Os resultados científicos do projeto Skinage, dispositivo inédito, panteado pela Faculdade de Medicina da UFMG, que identifica a idade gestacional do bebê ao nascer, estão publicados na revista Public Library of Science (PLoS ONE). A publicação em forma de artigo, chamado “Newborn skin reflection: Proof of concept for a new approach for predicting gestational age at birth. A cross-sectional study“, mostra que esta pode ser uma tecnologia barata e efetiva para ser usada em diferentes cenários de parto pelo mundo.
De acordo com a coordenadora do projeto e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade, Zilma Reis, o artigo mostra que o teste realizado nas maternidades do Hospital das Clínicas da UFMG e do Hospital Sofia Feldman, com 115 recém-nascidos de 24 a 41 semanas, entre 510g e 3,5kg, teve resultados promissores.
“Mostramos que através da reflexão da pele, analisada com um algoritmo que ajusta a reflexão ao peso e às condições do ambiente de incubadoras, é possível predizer a idade gestacional de um recém-nascido com erro de 11 dias, nas primeiras 48h de vida”, afirma.
Este resultado é considerado um indicador de sucesso, porque, segundo Zilma Reis, as técnicas atuais fazem esta previsão com erro de duas a três semanas e dependem de pediatra ou enfermeiro neonatólogo treinado. Já o novo dispositivo proposto poderá fazer a identificação de forma automática por profissionais de saúde, não necessariamente especialistas na área, em qualquer cenário de parto (em hospitais, casa ou ambulâncias).
“Tínhamos o foco principal de testar em bebês prematuros, que são os que vão mais se beneficiar com a tecnologia. Mas também incluímos os a termos – a partir de 37 semanas de gestação -, justamente para ver a diferença e progressão da capacidade de responder a luz”, acrescenta a professora.
Segundo Zilma Reis, o primeiro passo é reconhecer que há um problema mundial sobre a identificação da idade gestacional dos bebês recém-nascidos. A falta desta informação pode comprometer a sobrevida, já que pode haver negligência na assistência. “Muitas vezes, de acordo com o tamanho, o bebê pode ser considerado aborto – em que não há tecnologia para que sobrevivam – e todo aquele cuidado que teria para dar suporte a sua sobrevivência será deixado de lado”, comenta Zilma.
O outro ponto é o limite entre o bebê a termo – aquele nascido a partir de 37 semanas de gestação e que geralmente não precisará de suporte respiratório – e o de 35 ou 36 semanas. O reconhecimento dos prematuros alerta para os cuidados com os que poderiam precisar de maior controle de temperatura, ser mais aquecido ou ser direcionado para uma Unidade Neonatal, por exemplo. Estes casos podem acontecer em um hospital sem maternidade, em uma maternidade mais simples ou em uma ambulância.
O Brasil será um dos países beneficiados, já que mais da metade das mulheres não têm acesso ao ultrassom precoce, como afirma Zilma. Mas ela ressalta que identificar a idade gestacional é mais do que um desafio nacional. “Há dois anos e meio atrás, quando fomos agraciados com o investimento da Fundação Bill & Melinda Gates, a chamada era para uma tecnologia mundial que pudesse ajudar a resolver um grande desafio: o reconhecimento do bebê prematuro”, relata.
UFMG
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