Médicos do Brasil têm maior diversidade, mas distribuição pelo País ainda é desigual

A sexta edição da pesquisa Demografia Médica do Brasil (DMB), elaborada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) foi lançada nesta quarta-feira, 8 de fevereiro, na sede da Associação Médica Brasileira (AMB), em São Paulo. A nova versão do estudo, realizado há 12 anos, traz novidades sobre a distribuição, oferta, formação e trabalho dos profissionais.

O número de médicos mais que dobrou em uma década, resultado da abertura de cursos e de vagas na graduação. As mulheres estão se tornando maioria na profissão, e há maior inclusão social no ensino médico, com mais alunos pretos, pardos e egressos do ensino médio público. No entanto, dados como o número de consultas médicas indicam a permanência da distribuição desigual de profissionais pelo País, concentrados nas regiões Sudeste e Sul e no setor privado. A residência médica, que forma especialistas, não acompanhou o crescimento da graduação e sofre com a falta de recursos.

“O objetivo do trabalho é atualizar e trazer dados inéditos sobre a demografia dos médicos no Brasil, ou seja, o seu número, distribuição pelo território nacional e inserção dos profissionais no sistema de saúde. Nesta nova edição, uma parceria inédita com a AMB permitiu a realização de um levantamento de quantos especialistas e quais especialidades médicas estão presentes no País”, relata ao Jornal da USP o professor Mário Scheffer, da FMUSP, que coordenou a elaboração do estudo. “Outras novidades deste ano são um censo dos estudantes de graduação e um inquérito nacional com médicos residentes, expondo a situação da formação especializada, além de dados sobre renda declarada e produção de consultas médicas no País”, diz. A nova edição da DMB, com 346 páginas, que inclui um atlas mostrando a distribuição dos profissionais e das 55 especialidades médicas existentes no Brasil, em todos os Estados e no Distrito Federal, pode ser consultada aqui.

A produção do estudo usou informações de diversas bases de dados, obtidas em entidades médicas, Receita Federal, Sistema Único de Saúde (SUS), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), além de informações de fontes primárias, como as entrevistas realizadas com os médicos residentes. “O sistema de saúde precisa preparar-se para o aumento do número de médicos, a pesquisa revela um crescimento rápido da oferta de profissionais, com um acréscimo de mais de 250 mil médicos nos últimos 13 anos, chegando a um total de mais de 562 mil em janeiro de 2023”, aponta o professor. “O avanço é consequência da política de abertura massiva de cursos e criação de vagas numa velocidade nunca antes vista, aumentando a necessidade de aproximação entre essa oferta, as demandas do SUS e as necessidades de saúde da população.”

De acordo com a pesquisa, o Brasil possuía em 2002 um total de 390 escolas médicas, que oferecem 42 mil vagas por ano, e mesmo que houvesse um congelamento da oferta, em 2035 o Brasil terá 1,1 milhão de médicos. “É necessário um planejamento que transforme a expansão em algo que beneficie o sistema de saúde, revendo a regulamentação dos cursos de modo a criar um equilíbrio entre a oferta de vagas e a necessidade de médicos”, afirma Scheffer. “O estudo adverte que é preciso um modelo de avaliação do ensino que garanta uma melhor qualidade da formação, pois hoje o conjunto das escolas é muito heterogêneo, considerando que foi feita uma opção pela abertura de cursos privados, que hoje representam 77% das vagas disponíveis.”

Jornal da USP Foto fotomontagem