A Folha de São Paulo analisou a execução orçamentária das sete ações exclusivamente ligadas à revitalização do Rio São Francisco. Os dados mostram queda nos investimentos em combate à erosão, obras em hidrovias, sistemas de água, saneamento e coleta de lixo nas cidades. Em 2017, de janeiro a julho, foram aplicados cerca de R$ 19 milhões. O Programa “Novo Chico” prevê investimentos de R$ 7 bilhões na revitalização do rio até 2026 –sendo R$ 1,1 bilhão até 2019.
O vento forte cruza o rio, atinge o solo e carrega uma areia fina. Num raio de quilômetros, o cenário se limita a areia, pequenos charcos e uma vegetação rasteira recente na qual não há lugar nem para os tradicionais mandacarus do sertão. A seca que atingiu a barragem de Sobradinho criou um deserto entre o leito do rio e as cidades que o margeiam.
Maior lago artificial do país, Sobradinho está com uma vazão de 500 metros cúbicos por segundo, a menor desde que a barragem começou a funcionar no final dos anos 1970. A água para irrigação, responsável por quase 70% da captação feita no rio, passou a ser restrita. Nas quartas-feiras, é proibido ligar as bombas para retirar água do São Francisco e alguns de seus afluentes.
Também falta peixe para Francisco Alves Nogueira, 58. Ele é dono de um restaurante na praia fluvial de Remanso, mas há mais de três anos a água do rio não passa nem perto de lá. Restou apenas uma imensidão de areia sob um sol forte do sertão. Ele diz que a situação da barragem afastou não só os clientes, mas também peixes como o tradicional surubim para usado para servir a moqueca que é carro-chefe da casa. Para um mergulho no rio, os moradores trocaram a prainha pelas margens das ruínas da cidade velha, que virou ponto turístico.
Em nota, o Ministério da Integração Nacional, responsável pela maior parte das obras, informou que “os investimentos previstos serão disponibilizados ao longo do tempo, por isso, é incorreto analisar o orçamento ano a ano”. Ainda sobre as obras de revitalização do São Francisco, o ministério do governo Michel Temer (PMDB) cita obras concluídas recentemente, como os sistemas de esgotamento de Cabrobó (PE) e Brasilândia de Minas (MG). E informa que há obras em andamento em cidades como Bocaiuva (MG) e Ilha das Flores (SE).
A Casa Civil da Presidência diz que o gasto total na revitalização, incluindo ações dos ministérios da Saúde, Cidades e Integração Nacional, atingiu R$ 88,6 milhões entre janeiro e julho deste ano. Em todo o ano 2016, o investimento chegou a R$ 312,4 milhões.
Os dados, contudo, não são disponibilizados em documentos oficiais como o balanço mensal do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que deixou de ser publicado em julho de 2016.
Folha São Paulo
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