Flávio Leandro: Poeta danado e Cantador ganha "o oco do mundo"
Quem deseja aprender a voar deve primeiro aprender a caminhar, a correr, a escalar e a dançar. Não se aprende voar voando"(Nietzsche).
Luiz Gonzaga Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos. Pela manhã, do seu chapéu, saltam galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.
A apresentação do cantor, compositor, Poeta Danado e Cantador Flávio Leandro nas terras da Europa, em especial Paris/França, lugar símbolo da cultura, me fez pensar na trajetória da música brasileira e nas palavras do professor Aderaldo Luciano, quando fazíamos o Programa de Rádio, lá nas bandas da Paraíba, sonhando em ganhar o "ouco do mundo" e enfiar goela abaixo do povo a música de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, João do Vale, Elino Juliao e Dominguinhos...
O professor paraibano, radicado no Rio de Janeiro, Aderaldo Luciano, sempre me lembrou que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus.
É Flávio Leandro atualmente um dos poucos, que reverencia o forró, o xote, o baião. Em Bodocó foi talhado de sol. Flávio Leandro nasceu do barro vermelho, com alma tatuada por xique-xiques e mandacarus. Flávio Leandro sabe do compromisso que tem com o Nordeste, os Sertões, Cariris e Brejos.
Flávio na Fé sabe divisar o Cruzeiro do Sul do Sete Estrelo e muito além disso sabe discutir e como lidar com a máquina capitalista avassaladora dominante hoje da "indústria musical".
De mala e cuia Flávio Leandro corre nos ares do mundo! Canta xote, forró valorizando o inventor do Baião, Luiz Gonzaga que um dia deixou o seu pé de serra e embrenhou-se pelos emaranhados da busca do sonho e que foi o começo de uma grande empreitada e de uma desafiadora lição de vida e vivência.
Coloco agora na vitrola o disco/lp e escuto a música "Menestrel do Sol", composta por Humberto Teixeira, homenageando Luiz Gonzaga. A essência de toda arte bela, de toda arte grandiosa, é a gratidão: Obrigado Flávio Leandro por não esquecer que antes de você muitos cantores e compositores sentiram fome (a falta de pão) preparando o caminho prá outros Voos...os voos do hoje!
"Pego a estrada sem descanso Sem parar para ver tempo e chão que percorridos gritos que eu plantei/ Menestrel do sol na vida eu só cantei juntando irmão com irmão eu esquecia de viver/
Ai quanta saudade do beijo que eu não dei as coisas que eu não tive são lembranças que eu guardei...Ai que curta vida pra quem tanto viveu os sonhos de outras vidas que ajudei com o canto meu./
Ouro e terra, e eu cantando sem me aperceber dos momentos que eram meus Não voltam mais, eu sei...Menestrel do sol caminhos que andei destino dividiu em mil destinos meu viver"!
*Ney Vital-jornalista. Pós-Graduado em Ensino de Comunicação Social. Pesquisador Música Brasileira
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