Mesmo após CPI, bolsonaristas fazem ofensiva contra vacina da covid

Mesmo após a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que concluiu pelo descaso do governo anterior na pandemia, ao pedir o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive por crime contra a humanidade, e ainda sua derrota eleitoral em 2022, atribuída em parte à política sanitária não adotada no combate ao coronavírus, os bolsonaristas insistem numa ofensiva contra a eficácia da vacina contra a covid-19.

Quatro parlamentares do PL, partido do ex-presidente, querem convocar a ministra da Saúde, Nísia Trindade, para que ela explique a inclusão de doses da vacina contra a covid-19 no Plano Nacional de Imunizações (PNI), a partir de 2024. E também que esclareça ter sido dada prioridade a crianças de seis meses a menores de 5 anos e também outros grupos com maior risco de desenvolver a doença, como idosos, gestantes, imunocomprometidos e trabalhadores de saúde, entre outros segmentos.

Deputados bolsonaristas querem votar a convocação da ministra ainda na tarde desta segunda. Entre os autores do pedido está Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente. Os quatro argumentam na sua justificativa que não há comprovação do efeito da vacina para crianças.

"A vacina contra a covid-19 ainda é muito recente e por isso há muitas dúvidas sobre os seus efeitos, especialmente em crianças. Neste sentido, acredita-se que é extremamente prudente esperar por mais dados antes de tornar a vacinação obrigatória. Além disso, os últimos números comprovam que a covid-19 geralmente afeta crianças de forma menos severa do que adultos, com uma taxa de mortalidade significativamente mais baixa em comparação com grupos etários mais avançados", justifica Eduardo Bolsonaro.

A tentativa de convocar Nísia Trindade será feita na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, presidida por Bia Kicis (PL-DF), ela mesmo uma das autoras de um dos requerimentos.

"Querem desacreditar a vacina"- A base do governo reage à tentativa da oposição. O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP), que preside a Frente Parlamentar em Defesa da Vacina, está mobilizando o governo para barrar essa convocação da ministra e acusa o filho de Bolsonaro de capitanear a nova campanha contra a vacina.

"Mais uma vez, assim como ocorreu durante a pandemia, o negacionismo ameaça levar à morte para milhares de brasileiros. Parlamentares ligados ao ex-presidente da República organizam-se para desacreditar as vacinas contra a covid-19. Argumentam que esse fato retira a liberdade das famílias brasileiras e, mais uma vez, falam em mutações e outros negacionismos que visam confundir a população brasileira. É lamentável", disse Malafaia.

"Este setor atrasou a vacinação o quanto pôde, a desacreditou no passado, sendo responsáveis diretos pela não vacinação de milhares de irmãos brasileiros que perderam suas vidas sem ter a oportunidade de receber uma dose de vacina", completou o pedetista.

Correio Braziliense Foto Agencia Brasil