Pais de Beatriz repudiam declarações feitas pelo advogado do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. “Ele é um irresponsável”, afirmam

Os pais da menina Beatriz Angélica Mota, Lúcia Mota e Sandro Romilton Ferreira, concederam entrevista ao Blog Geraldo José na tarde desta quinta-feira (31). Os pais afirmaram que ficaram surpresos com as declarações feitas pelo advogado que representa o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, Clailson Ribeiro. Em entrevista ao Blog, o advogado teceu duras críticas à forma como a polícia está investigando o caso, ressaltando ainda que as informações foram divulgadas de forma genérica e que em nada vão contribuir para a elucidação do caso. Para a mãe de Beatriz o advogado agiu de forma irresponsável e que a instituição colocou as testemunhas e os funcionários demitidos em risco.

Nós participamos das investigações. Nós estamos lá de segunda a segunda e vemos quem está trabalhando e quem não está. O governo do Estado de Pernambuco enviou a Polícia de Inteligência e os melhores peritos do país para os casos de homicídio. Nós sentimos que a polícia de Pernambuco está trabalhando. Antes eu não entendia porque estava em sigilo, mas fomos nos informar e ficou claro que era para preservar a integridade física das pessoas, das testemunhas. Aí vem um advogado criticar o trabalho da polícia. Como ele pode repudiar o trabalho de um profissional? Isso fica claro para nós o interesse da escola. Se ele repudiou o trabalho da polícia e pede que o inquérito seja aberto, na minha opinião, ele é um irresponsável. Ele está intimidando possíveis testemunhas”, declarou Lúcia.

Participação de Funcionários no crime

O delegado responsável pelo caso, Marceone Ferreira, revelou em coletiva que cinco funcionários do colégio são suspeitos de participarem do assassinato da menina Beatriz Angélica Mota.  O pai da criança disse que a família recebeu a informação com muito espanto.

“De repente nós somos pegos de surpresa e vemos que tudo se encaixa. Por que a escola não participava das manifestações? Por que a escola não ia a luta? Foi um pedido meu, em certo momento, que a escola fosse fechada para se preservar a cena do crime. Nós tínhamos a expectativa de que era alguém que entrou lá e fez um mal muito grande. Nosso pensamento era que a pessoa tinha feito para atingir a escola e que Bia foi a vítima circunstancial. Agora, você ver a participação dessas pessoas nos deixa muito mais chocados, preocupados, ficamos estarrecidos com a quantidade de pessoas envolvidas”, disse Sandro.

Sumiço das Chaves

O delegado Marceone Ferreira apontou o sumiço de três chaves que dariam acesso a portões localizados no triângulo da cena do crime. O advogado Clailson explicou que o sumiço das chaves apenas foi um extravio que acontece regularmente. Para o pai, Sandro Romilton, que trabalhou há mais de dez anos na escola, “perder uma chave de uso constante é comum. Agora perder estrategicamente três chaves que abriam e fechavam portas fundamentais que dariam fuga... Por que perderam logo as chaves que davam acesso aquela parte? A escola só especulava um executor do crime”.

Falta de contribuição da escola nas investigações

Os pais de Beatriz reafirmaram que Colégio Nossa Senhora Auxiliadora não tem contribuído com a elucidação do caso.

Na segunda-feira passada tivemos uma reunião com a Irmã Júlia e com a diretora geral do grupo Salesiana, a Irmã Paula, que veio de Roma nos prestar solidariedade. Não chegamos a conversar diretamente sobre o caso. Meu pedido foi que nós nos justássemos e caminhássemos com um único objetivo que era a verdade. Vamos pedir a integridade das pessoas para que apareça o autor e os envolvidos. Mas depois da declaração do advogado foi uma decepção enorme para nós. Nós repudiamos todas as declarações dele por que foi tudo de encontro o que nós conversamos. O que nós pedimos, o advogado fez tudo ao contrário. Quem colocou os funcionários em risco foi ele e a própria instituição. Todos os manifestos foram pacíficos. Eu quero fazer um apelo à população que não leve em conta o que ele falou", frisou Lúcia.

Comportamentos estranhos no dia do crime

Os pais de Beatriz, em entrevista, disseram que no dia do crime vários fatos estranhos foram notados por eles no ambiente escolar, inclusive a falta de iluminação na área que leva ao depósito onde a criança foi encontrada morta. Outro fato que chamou a atenção dos pais foi a proibição das crianças brincarem no parque naquele dia, além de perceberam que alguns funcionários não estavam nos devidos postos de trabalho.

Eu me lembro quando meu sobrinho me disse que o parque estava fechado. Nós sabemos que na escola só tinha família, nós participamos de várias festas e afirmo que elas sempre foram bem organizadas. Nesse dia, depois que nós fomos analisar, nós percebemos várias diferenças e comunicamos ao delegado”, pontuou Lúcia.

Decisão da Polícia Civil de não se pronunciar sobre o caso até a sua conclusão

A polícia civil de Pernambuco anunciou nesta quinta-feira (31) que não irá se pronunciar sobre o Caso Beatriz até a prisão de suspeitos ou a conclusão do caso. Para a mãe de Beatriz, a atitude é correta, tendo em vista a preservação das testemunhas. “Nós concordamos. Tem que garantir a integridade física das pessoas e o sigilo. Isso é muito importante. Só dessa forma as pessoas vão ter coragem de procurar a polícia. Essas pessoas sabem que a polícia já sabem dela e que, com certeza, os assassinos também. Elas tem que procurar o delegado por que elas podem ser as próximas vítimas”.

Apelo

Os pais de Beatriz fizeram um apelo a todas as pessoas que estavam no dia da festa para enviarem fotos, vídeos pela página do Facebook “Somos Todos Beatriz”. A mãe da menina também fez um alerta para as testemunhas que estão no anonimato para que procurem a delegacia para prestarem depoimento.

Continuem nos enviando fotos, vídeos da festa. Não recebemos nem 40% de material das pessoas que estavam no dia. A polícia está trabalhando. Contribuam na nossa página. As testemunhas que estão no anonimato, quero pedir que não façam isso. Vocês estão sendo alvo fáceis desses assassinos. Procurem o delegado, deem o seu depoimento. A polícia sabe quem são vocês. Se a polícia sabe, os assassinos também já sabem. Se não fizerem isso por Beatriz, façam por vocês, para preservar a vida de vocês. Foi um crime planejado, não foi uma tragédia”, disse Lúcia.

De acordo com os pais de Beatriz outras manifestações e novas cobranças serão feitas a fim de que se chegue o mais rápido ao desfecho do caso.

Da redação Alinne Torres/ Fotos Italo Duarte