Brasil não faz quantidade suficiente de testes para Covid e fica atrás no ranking mundial

A testagem em massa é essencial para identificar rapidamente os infectados e evitar a transmissão do coronavírus. O Brasil não faz a quantidade suficiente de exames e está bem atrás no ranking mundial.

Muita gente fecha os olhos na hora do cotonete, mas os resultados dos exames de PCR são cruciais para que cada país enxergue e controle a pandemia. Não é à toa que, em março do ano passado, o diretor-geral da OMS recitou o mantra necessário: “Testar, testar e testar”.

Mas os números mostram que o Brasil tem feito menos que os outros para ver melhor a realidade da Covid. A plataforma "Nosso Mundo em Dados", ligada à Universidade de Oxford, mostra que 77 países do mundo testam mais do que nós.

Os cinco que mais aumentaram a testagem desde o começo da pandemia são Dinamarca, Luxemburgo, Estados Unidos, Israel e Portugal, mas na frente do Brasil estão ainda países como Bolívia, Peru, Argentina e Equador.

“São cerca de 200 países no mundo, o Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia, em termos de mortes, em termos de casos, e todas as medidas que poderiam facilitar o nosso enfrentamento na pandemia, testagem, vacinação, o Brasil está muito mal colocado nesses rankings internacionais”, ressaltou Pedro Hallal, epidemiologista da UFPel.

Pedro Hallal chama a atenção para o baixo número de testes em relação à população brasileira. Enquanto Chile e Austrália fazem mais de 700 testes por mil habitantes, Brasil faz apenas 149 testes em cada grupo de mil pessoas.

Nos Estados Unidos, a relação é de mais de 1,3 mil testes por mil pessoas, ou seja, tem gente testada mais de uma vez. Para controlar a segunda onda por lá, 2,3 milhões testes chegaram a ser feitos por dia.

Abrir a janela da testagem e enxergar mesmo os contaminados com poucos ou nenhum sintoma é, segundo os especialistas, uma das formas de reduzir a transmissão e evitar novas ondas da doença. Condições de testar mais, segundo eles, o Brasil tem.

Materiais para exames não faltam mais, segundo o pesquisador Renato Santana, da Universidade Federal de Minas Gerais. Lá, desde o mês passado, já foram feitos mais de 1,5 mil exames de um tipo novo de PCR capaz de identificar também novas variantes.

“O que realmente se precisa fazer é aumentar o acesso desses testes a toda população e permitir que não apenas indivíduos doentes ou hospitalizados tenham acessos a esses testes, mas todas as pessoas que também tenham tido um possível contato com o Sars-CoV2 que causa Covid-19”, disse Renato Santana.
Essa foi a estratégia de Portugal para brecar a transmissão. Além da vacinação, fez testagem em massa. Foram mais de 1,2 mil testes por mil habitantes, oferecidos para casos suspeitos e seus contatos.

O Brasil não chegou a 32 milhões de testes distribuídos para os estados. O gráfico do Ministério da Saúde mostra que, além da quantidade insuficiente, a distribuição dos testes é irregular e caiu bastante. Foram pouco mais de 6,4 milhões em maio de 2020, e em abril deste ano não chegou a 1,6 milhão.

“A gente precisa parar de procurar desculpas e ouvir as recomendações da ciência. E uma das recomendações principais da ciência, desde o começo da pandemia, é testar em larga escala para interromper a transmissão do vírus”, disse Pedro Hallal.

O Ministério da Saúde afirmou que vai oferecer até 20 milhões de testes por mês.

JN