Artigo - Das ruínas do passado para o Presente chamado Estação do Saber

Por Andréa Cristiana Santos*

Passear pela cidade de Juazeiro, nos últimos anos, tem sido uma das experiências mais enriquecedoras para quem mora e ama esta cidade. Digo isso, como uma juazeirense que não enxerga a cidade enclausurada em um carro, sem pisar o chão da terra que me acolheu há 15 anos, mas pedalando de bike, por entre ruas, avenidas.

Neste domingo, visitei o mais novo presente que Juazeiro recebeu: a Estação do Saber. Da velha ruína abandonada, surge um lugar de cultura, arte, educação e vida.

A Estação se junta as obras de valor cultural inestimável, como os casarões da antiga Companhia de Navegação do Rio São Francisco, que se tornaram na Vila Bossa Nova, a revitalização da nova orla, com o Parque Fluvial, esculturas e o inevitavel sentimento de pertencer a esta cidade. Pertencer é se reconhecer não no passado idílico, mas nas possibilidades infinitas de inovar, empreender e dar novos significados ao presente em que vivemos. É, também, reflexo das decisões políticas da atual gestão que, acertadamente, olhou para as velhas ruínas da cidade e resolveu devolver ao cidadão juazeirense o sentido de se reconectar com o seu passado. E isto deve ser reconhecido com ato político, de cultura, educação e cidadania.

A revitalização de prédios antigos deve permanecer e se fortalecer como uma política patrimonial. Algo em desuso nesta cidade há quase 70 anos, desde a última grande reforma de modernização do espaço urbano, quando infelizmente demoliram a antiga Estação Ferroviária para ceder lugar a ponte Presidente Dutra e o antigo Mercado, situado na orla. De lá para cá, o juazeirense parece que fechou os olhos para a sua cidade e passou a se mirar no espelho platinado, de prédios verticais. Costumo dizer que o juazeirense ressoa os versos da canção de Caetano Veloso: “Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto, É que Narciso acha feio o que não é espelho.”

Pois bem, Narciso se orgulharia de saber que Juazeiro conseguiu trilhar um caminho de reencontro com a sua história e memória, pois é imprescindível manter vivo o testemunho cultural no cotidiano da cidade, no qual devemos fazer uso dos espaços, nos apropriar e nos identificar.

Que estas obras recentes, como a Estação do Saber, a orla com sua recente reconstrução harmônica com o Rio e a paisagem urbana, o vaporzinho, o Centro de Artes e Esportes Unificados, no bairro Tabuleiro, que abriga o belíssimo teatro Welligton MonteClaro, no recente Festival Edésio Santos, sejam considerados um presente para quem mora nesta cidade e se orgulha de construí-la diariamente. Admiremos estas obras pelos traços arquitetônicos ainda remanescentes do passado, suas intervenções modernas e suas novas funcionalidades. Orgulhemos que sejam espaços educativos, turísticos ou empresariais. Tomemos estas obras como “herdeiros” desta cidade, um legado para gerações.

Não se apequenem, não desejem ser Narciso que mira-se apenas no espelho d’água da vontade política pequena. Juazeiro recebeu um inestimável presente, que a nova gestão municipal saiba receber a cidade com olhos de bem-aventurança: preserve, cuide, não destrua. O passado-presente agradece.

*Andréa Cristiana Santos, jornalista, Doutora em Comunicação, professora da Uneb e pesquisadora da História e Memória de Juazeiro.