Compositor de clássicos baianos, Adailton Poesia critica pagodão: "Ficamos reféns dessas músicas"

Compositor de sucessos como “Deusa do Amor” e “O Mais Belo dos Belos”, que se tornaram um marco do Carnaval e da música baiana, Adailton Poesia lamentou a letra das canções de visibilidade em Salvador.

Em entrevista ao Bahia Notícias, o artista celebrou a iniciativa da prefeitura em promover a visibilidade de blocos afro, com o “Novembro Salvador Capital Afro”. O cantor acredita que é necessário um projeto de introdução das músicas afro nas periferias. 

“Esse projeto de blocos afro e afoxé é muito importante para que a gente traga a musicalidade, a cultura musical, percussão, veste, beleza e também uma autoestima para o povo das comunidades que não conhecem o mundo afro aqui fora. Então, seria muito bom que esse movimento invadisse as comunidades para a gente livrar o nosso o nosso jovem desses estilos de música que estão sendo injetados na cabeça do nosso povo. A gente precisa levar música afro para as comunidades periféricas de Salvador”, afirmou. 

Responsável pelo “A voz dos Tambores”, projeto percussivo do bairro de Pirajá, que realiza aulas de percussão com jovens, Adailton diz que faz sua parte na colaboração dessa propagação.  

“Agora temos um programa no Instagram, que só toca música de blocos afros e afoxés que vai ao ar toda quarta ou quinta-feira às 19h. É bom que a gente divulgue porque hoje não temos um canal de TV nem de rádio que toque a música de blocos afros e afoxés.”

Para Adailton esses espaços ainda não contemplados para as músicas afro, faz com que a população fique refém de músicas que “diminuem a imagem das mulheres”.

“Ficamos reféns dessas músicas só faz denegrir a imagem das mulheres e a gente fica órfão de uma cultura, de uma música que, como a minha música, a de Walter Faria, já serviu como tese de mestrado e doutorado, então a gente sente falta desse texto, então a gente precisa trazer de volta essa música verdadeira, que conta a história do povo de África e do povo afrodescendente, porque as músicas de bloco afro são músicas verdadeiras que jamais serão passageiras”, declarou o compositor.

Adailton ainda comparou o pagodão baiano com outros estilos musicais e lamentou a ausência de músicas afro e afoxé nos concursos de músicas do Carnaval de Salvador.

“A gente vê o sertanejo falando da sofrência, mas não agride. Fala da sofrência, da traição, mas não agride tanto a mulher. E onde a gente vê essa música degenerando a imagem da mulher é aqui em Salvador, e você fica triste porque tem tantas músicas boas de blocos afros desfilando no carnaval e não conseguem chegar nem em terceiro lugar na melhor música do carnaval”, comentou Adailton.

Apenas cinco músicas de blocos afro, ou com letras sobre a cultura afro, ganharam prêmios no Carnaval de Salvador. Foram elas: Requebra - Olodum (1994); Araketu é bom demais - Araketu (1995); Margarida Perfumada - Timbalada (1996); Latinha - Timbalada (1998); e Maimbê Dandá - Daniela Mercury (2004). 

A canção “O Mais Belo dos Belos”, de Adailton, além de ser um hino do bloco Ilê Ayê, foi tema da novela “Segundo Sol”, da TV Globo. O compositor acredita que mais artistas poderiam ocupar esses espaços, mas que até mesmo “os próprios blocos afro e afoxés não se empenham”. 

“Eu acho que nem o próprio bloco afro hoje tem o empenho de resgatar essa musicalidade tão histórica que foi 15 anos para trás. Os festivais de música de blocos afro começam a partir da inscrição da letra e da melodia. Se você não tem uma comissão que entenda de música para fazer a peneira, a música que passa é a que faz mais barulho”, analisou.

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