Madrasta das crianças agredidas por pai presta depoimento e afirma que marido agiu por desespero

Acorda Cidade | Foto: Aldo Matos
Acorda Cidade / Foto: Aldo Matos

A madrasta das duas crianças agredidas em uma praia na cidade de Salvador, no último domingo (1º), prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (4), no Complexo de Delegacias do bairro Sobradinho, em Feira de Santana.

Ao portal Acorda Cidade (clique aqui), ela contou o que houve antes das agressões.

“No momento eu estava sentada junto com ele na barraca, e as meninas foram tomar banho. Ele ainda mandou a mais velha tomar conta da menor, porque elas já tinham pedido a ele para ir na água. Com uns 30 minutos depois, uma das meninas voltou e perguntou onde estava a outra e ele questionou: ‘Ela não estava com você?’ Foi aí que eu entreguei essa menor de 3 meses [filha do casal] pra ele e fui procurar também. Com cerca de 30 a 40 minutos, nós encontramos ela com um casal, estava chorando muito e trouxe as duas de mãos dadas para a barraca”, disse.

Ainda de acordo com a madrasta, as agressões foram motivadas por desespero.

“No momento, eu pedi que ele não fizesse aquilo, mas ele estava tão agoniado achando que a menina estivesse morta na praia e depois ele ficou com medo do pessoal matar ele. Todas duas moram com a gente, uma já mora há uns 4 meses e a outra, a mãe nos entregou vai completar 3 meses”, explicou.

Segundo a madrasta, o pai das crianças não é agressivo dentro de casa.

“Ele é um ótimo pai, um ótimo marido, ele agiu daquela forma por conta da raiva, tanto que ele falou que se arrependeu do que fez no momento”, relatou.

O advogado Daniel Vitor que está acompanhando o caso informou à reportagem do Acorda Cidade que os próximos passos, a partir de agora, será aguardar a escuta especializada feita com as crianças.

“Nós vamos aguardar agora a escuta das menores, que foi realizada no dia de hoje e que chegaram até a delegacia de Feira de Santana. Depois, provavelmente, a delegada encaminhe os autos para delegacia de Salvador, onde aconteceram os fatos. A família me procurou, eu fui constituído ontem, depois da apresentação espontânea por parte do pai, nós conversamos bastante e ele demonstrou o total arrependimento. Tratou-se de um pai ali no momento de desespero, em um momento que imaginou ter perdido uma das filhas, teve aquela reação, mas trata-se de um pai extremamente cuidadoso, trata-se de um pai que cuida dos seus filhos. A esposa dele esteve aqui no dia de hoje para poder relatar estes fatos”, explicou.

A delegada titular da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI) e que também responde pela Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra Crianças (Dercca), Danielle Matias, confirmou a mesma versão de depoimento que a madrasta contou à equipe do Acorda Cidade sobre a conduta do pai das crianças dentro de casa.

“Ela alegou que realmente estava presente no momento, que inclusive, segundo ela, tentou intervir mas que o rapaz estava bastante nervoso e veio a agredir as filhas, pois, segundo ela, ele estava com medo de uma das meninas ter se afogado no mar e, segundo ela também, o rapaz é um bom pai, sempre foi um bom pai, um bom marido, uma ótima pessoa e não seria esse bicho nas palavras que ela própria falou. Agora a gente está esperando o relatório da escuta especializada das crianças para poder estar encaminhando os procedimentos para Salvador”, informou.

De acordo com a delegada, a Polícia Civil também está no aguardo dos laudos periciais para confirmar se as crianças já vinham sofrendo outras agressões.

“Não é o fato dele ser um bom pai, um bom marido, que vai apagar o que ele fez. Ele vai responder pelo fato de ter agredido as filhas daquela forma. Estamos buscando apurar se existe essa violência no interior da residência, e segundo ela, nunca ocorreu, então a gente agora vai aguardar os laudos das meninas até para ver se tem lesões recentes, se tem alguma lesão que possa ser anterior”, destacou.

Segundo a delegada, além da madrasta, que foi testemunha do ato, a Polícia Civil está em busca de vizinhos para confirmar se existe histórico de agressões contra as filhas na residência.

“Estamos tentando intimar outras testemunhas, que possam estar dizendo sobre essa dinâmica familiar. No entanto, até o momento, não tem ninguém em vista para poder vir aqui na Delegacia para poder falar. Quando acontece esse tipo de situação, que tem essa repercussão como está tendo este caso, a gente percebe uma dificuldade muito grande de achar testemunhas que não estavam envolvidas no fato em si, no caso vizinhos que se recusam a falar, mas a equipe ainda está nessas tentativas”, concluiu.

Segundo Danielle Matias, as duas crianças estão residindo com a mãe, e o pai não poderá se aproximar das menores até que haja uma decisão judicial.

Acorda Cidade | Foto: Aldo Matos