CANAIS DE JUAZEIRO: REVESTIDOS OU ABERTOS? EIS A QUESTÃO.

Por Flávio Luiz Ribeiro – Engenheiro Civil

Hoje amanheci pensando na questão que envolve os canais de juazeiro. Eu sempre achei que a solução seria o revestimento, fechando, colocando anéis ou tubos de concreto e urbanizar por cima, fazendo pista de veículos, de corridas ou ciclovias.

Talvez pela minha formação de engenheiro civil entenda que esta seria a primeira solução. Ao sair da escola de engenharia temos uma tendência a achar que o concreto é a solução para todos os problemas do Brasil, mas na medida em que o tempo vai avançando nós vamos entendendo que o concreto é a solução sim, mas apenas para alguns dos problemas, já que outros, na atual conjuntura apontam na direção de soluções necessariamente integradas com a natureza, portanto, hoje vejo a questão de uma forma mais branda, compreendendo que a melhor solução é interferir o mínimo possível na natureza, no sentido de preserva-la, porque é este o grande patrimônio que deixaremos para os nossos netos, uma natureza melhor do que aquela que recebemos dos nossos pais.

Trago como exemplo, o canal da Malhada da areia, localizado na parte posterior ao prédio da câmara municipal, no qual a prefeitura está fazendo revestimento em concreto, utilizando 3 células de concreto, de 2m de largura x 1,5m de altura, totalizando 3m2, cada célula, e como são 3 células, totalizam 9m², o que pelos nossos cálculos daria uma vazão com uma declividade mínima de em torno de 22m³s.

O São Francisco hoje está jogando cerca de 500m³, ou seja, 25 canais daquele dariam pra passar o São Francisco todo, o que pode levar um leigo  a concluir que é espaço demais pra dar vazão às águas das chuvas, o que faz um certo sentido, pois gera uma questão referente a ocorrência de chuvas fortes e contínuas, e a conclusão é que, no dia que chover com essa intensidade, os canais vão transbordar por minutos ou horas, mas depois as águas escoarão naturalmente, entretanto, isso funciona melhor quando o canal é aberto e não fechado. Por outro lado, na medida em que se faz um canal fechado, deve-se impermeabilizar o fundo por onde ele passa, não permitindo que as águas infiltrem, mas que sejam redirecionadas ao seu ciclo natural, compreendendo aí os estados líquido e gasoso (evaporação-nuvens-chuvas-evaporação), um ciclo que ninguém pode, ou pelo menos não deveria mudar.

Por outro lado, o custo de revestimento desses canais é relativamente maior, quase o dobro de um canal aberto. No caso do canal da Malhada da Areia, por exemplo, deve estar custando algo em torno de R$ 6 mil reais o metro linear, e como tem um Km de extensão, deverá custar uns R$ 6 milhões de reais, e só pra se ter uma ideia da discrepância de valores, para executar a obra de um canal aberto, esse custo seria reduzido para algo em torno de R$ 2 milhões, no máximo, com a sugestão de se fazer um revestimento de pedra argamassada ou amoldada em gabiões de arame e fundo aberto para que a água pudesse filtrar o fundo de pedra, urbanizando as bordas com árvores, fazendo duas pistas de rolamento. Isso provavelmente e custaria algo em torno de R$ 2.500 reais o metro, havendo ai uma economia em torno de R$ 3.500 reais o metro de canal, representando uma economia no total da obra, de R$ 3,5 milhões e com esse valor poder-se-ia interceptar todos os esgotos em quase 20km de canais em Juazeiro, evitando que esses esgotos venham a cair dentro dos canais que, se não tiverem uma manutenção adequada e constante, irão acumular sujeira e fedentina, com sérios prejuízos ao meio ambiente e à população.

Diga-se de passagem, que não há necessidade para que os canais tenham o atual dimensionamento, cuja largura está desproporcional e inadequada, em função dos alagamentos feitos pelas máquinas utilizadas para este fim. Um cálculo mais cuidadoso pode indicar que com 3m de largura e 2m de altura, teremos um canal com abertura suficiente para dar vazão a todo o volume de águas pluviais. No caso de ocorrência de chuvas em volume anormal, haverá um breve transbordo e alagamento, que logo se normalizará com o retorno das águas ao canal e aos outros canais a ele interligados.

Esse é um tema importante que vem sendo discutido há várias audiências públicas com a população, e diz respeito ao Plano de Saneamento Ambiental, recém aprovado pelo Município. O Plano de Saneamento Ambiental é obrigatório para todas as cidades brasileiras, e para cuja elaboração há verba específica destinada pelo Ministério das Cidades, no caso de Juazeiro, foram destinados recursos acima de R$ 700 mil reais.

Importante ressaltar que, após exaustivas discussões que se arrastaram por dezenas de audiências públicas, a população, em sua maioria decidiu que os canais deveriam ser abertos, e assim foi colocado no projeto, discutido e aprovado, com a ressalva de que, em casos excepcionais, uma comissão especial composta por técnicos (engenheiros, arquitetos, biólogos, ambientalistas, etc.), deveria apresentar razões que justificasse qualquer modificação.

Diante desse quadro que se apresenta, é incompreensível, e por extensão, inaceitável, sob todos os pontos de vistas, especialmente nos aspectos legal e ambiental, que um plano da dimensão que tem o Plano de Saneamento Ambiental, regulado pelo Ministério das Cidades, amplamente discutido com a população, votado e aprovado na Câmara e sancionado pelo governo municipal, esteja sendo executado de forma adversa.

A prudência e o bom senso recomenda aos poderes executivo e legislativo, uma revisão dos termos constantes do Plano. Ou executa as obras dos canais abertos, como consta na lei, ou suspende a execução, até que outro formato seja igualmente colocado em discussão, votado e aprovado.