2017 já vai tarde! Pena que não leva junto as muitas desgraças que se abateram sobre o povo do campo e da cidade, no país e na Bahia… Ao final deste ano terrível, a Comissão Pastoral da Terra na Bahia tem a dizer:
Num conjunto de arbitrariedades, desmandos e violências, foi ano em que ficamos mais pobres, explorados, desrespeitados, violentados e infelizes, como povo e indivíduos. A partir do Golpe de Estado, que foi o impedimento da presidenta Dilma, em maio de 2016, tramou-se nos altos poderes da República, com o apoio da mídia, uma sequência sem limites de reformas e retrocessos nos direitos políticos e sociais, que tanto nos custaram contemplar na Constituição de 1988, chamada “cidadã”, marco histórico e pacto de superação do período ditatorial civil-militar. Gastos públicos e programas sociais, trabalho, ensino, saúde, previdência e assistência sociais, territórios e povos tradicionais, ganhos de capital, patrimônio natural e outros, foram setores cruciais da vida nacional a sofrer intervenções de modo a destruir direitos da maioria para favorecer a minoria rica de sempre, internacionalizada, descomprometida com um projeto nacional minimamente favorável à maioria trabalhadora e empobrecida. A força do privilégio, de novo, não aceita qualquer igualdade.
O reflexo disto no campo, com a desproporcionalmente poderosa e decisiva bancada ruralista no Congresso Nacional, foi mais violência, com a volta dos massacres de camponeses. Até agora, no país, foram 65 assassinados em conflitos agrários, 25 deles em três massacres (ao menos três assassinados na mesma ocasião). Destes, na Bahia, foram 10, seis no massacre de Iúna, comunidade quilombola no município de Lençóis; entre os outros quatro, duas lideranças quilombolas, um indígena Tupinambá e um sem-terra. Nos últimos anos, tem a Bahia reeditado antigos índices de violência agrária. Seu passado latifundista e escravagista renitentemente revisitado.
Um preço altíssimo a pagar pelos mais empobrecidos do campo baiano para a expansão, com apoio do Estado, do agronegócio no Cerrado, na Caatinga, na Mata Atlântica, nos ecossistemas costeiros e nos vales úmidos, dos empreendimentos de energias eólica e solar, de mineração, das obras de infraestrutura, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, o Porto-Sul, a Ponte Salvador – Itaparica. Entre os projetos faraônicos, o de irrigação Baixio do Irecê, a “transposição baiana”, que para irrigar 59 hectares vai consumir 63 m3/s de água do moribundo São Francisco e já perturbou a vida de 800 famílias, de 18 comunidades. As tradicionais de “fundo e fecho de pasto”, em todo o estado, continuam vivendo os percalços da regularização pelo governo estadual como simples “concessão de uso”, de territórios de posse antiga, muitas mais que centenárias. Além da degradação ambiental, ainda mais insustentável em tempo de aquecimento global e mudanças climáticas, esta política dita de “desenvolvimento” acelera o risco de extinção destas comunidades, guardiãs dos bens da terra dos quais todos e todas dependemos. Por isso, principalmente, são mais visadas. E mais carecem de nosso firme apoio.
Como nosso povo é feito também de resistência e luta incansável, mesmo quando tarda ou parece que não há, aconteceu a rebelião do povo de Correntina, no Oeste Baiano. Diante da omissão e conivência do Estado, as comunidades ribeirinhas e geraizeiras chamaram a atenção de todos com o extremo da ação coletiva e auto-organizada que destruiu parte das instalações de uma empresa de irrigação agrícola que consumia o equivalente a 97,2% da água que consomem os 12.600 habitantes da cidade, deste modo contribuindo para a seca do Rio Arrojado que abastece inúmeras comunidades rurais. Um alerta geral!
O que esperar de 2018? Que a campanha eleitoral consolide o golpe e todos os seus desvarios conservadores e reacionários? Que a violência no campo e na cidade, em consequência, continue crescendo e ceifando vidas? Ou que o povo, finalmente, chame para si o protagonismo e assuma o rumo desta quadra vexativa de nossa história?
O Fórum Social Mundial em Salvador, no mês de março de 2018, possa ser espaço de dizer ao mundo nosso infortúnio e fortalecer a resistência popular e a esperança militante.
Procuremos, cada qual e com suas entidades, igrejas, organizações e movimentos, que se cumpram, nas diversas lutas, nos territórios, no cotidiano, na superação do machismo, nas espiritualidades libertadoras, as melhores e rebeldes expectativas no ano novo, a vencer as temerosas ameaças. Contem conosco – agentes da CPT Bahia – neste mutirão permanente pela vida! O Natal de Jesus, frágil criança e Deus poderoso, seja razão e alento de nossa esperança!
Coordenação Regional da CPT Bahia
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