Artigo - Sobre o Atlântico, dia 14/06/2023 às 03:00 da manhã

Verificando o moving map, detecto o óbvio, estamos sobrevoando algum lugar do oceano atlântico rumo a Amsterdã.  

Mas a questão é…  acabei de assistir Mulher Rei e sei que não conseguirei dormir tão cedo. 

Nunca um filme me impactou tanto!  

Sei que ultimamente ando inexplicavelmente a flor da pele…  

Mas como pude adiar tanto assisti-lo!!! 

Essa obra não é simplesmente sobre a opressão de uma raça, ou batalhas entre tribos rivais ou apenas sobre o inimaginável empoderamento feminino nos idos de 1800 num certo reino da África! 

Fala sobre nós como civilização, das nossas dores mais profundas, dessa força estranha e inexplicável chamada ancestralidade 

Fala sobre um senso de clã e pertencimento, e tudo que somos capazes de cometer pelos nossos, sem remorso ou arrependimento, como uma punção que vai além de nossos conceitos judaico-cristãos implantados no nosso DNA geração a geração… 

Faz-se presente ali um Brasil, (inclusive mencionado), com todo o carma coletivo de sofrimento e desigualdade que precisamos expurgar e curar. 

Mas também vê-se a uma Bahia, com toda sua espiritualidade mais primitiva e tão mal compreendida, suas cores, musicalidade, dança, lutas acrobáticas, impossível não remetermos à capoeira, até o dendê! 

Corpos guerreiros brilhantes, de mulheres e homens com igual valor. 

Valor de guerreiros em África,  valor de carga em América e Europa! 

Faz-nos pensar sobre os dilemas femininos: Ser esposa/coadjuvante, guerreira solitária ou ousar e permitir-se guerreira grande e aberta para o amor… 

Chorei do começo ao fim, como se fizesse parte daquela história numa vida passada, ou quem sabe seja apenas a compreensão dolorosa para além de todas essas questões… 

Esse filme deveria ser matéria obrigatória nas escolas do Brasil! 

Melissa Lopes 

Mulher, Juazeirense, Arquiteta