Meio Ambiente: Novo centro vai promover o desenvolvimento da agricultura sustentável nos biomas brasileiros

Recém-criado pela USP, o Centro de Agricultura Tropical Sustentável (Sustainable Tropical Agriculture Center – STAC), coordenado pelo professor Durval Dourado Neto, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, tem como proposta promover atividades científicas interdisciplinares e transdisciplinares para o desenvolvimento da agricultura sustentável nos biomas brasileiros. Ele é um dos quatro novos centros criados na Universidade – os outros são Centro de Estudos Amazônia Sustentável, Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical e Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão.

O centro pretende desenvolver o diagnóstico e prognóstico, com enfoque em segurança alimentar e alimento seguro, na participação do Brasil na produção e consumo de alimentos no mundo, e na proposição de soluções estratégicas de políticas públicas e projetos articulados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas.

“A agricultura tropical é uma das grandes invenções brasileiras, cuja dimensão e importância para o mundo não têm paralelo em outras regiões tropicais”, diz o professor, complementando que o Brasil tem superado muitas regiões temperadas do mundo. “Cada vez mais, a produção de alimentos, fibras e bioenergia da agricultura tropical brasileira se torna mais sustentável, em função do desenvolvimento de novos genótipos e sistemas de produção que otimizam o uso dos recursos naturais, tais como dióxido de carbono, temperatura, radiação fotossinteticamente ativa, insolação, água e nutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel e zinco”, explica.

Assim como os demais centros, o STAC será composto por Comitê Gestor, um Conselho e cinco Diretorias (Pesquisa e Desenvolvimento, Educação, Inovação e Empreendedorismo, Comunicação, e Cooperação Internacional). Segundo o professor, “as perspectivas são de desenvolver projetos de interesse da agricultura nacional, no intuito de consolidar a liderança da Universidade de São Paulo no setor agropecuário”. Para ele, tais projetos serão norteados por estudos referentes à síntese do conhecimento dos principais temas que impactam a agricultura brasileira, baseados na sustentabilidade, com a proposição de sistemas de produção sustentáveis contemplando a inclusão social e tecnológica do pequeno e médio produtor rural, bem como a comunicação com a sociedade.

Como enumera o coordenador, o centro vai formar recursos humanos; estruturar e executar projetos nas áreas de Pesquisa e Desenvolvimento, Educação, Inovação e Empreendedorismo, Comunicação e Cooperação Internacional em temas correlatos à promoção da agricultura tropical sustentável com base científica sólida; e promover a troca de informações entre as unidades da USP e instituições parceiras (instituições públicas e privadas no Brasil e no exterior), trazendo subsídios para a tomada de decisão de formuladores de políticas públicas; além de realizar uma síntese do conhecimento para caracterizar o estado da arte de diferentes tecnologias necessárias ao desenvolvimento da agricultura tropical sustentável, e prestar serviços para o desenvolvimento da agricultura tropical sustentável, com foco no bem-estar da sociedade e na saúde do meio ambiente.

As linhas de pesquisa do STAC ainda serão definidas com as lideranças de pesquisa da USP, incluindo, principalmente, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o Centro de Energia Nuclear na Agricultura, a Escola Politécnica e o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, como enumera o coordenador, citando ainda os parceiros da USP no Brasil, como o Instituto Agronômico de Campinas, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Lavras (Ufla) e, especialmente, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Botucatu; e no exterior, entre elas, a Wageningen University and Research, University of California – Davis, Cornell University e a China Agricultural University.

Sobre a integração, o professor diz que “os pesquisadores externos à USP, sejam do Brasil ou do exterior, participarão dos projetos de pesquisa e desenvolvimento como coordenadores ou colaboradores nas diferentes linhas de atuação do STAC”. Além disso, explica, será criado um grupo de trabalho visando à estruturação do planejamento estratégico, que, posteriormente, utilizando a técnica de planejamento participativo – que contempla um número maior de pesquisadores (internos e externos à USP) -, resultará no planejamento estratégico finalizado (o White Paper), onde serão contempladas ações de curto, médio e longo prazos, respectivamente, para os próximos dois anos, dez anos e 30 anos. Segundo ele, os tipos de atividades propostas serão de projetos de pesquisa e desenvolvimento, que vão nortear políticas públicas e privadas de interesse da sociedade em geral e do setor agrícola brasileiro.

O coordenador destaca ainda o início de três projetos de desenvolvimento utilizando inteligência territorial: selo da sustentabilidade da agricultura no Brasil; caracterização da segurança alimentar no Brasil e no mundo: situação atual e perspectivas; e, por fim, a caracterização da conectividade rural no Brasil: situação atual e perspectivas. “O Centro de Agricultura Tropical Sustentável adotará uma gestão participativa, realizando esforços no intuito de haver maior integração com as iniciativas em curso nos diferentes departamentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, e sobretudo com o Ccarbon [Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical]”, conclui.

Segundo o coordenador, o grande desafio da agricultura tropical é ampliar de modo crescente o uso do conhecimento científico, geração de tecnologia e inovação visando à produção sustentável de alimentos (norteado pelos eixos: social, ambiental e econômico), contemplando as seguintes abordagens: uso racional da água, utilização de novos bioinsumos para a melhoria dos solos cultivados, uso mais intensivo da agricultura regenerativa (ou de seus princípios integrados às outras práticas de produção sustentável), uso de bioinsumos (como biofertilizantes e bioinseticidas), uso da biodiversidade no contexto dos limites dos biomas tropicais. Além disso, destaca que é preciso fazer “uso da comunicação estratégica e da advocacy em defesa da produção da agricultura tropical sustentável”.

“No cenário de crescente preocupação com o meio ambiente e a vida no planeta, ao mesmo tempo em que a produção insuficiente de alimento, em quantidade e qualidade, é uma ameaça real e próxima à humanidade, com sérias consequências para o enfrentamento da fome em todo o mundo, a segurança alimentar, o alimento seguro e a agricultura tropical caminham juntos e devem, cada vez mais, atender aos preceitos dos ODS, para garantir a continuidade da prosperidade humana”, alerta o professor. A solução, segundo ele, é a união entre a ciência e as políticas públicas. “A ciência e as políticas públicas têm respostas aos desafios postos na junção da produção de alimentos, em quantidade e qualidade, que atendem aos critérios de sustentabilidade respeitando os valores atuais dos principais atores globais.”

Jornal da USP