Legista George Sanguinetti diz que Marcelo da Silva não matou Beatriz: É uma fantasia apresentada pela Polícia de Pernambuco

Em entrevista a Rádio Jornal Petrolina, o legista George Sanguinetti argumenta que o homem (Marcelo da Silva), apresentado pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco não foi o autor do homicídio de Beatriz e "falta provas dentro dos postulados criminalistícos, além das provas técnicas". Nesta sexta-feira (14), o programa Super Manhã com Waldiney Passos entrevistou por telefone o legista George Sanguinetti.

“É fraca a argumentação, a história apresentada é uma fantasia”, disse Sanguinetti ressaltando que 'é solidário a coração de mãe, e o coração de mãe sabe que esta história não tem justificativa correta e essa resposta não traz justiça para o Caso Beatriz".

Sanguinetti fez vários questionamentos. “Como ele, o suposto assassino vai exatamente naquele setor abandonado [do Colégio]. Não foi um trabalho solitário, alguém observava, alguém vigiava. Não me convenço desse pedinte, desse homem, que assusta uma menina de 7 anos, que vai constatar que ele está armado com uma faca e é vitimada por conta disso. Faltam muitos elementos para ter veracidade“.

"Estão querendo encerrar o Caso Beatriz. Logo agora que o Caso seria Federalizado e teria condições de obter as respostas precisas", ressaltou.

Em 2018, com exclusividade para a REDEGN, o médico legista George Sanguinetti escreveu um texto refletindo os dois anos e um mês da ausência de provas com relação ao crime da menina Beatriz. A solicitação do texto foi feita pela redação do Blog Geraldo José e este é exclusivo.

Sanguinetti acusava já naquela época "o comando da Segurança Pública de Pernambuco pelas entrevistas coletivas conflitantes, substituição de delegados e nada de concreto surgiu em tanto tempo". A menita Beatriz foi assassinada no dia 10 de dezembro 2015, com 42 facadas, durante uma festa no Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina. Até o momento ninguém foi preso.

A revista Carta Capital definiu Sanguinetti numa vida proporcional à compulsão pela polêmica, a ponto de muitas vezes a sua contratação ser confundida com táticas diversionistas de advogados de defesa. Desde o controverso laudo sobre a morte de PC Farias, em 1996, é personagem em casos rumorosos. Todavia, de um ponto ninguém duvida: é Sanguinetti um dos mais experientes médicos legistas da atualidade.

Confiram texto na íntegra:

"O corpo foi encontrado em sala do Colégio tradicional católico de Petrolina; local isolado da festa de confraternização por Formatura. Inúmeros golpes de faca, vestes embebidas em sangue. Na área não coberta do corpo, cortes, ferimentos, com predomínio da ação cortante, nos membros superiores, região cervical (pescoço), membros inferiores. Na face manchas sanguíneas coaguladas não permitem descrever as áreas atingidas. Os golpes desferidos foram aleatórios, sem metodologia ou ordenamento, o que inviabiliza a hipótese de utilização de ritual de magia negra.

A violência dos ferimentos, ódio ou insanidade. Uma criança atacada com tamanha sanha assassina. Por que? Por quem? E em espaço de tempo tão curto.

A menor Beatriz estava com os familiares, em determinado momento dirige-se ao bebedouro; já não mais é vista. Conduzida para o local onde seria sacrificada por alguém que conhecia bem as dependências do Colégio e que contou com ajuda de cúmplice para vigiar quanto a possibilidade da aproximação de pessoas. Quase duas mil pessoas no local. Pais, professores , alunos, convidados; a solenidade seguindo seu curso.  Quem poderia imaginar que ocorreria tamanha selvageria com uma menor. Por que? Por quem?

Notando que Beatriz não regressou, os pais iniciam uma busca frenética. Chamam, chamam, mas não há resposta. Até o corpo ser encontrado. Pessoas presentes, que faziam parte da busca ou atraídos pela movimentação anormal, entram no local do crime. Fotografam utilizando i-fone, celular, caminham, superpõem pegadas, como foi antes da chegada da Perícia, tornou o local “ não preservado, inidôneo ou violado”. 

Sempre há um prejuízo. Recebi  doze fotografias, tiradas antes da chegada da Perícia. Analisei, ampliei, utilizei técnicas de fotografias forenses e passei a acompanhar o caso, inclusive por ser crime hediondo, me ofereci a Polícia de Petrolina para ajudar, sem custos, nem mesmo de passagens, hospedagem, etc. Não fui aceito. Tentei via Ministério Público, não logrei  êxito. Com as fotografias do corpo no local, observei manchas de sangue por escorrimento, manchas por contato e manchas por impregnação. Também uma pegada, que pelo local ter sido violado, a esclarecer se de uma das pessoas que adentraram a sala, ou do executor.

Pensei se não desejam ajuda é porque estão desvendando o crime. Começaram entrevistas coletivas conflitantes, substituição de delegados; nada de concreto surgiu em tanto tempo.

Para dar uma satisfação, atribui-se a autoria a uma imagem de vídeo, divulgada quase dois anos após, de pessoa que estaria frente ao Colégio e que também foi vista no interior, durante a confraternização. Sem prova técnica, nexo de causalidade, arma do crime, indícios que coloque alguém no local da morte onde houve o homicídio, não há realidade jurídica.

Lamento, mas a investigação encontra-se sem rumo. Insisti que retorne ao início, que verifique os vestígios do local, que me permita acesso a parte técnica, aos laudos periciais, como o necroscópico, o levantamento de local. Darei respostas e como o caso está sob sigilo de Justiça, não irei divulgar juízo de valor, sobre o que foi feito ou deixou de ser feito. Aplicarei meus conhecimentos para evitar a impunidade. Eu represento, pelo tempo decorrido, a única possibilidade de esclarecimento. É desabafo ao que poderia ter sido feito".

Redação redeGN com informações Rádio Jornal