Artigo - A fome do capital

Não é de hoje que o povo brasileiro se torna espectador de casos de corrupção no cenário político. Já estamos calejados quando o tema é desvios de verbas públicas e mal feito por parte da classe política do Brasil. Porém, mesmo com tanto repertório e experiências nesse assunto, o povo se viu consternado e de cabelos em pé com a exteriorização dos últimos acontecimentos em consequência das famosas delações premiadas da Operação Lava-Jato da Polícia Federal.

Os delatores relevaram a todos nós a força e a fome do capital privado em comprar tudo e todos que estivem dispostos a vender e serem vendidos. Os empresários compraram a democracia com o aval da classe política. Ela foi vendida pelos agentes públicos e políticos do nosso país. O Brasil comercializando o Estado democrático de direito. A fome do capital é devoradora e insaciável. Pulveriza o tecido social, humilha governantes e atinge em cheio a nossa consciência.

Sabe-se de casos de compra de votos, compra de apoio político, compra de partidos, compra de emendas parlamentares, compra de silêncio, de alianças, de verdades e de mentiras. A lista não se encerra aqui, pois tudo está à venda nesse país. As relações entre agentes públicos são forjadas nas relações entre contas bancárias e em abertos de mãos que esmagam a dignidade do povo.

O capital adquiriu ideologias à vista, parcelou em até 10 vezes a honra, financiou a verdade e pagou no cartão de crédito o poder. O cenário se apresenta como uma grande feira popular no qual cada um lança seu preço disputando com o vizinho quem vende mais.

Nesse sentido, o grande capital financeiro nos dá uma lição pedagógica importante: tudo tem seu preço, mas nem tudo vale a pena ser vendido. Ele vai bater em algum momento a sua porta, com seu jeito meigo e messiânico, te prometendo o paraíso. Cabe a cada um decidir se somos ou não vendáveis.

THIAGO JERÔNIMO PINTO DOS SANTOS

Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local-UFRPE e Professor de Sociologia do Estado de Pernambuco