Quando passar a crise, o que foi necessidade passa ser encarado como alternativa nas organizações: o trabalho em casa

De pequenas empresas a grandes corporações, um dos efeitos colaterais da pandemia do novo coronavírus foi a necessidade de adotar a atuação a distância por parte da equipe ou por todos os funcionários.

O trabalho em casa, conhecido pela expressão em inglês home office, ou o anywhere office (escritório em qualquer lugar) foram implantados compulsoriamente, mas a tendência é de que, passada a crise, o que foi necessidade possa ser encarado como alternativa nas organizações.

Essa é a opinião de profissionais que conhecem bem o ambiente, como Roberta Vasconcellos, diretora-executiva de uma startup que conecta pessoas e empresas a mais de 1 mil coworkings.

Cogita-se que o futuro das atividades corporativas será distribuído e híbrido: pessoas poderão trabalhar, ao mesmo tempo, a partir de casa, de escritórios flexíveis e coworkings – espaços compartilhados, que oferecem redução de custos com estrutura física para empresas, localização estratégica e ambientes criativos. 

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia apontado que 3,8 milhões de pessoas trabalhavam dentro de casa em 2018 – maior contingente verificado desde o início da série histórica, em 2012, tendo como influência a alta do trabalho informal e a reforma trabalhista, que regulamentou o trabalho na residência. De acordo com o IBGE, o home office correspondia a 5,2% do total de pessoas ocupadas no país, excluídos da conta os empregados no setor público e os trabalhadores domésticos. 

Importante destacar que esse movimento também está relacionado com o avanço da economia digital. Para além das empresas de tecnologia da informação, o país conta hoje com mais de 13 mil startups (empresas de base tecnológica com venda escalável de seus produtos ou serviços) em 618 cidades, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Registra ainda cerca de 1,4 mil coworkings. 

É nesse ambiente que cresce a startup BeerOrCoffee, criada em Belo Horizonte em 2017. A empresa já nasceu com o time – hoje com cerca de 60 pessoas –100% remoto. A diretora-executiva Roberta Vasconcellos tornou-se referência sobre o tema no país e tem apoiado diferentes empresas e instituições neste momento de necessidade de distanciamento social, de redução de deslocamentos e de corte de custos. 

“Sabemos que nem todos os profissionais e negócios conseguem se tornar 100% remotos da noite para o dia. No entanto, este momento triste está nos levando a considerar novas e melhores formas de nos organizar coletivamente. O futuro das empresas será de orçamento mais enxuto e concentrado no produto ou serviço – e não na gestão de seu espaço”, afirma Roberta. 

Formada em comunicação e direito e pós-graduada em gestão de negócios, ela ingressou no mundo das startups em 2009. Foi cofundadora do Tysdo, participa ativamente da comunidade de startups San Pedro Valley e é residente do Cubo Itaú. Está na lista “30 under 30”, de trinta jovens de destaque abaixo de 30 anos, da revista Forbes Brasil. Faz parte do Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, e representou o Brasil no Young Leaders of the Americas Initiative (Ylai) – programa dos Estados Unidos para potencializar empreendimentos da América Latina e Caribe. Na entrevista a seguir, ela fala ao Estado de Minas da atual realidade do trabalho e das tendências pós-pandemia no ambiente corporativo.

"Não há como saber o que acontecerá quando esta pandemia passar, mas uma coisa é certa: o trabalho remoto nunca esteve em tanta evidência, pois muitos profissionais e empresas estão sendo obrigados a adotá-lo. Pós-quarentena, os colaboradores terão de voltar aos poucos para o ambiente de trabalho. A adoção do formato distribuído é fundamental para atender às recomendações das autoridades de saúde: reduzir o número de pessoas nos escritórios e manter o distanciamento. As empresas também terão de se preocupar em evitar que seus trabalhadores façam uso do transporte público e estejam expostos às aglomerações em vias públicas. É certo que perceberão que o modelo traz muitas vantagens para todos, como economia de recursos e mais qualidade de vida", afirma Roberta. 

Foto Reprodução NSC