Não gostaria de cufar (morrer) – na língua Iorubá - no peito, fatos verídicos do terror do sertão nordestino. Antes, porém, para os neófitos na seita animista, explico quando se diz estar de corpo fechado e corpo aberto. Fechado é mantê-lo imune a perigos a exemplo de tiro, facada, graças a amuletos e orações bem feitos; enquanto o corpo aberto, a pessoa se descuida das obrigações, ficando vulnerável ao mau olhado, olho gordo e ações violentas, como lesões corporais, acidentes de veículo, podendo perder a vida em situações adversas.
Aconselha-se, portanto, que o indivíduo ao levantar-se que faça o sinal da cruz, não se esquecendo de despachar a rua, ao sair de casa, jogando água em três direções, pronunciando as palavras: agô..! agô..! agô..! Que quer dizer licença! Assim se procedendo estará com os caminhos abertos, livres das ações do tinhoso, que anda solto pelo tempo afora com suas maldições generalizadas.
Meu querido pai – que se encontra na segunda dimensão – Narciso Dias de Andrade assistiu ao triste período sanguinário pelas caatingas do Nordeste, tendo como pivô, agente principal, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, natural de Serra Talhada, Pernambuco.
O banditismo durou quarenta anos, sendo Lampião morto em 1938, juntamente com sua mulher Maria Bonita, após o bando ser cercado na fazenda Angico, hoje, Poço Redondo, Sergipe. O terror do Nordeste era denominado de “ O Senhor do Sertão” e “ O Rei do Cangaço.”
Meu saudoso pai comandava uma Volante que perseguia o banditismo, organização macabra que escrevera uma página degradante, cruel em nossa história.
Sargento Narciso Andrade, meu genitor, casou-se com uma sertaneja natural da antiga cidade de Cumbe - (que significa cachaça) – atual Euclides da Cunha, bem próxima da cidade Canudos, a qual fora no passado, outro teatro de operações de guerra que perdurou muitos anos, graças a coragem e estratégia do líder religioso Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, natural de Quixeramobim – CE.
Como se vê, a região de Cumbe era repleta de conflitos sociais, derramamento de sangue, causando muitas baixas entre fanáticos religiosos e as forças legalistas.
O autor desta crônica, quando estudava o primário na cidade de Alagoinhas – Bahia, foi crescendo e sempre curioso, atento para saber da saga do “Rei do Cangaço.”
O tenente José Rufino ou Zé Rufino, como era mais conhecido, comandante também da Força Volante, natural da cidade de Jeremoabo, neste estado, por vezes ia a casa dos meus pais, na Rua Barão de Cotegipe, na cidade de Alagoinhas. Casos e mais casos referentes a Lampião não faltavam, e, eu botava os ouvidos em alerta; logo, era bem informado de vários episódios do cangaço nordestino.
O combatente Zé Rufino foi quem matou Cristiano da Silva Cleto, o Corisco, marido da cangaceira Sérgia Ribeiro da Silva, (Dadá), que fora alvejada com um tiro de fuzil na perna por um soldado baiano, o qual me contou no Quartel dos Aflitos, em Salvador, sobre o tiroteio, em que a cangaceira valente fora lesionada.
Após as explanações citadas, passo a revelar o segredo histórico que se verificou no curso da perseguição ao bandoleiro das terras nordestinas, que ceifou muitas vidas humanas sem dó e piedade.
Um segredo que envolve lutas e a Força da Magia dos Voduns, Força Divina, Espírito. É usada na Nação Jeje para designar os seus deuses.
O sargento Narciso - meu pai - era filho de minha avó biológica, Maria Romana Moreira – (Mãe Romaninha de Possú – Gaiaku Romaninha), sacerdotisa do Terreiro do Bogum ou Zoogodô Bogum Malê Rundó de tradição Jeje – Mahi, natural de Cchoeira – BA. Falecera com cento e quinze anos de idade, em 1956, na cidade do Salvador, estaria, hoje, com 177anos. Romaninha, na seita afro era avó do notável cantor e compositor cachoeirano Mateus Aleluia e do personagem principal do romance de minha lavra, intitulado “Por que Vigário não Casou Lolita Karoline?” (Athirson da Felicidade Pereira). Este neto, que oculto o seu nome verdadeiro, pertence hoje à Diocese de Salvador, sendo um excelente representante da Igreja Católica.
À frente da Volante, sargento Narciso Andrade, estando em um desfiladeiro – passagem estreita entre montanhas - nas estradas de Monte Santo-BA, no comando de dezenove soldados, todos montados em animal, foi quando Corisco o mirou na cabeça, com o fuzil, entretanto foi repelido por Lampião: nesse não se pode atirar! Deixando todos do bando sem saber da razão inusitada!
De outra feita, no antigo Cumbe, uma Volante sob o seu comando, pronta para se deslocar à cidade de Santo Antônio das Queimadas, na Bahia, chegava uma contraordem para substituí-lo o que lhe deixara insatisfeito, pois, não aceitava as malvadezas do terror do sertão e que preferia combatê-lo em um fogo. Concluiu, entretanto, que sua substituição de repente fora coisa sobrenatural, espiritual, graças a magia dos Voduns.
A Volante com o substituto seguiu para a cidade de Queimadas, onde houvera a chacina de sete soldados, sendo decapitados e a cabeça posta em varas, fato ocorrido na tarde de 22 de dezembro de 1929, em praça pública, defronte da delegacia de polícia, tendo sido poupado da matança o sargento Evaristo a pedido de uma moradora; mas, este, não se livrou de ser colocado no bando e obrigado a sair pelas ruas, humilhado.
Esses detalhes foram narrados pelo bandido Volta Seca, ao meu pai, quando aquele se encontrava sentenciado na Penitenciária do Engenho da Conceição, em Salvador, onde pegou 145 anos de prisão, reduzida a pena para 30, finalmente para 20 anos, havendo-lhe concedido o perdão em 1954 pelo presidente Getúlio Vargas.
Não resta a menor dúvida que o “O Rei do Cangaço” respeitava as deidades de Romaninha do Bogum com suas forças espirituais. Logo, “O Rei do Cangaço” não queria ofender o filho da sacerdotisa cachoeirana.
Talvez Lampião tinha o poder de orações e amuletos dados por (Mãe Romaninha do Passú – Gaiaku Romaninha), pois, por 40 anos manteve ser corpo fechado; entretanto, acredita-se que ele se descuidara, morrendo com a mulher, estando de corpo aberto, visto que - segundo se falou na época – havia transado com a cangaceira, estando ela no ciclo menstrual, não se preocupando em seguida com o devido asseio, tomando banho, ficando, portanto, de corpo aberto, vulnerável. Consultado o Ifá - Deus da adivinhação – no jogo dos búzios se confirmou que o bandoleiro estava sujeito a perigos, desprotegido espiritualmente. Após se manter relação sexual se faz necessário que se tenha o corpo limpo imediatamente, livrando-se das forças demoníacas e de emboscadas!
Geraldo Dias de Andrade é Cel.PM\RR – Escritor – Bel. em Direito – Membro da ABI\Seccional Norte – Cronista – Membro da Academia Juazeirense de Letras.
14 comentários
26 de Jan / 2018 às 00h21
sou filho de canudos e voce não tem nada a ver com canudos...retrogrado
26 de Jan / 2018 às 04h42
Não é a primeira condenação de Lula pela Justiça, falta a revista dizer. Por conta das greves do ABC, foi sentenciado a três anos e meio de detenção “por incitação à desordem coletiva”, em 1981. Pouco importa se o beleguim da vez já não é o delegado Sérgio Paranhos Flery, mas moro e seus três adoradores do TRF-4. O sentido é o mesmo: extirpar um símbolo da “desordem”, para que prevaleça a ordem onde só o povo perde e o Brasil se vende. Amo PT. Amo LULA. Odeio Quim Gedeu Temir MDB
26 de Jan / 2018 às 04h50
JESUS não cometeu crime mas os Fariseus queria condenar mesmo sem crime. Assim fazem com LULA hoje. mulher de Cunha e a irmã de Aesiu com milhões na Suíça delatado e provado pela justiça da Suíça dinheiro SUJO, mas MORu PSDB inocentou?? Resende Geraldo e Quim??Nojo de Fariseus
26 de Jan / 2018 às 04h54
Não é preciso dizer que em pouco tempo seriam Leonel Brizola, Tancredo Neves, Franco Montoros, os que foram à cadeia apoiar Lula os governadores dos mais importantes estados do Brasil. Nem que o próprio preso e condenado, em dias décadas, o Presidente eleito do Brasil. O caminho agora será percorrido mais rapidamente. É que o povo brasileiro já viu a face da esperança e a reconhece, não importa quantos cartazes a Veja e a mídia lhe preguem. Blog Tijolaco
26 de Jan / 2018 às 05h00
Geraldo não sou mais Otaria burra analfabeta enganada pela TV de políticos milionários Sarney Collor ACN Netu Mixel Temir sócios da TV Globosta bilionária. Agora vejo os blog na Internet Geraldo Jose e 247Brasil e o Tijolaço. Minha vida melhorou depois que desliguei a TV mentirosa
26 de Jan / 2018 às 05h10
Em sua coluna na revista Cult, a filósofa Márcia Tiburi explica por que se recusou a debater com Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL; "Ao longo da minha vida me neguei poucas vezes a participar de debates. Sempre que o fiz, foi por uma questão de coerência. Tenho o direito de não legitimar como interlocutor pessoas que agem com má fé contra a inteligência do povo brasileiro ao mesmo tempo em que exploram a ignorância, o racismo, o sexismo e outros preconceitos introjetados em parcela da população", disse. Obrigado LULA pelo Samu, escola de medicina e LUZ e Água para todos
26 de Jan / 2018 às 05h16
A omissão do juiz Sérgio Moro, confirmada pelos desembargadores do TRF-4 na condenação do ex-presidente Lula; "Moro não interroga Vaccari, nem os desembargadores sentem falta de seu depoimento para montar o quebra-cabeças. De acordo com o estabelecido no ordenamento jurídico brasileiro, quem deveria ser condenado por corrupção passiva, nesse caso, deveria ter sido Vaccari", diz Solnik; "Se Léo Pinheiro usou dinheiro de propina para fazer as reformas no tríplex quem lavou dinheiro foi ele e não Lula – que não mandou reformar, nem usufruiu das reformas, pois nunca recebeu apartamento. 247 brasil
26 de Jan / 2018 às 08h17
Chuuuupa Gondim. Seu bandido de estimação vai ser preso e disse que está com a vitalidade de um menino de 20 anos kkkkk.
26 de Jan / 2018 às 09h03
Nunca entendo direito os leitores do Blog e que comentam artigos. Se Otoniel Gondim, socialista confesso, escreve, um monte de gente o esculacham. Se Dr. Geraldo, direitista confesso, escreve, sofre a mesma coisa. Respeitem a opinião dos outros e somente passem a comentar se for com sugestões construtivas! dado o recado.
26 de Jan / 2018 às 10h25
Lampião foi um cangaceiro sanguinário e perverso, matou muita gente inocente, tudo de ruim ele praticou, não deixou a vida de bandido porque não quis, a exemplo de Senhô Pereira e Luis Padre, ambos de Serra Talhada, antiga Vila Bela, que fugiram para São José do Duro, Goiás, hoje Tocantins, com o nome de Dianópolis, conselhos teve muitos nesse sentido, viveu 22 anos nos cangaço praticando o mal e dando trabalho aos Governadores do Nordeste, com exceção do Piauí e Maranhão, onde ele não andou.
26 de Jan / 2018 às 10h44
Dizem que o tenente José Rufino matou Corisco covardemente, para ganhar fama, que estava fugindo do cangaço, talvez para São José do Duro, estado de Goiás na época, onde se encontrava Senhô Pereira, Luis Padre e o major José Inácio, de Barros-CE, todos com nomes trocados. Corisco se encontrava aleijado, já não estava manuseando arma cumprida, portanto fora de combate, poderia ter sido preso, mas Zé Rufino preferiu matar o lugar-tenente de Lampião, para ganhar fama. Dizem que Corisco carregava muito ouro, e o ouro sumiu, coisa que Zé Rufino nunca falou, nas suas exibições em entrevistas.
26 de Jan / 2018 às 13h51
Não é o rei do cangaço, nem é violento. Ao contrário, tem um coração de manteiga derretida. Luís inacio é o rei do Nordeste, e amado todo o Brasil. Amado e odiado, amado pelos feitos que fez quando presidente da República, e muito odiado, não sabemos por qual motivo. Só sabemos que quem o odeia, o odeia por não aceitá-lo, e inventam mil e uma coisas para isso, acusam de ladrão, de bandido, de cachaceiro. Tudo mentira, mas interessante é que boa parte do poder judiciário do Sul do país, também o odeia, não conseguindo derrotá-lo nas urnas, mandaram prender, o motivo? Inventam qualquer um.
27 de Jan / 2018 às 16h26
O cangaceiro Lampião demorou morrer. Primeiro porque teve muita sorte em algumas troca de tiros com a polícia, não porque sabia de rezas fortes ou mandingas, que são superstições. Segundo porque teve apoio de muitos coronéis políticos. Terceiro porque contou com apoio de alguns oficiais de volantes corruptos. A sua vida no cangaço durou 22 anos, sendo 12 anos entre Bahia e Sergipe,onde contava em Sergipe com o apoio do Governador Erotildes Carvalho, que era oficial do Exercito. Morreu na Gruta do Angico, em Sergipe, em 1938,com 40 anos de idade, abatido por uma força de uma volante alagoana.
23 de Jul / 2018 às 13h16
Parabens autor!!! Uma rica e bela crônica. Boa de se comentar. Mas infelizmente vem um povinho pobre de espirito,e mela tudo. Aff, é de dá dó. Embora Juazeiro já conheça quem são essas almas atormentadas. Muita luz pra vocês!!!!