Álcool e direção: as consequências por trás de um pequeno gole de bebida

A morte de uma adolescente de 17 anos, durante um racha, coloca luz a uma discussão propagada pela sociedade.

A frase: "álcool e direção não combinam", não serviu para o entendimento de Rafael Alves de Oliveira, 33. Embriagado, o vendedor conduzia o carro em que a menor Letícia Maria Barroso Camargo estava. 

A uma velocidade de quase 140km/h, ele colidiu o veículo contra um caminhão de lixo, deixou uma garota morta e outras seis feridas. Para além das ações de conscientização, evitar fatalidades e crimes como esses dependem de medidas severas, como a intensificação nos pontos de bloqueio e a punição perante a lei, avaliam os especialistas.

Engana-se quem acha que uma pequena quantidade de álcool não será capaz de atrapalhar a capacidade cerebral de uma pessoa. Mesmo que o consumo seja na menor porcentagem possível, não há um limite seguro. É ingerir e ter a funções visuais e a coordenação motora comprometidas, seja no trânsito ou em qualquer outra atividade.

Malthus Galvão, médico e ex-diretor do Instituto de Medicina Legal (IML), explica sobre como o álcool afeta o funcionamento do corpo, mesmo quando ingerido em pouca quantidade. O especialista, que também é professor da Universidade de Brasília (UnB), cita como exemplo um experimento feito por ele há alguns anos. Três cobaias participaram do teste e foram submetidas às mesmas provas: embriaguez, bafômetro e direção. Lúcidos, o trio foi aprovado.

Depois, os participantes foram desafiados a tomar uísque. "Meia hora depois, eles foram reprovados em todos os testes. Na direção, atropelaram cones e saíram com freio de mão puxado. O que mais me impressionou foi a forma em como eles estavam confiantes em si mesmos. Para eles, tomar um pouco da bebida não resultaria em nada", afirmou.

O médico explica que o álcool gera efeito paradoxal, diminui a capacidade motora, a atenção, a visão e pode gerar a sensação de que a pessoa está muito bem. "As pessoas alcoolizadas perdem a percepção de que estão bem. Se analisarmos a velocidade de respostas, de ver, olhar, ou, por exemplo, interpretar uma criança na pista, até que ela resolva parar o carro, freie, perdeu um segundo. O motorista sob efeito de álcool, o tempo de reação fica muito aumentado", analisa.

Na avaliação do professor, os locais da blitz deveriam ser divulgados publicamente, pois, segundo ele, o ideal não é que a pessoa seja flagrada bêbada ao volante, mas que evite dirigir ao consumir álcool.

Correio Braziliense Foto PCDF