...) nós não somos apenas, nas palavras de Foucault, animais em cuja política está em questão suas vidas de seres viventes, mas também, inversamente, cidadãos em cujo corpo natural está em questão a sua própria política”.
Num Estado de Direito que se diz fundado, entre outros, nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, é de ver-se que o pronunciamento do ministro é inoportuno, revelando um discurso fundado em um suposto benefício social que a expectativa de vida do jovem representa, o que seria vedado também pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003.
Por esse motivo, o Conselho Federal de Medicina editou, em 2016, a Resolução 2.156 que estabelece critérios para admissão em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s), partindo de pacientes com elevada probabilidade de recuperação como o mais elevado grau de prioridade. Especificamente no art. 9º a Resolução prevê que a decisão médica no tocante ao acesso à UTI deve ocorrer, sem qualquer preconceito, isto é,
“sem discriminação por questões de religião, etnia, sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social, opinião política, deficiência, ou quaisquer outras formas de discriminação”.
Defender uma visão reducionista da vida, como fez Nelson Teich, viola uma concepção metodológica de análise do problema, pois, conforme leciona FRITJOF CAPRA (A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 23):
“Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes.
Na mudança do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico, a relação entre a parte e o todo foi invertida.
(...)
A ciência sistêmica mostra que os sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio da análise. As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior. (...)”
Luiz Antonio Costa de Santana é advogado e professor da UNEB e UNIVASF, e-mail [email protected]
5 comentários
22 de Apr / 2020 às 23h32
Já vem esse homem de Novo no ano da eleição começar esses comentários. Não sou Bolsonarista, mais querer ser procurador de novo. Santa paciência.
23 de Apr / 2020 às 04h43
Nobre advogado , professor , e ex-aluno , o seu texto tecnicamente é perfeito , porem peca somente no tocante á citação de uma declaração de um vídeo "Editado" pela esquerda na tentativa de desqualificar um profissional que sequer havia dois meses que assumira a pasta da saúde. O vídeo a que o eminente professor de Univasf se refere foi feito em março de 2019 quando da participação do hoje ministro Nelson Tech em um seminário de oncologia onde ele expões ate´que ponto se chegou no colapso da suade no Brasil . È preciso assistir na integra pra poder formalizar juízo de valor .
23 de Apr / 2020 às 07h26
Repilo com toda a minha força esta visão preconceituosa com o idoso, um desrespeito com quem já contribuiu com a sociedade, e no momento que suas forças diminui e sua contribuição também, o Estado lhe virar as costas privilegiando os mais jovens, pondo a produção adiante da vida e da dignidade humana.
23 de Apr / 2020 às 09h17
Nobre causídico, o senhor assistiu o vídeo de um secretário de saúde do Rio de Janeiro no qual ele dizia que entre uma pessoa que defende o isolamento vertical e outra que que não, o primeiro teria prioridades independente de idade? Que esse direito seria confirmado através do perfil do Facebook da pessoa? Não deve ter assistido. Além disso, em casos de emergência, até onde sei, primeiro as crianças e mulheres e depois os idosos, não é mesmo? Para terminar, o vídeo do ministro foi retalhado pela imprensa marrom desmamada.
24 de Apr / 2020 às 18h18
Kkkk. Ano de eleição para procurador? O vídeo não teve edição. O foco do texto é o direito do idoso.