Um dia quis a dor
Alojar-se em meu coração.
Ela tentou, se maquiou,
Insistiu, reagiu, e conseguiu!
A dor que parecia maior
Que o meu poema,
A dor, como um ardor,
Como verdade serena,
Sim, ela veio e se aconchegou,
E dominou os meus dias,
E cantou, sorriu, limpou-me
As lágrimas, as chagas,
Cuidou de mim,
Para sempre está ali,
Como uma confissão,
E por mais que eu acredite
Em conspiração, a dor não!
Ela é presente, onipotente,
Não me faz doente,
Pelo contrário, me faz forte,
E mesmo que me perca na vida,
E me ganhe sem medida, a morte,
Não importa se vazio eu esteja,
Ou até cheio, derramado, imerso,
Que a minha pena ou condenação,
Antes de qualquer crime seja,
A alma repleta de versos,
Como num atentado, explosão!
* Paulo Carvalho – jornalista, poeta e escritor.
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