Nos bons tempos que marcaram várias gerações, e fizeram a alegria quase ingênua de muitos sorridentes nordestinos, a tradição cultural das Quadrilhas enchia de beleza e encanto os festejos de S. João na maioria das cidades do interior e em algumas capitais do Nordeste. Hoje, apenas algumas cidades como Caruaru e Campina Grande, e algumas outras poucas cidades, profissionalizaram esse tipo de festa regional com quadrilha presente como item turístico principal - e isso é bom porque preserva a cultura -, enquanto a geração atual pouco conhece ou só vê em “flashes” isolados da televisão, neste período de junho!
Lembro-me com certa nostalgia dos bons e saudosos tempos de Uauá, em que logo após a novena ao Padroeiro, o povo, disciplinadamente, já se postava em torno da quadra para o “Concurso de Quadrilha”, onde concorriam escolas e colégios da sede e do interior, todos imbuídos de uma pura vibração em defesa do nome da sua escola. Somente após anunciado o resultado da sadia competição pela Comissão Julgadora, a primeira banda se preparava para o início do forró junino da noite, que se prolongava até a Alvorada das 05:00h da madruga, aí já abrindo o novo dia. Dentro desse harmonioso clima o São João era marcado por intensa animação durante 10 dias, ou seja, de 15 a 24 de junho!
Essas tradições culturais, contudo, se não contarem com o interesse dos governos municipais, a tendência é a sua progressiva extinção, já acontecendo em muitas cidades, cujas tradições vêm sendo substituídas por shows sertanejos ou não, recheados com o complemento das belas bailarinas “calorentas”... É a modernidade que chega atropelando a história cultural das cidades.
Mas, caro leitor, como tudo nessa vida sofre um processo de aperfeiçoamento para o bem ou para o mal, essa quadrilha saiu do cenário e deu lugar ao surgimento de outras quadrilhas! Enquanto uma, além da leveza da dança e da simplicidade, tinha o comando do eficiente “Marcador de Quadrilha”, outras agem nos bastidores e atuam nas sombras da indecência com as mãos sujas sobre o dinheiro público. Competentes na gestão da indústria das propinas, possuem, também, o comando profissional de vários “Chefes de Quadrilha”! Uma triste e dolorosa substituição, com poder avassalador no rompimento dos valores morais e culturais da nossa sociedade.
Assim como na fase imperial dividiram o nosso território em “Capitanias Hereditárias”, os nossos “reizinhos” modernos lotearam o Patrimônio Público, os Ministérios, as Estatais e os Fundos de Pensão entre algumas Quadrilhas organizadas, e sob a coordenação criminosa e manipuladora dos Partidos grandes, e até dos chamados “nanicos”! Esse comportamento desmoraliza e enfraquece a nossa democracia.
Como resultado das muitas delações oficializadas que se tem visto, uma verdade tem se evidenciado na formação dessas muitas facções criminosas do colarinho branco, caracterizadas pela perfeita estrutura organizacional composta de Chefe, Diretor, Tesoureiro e, como não poderia faltar, o Doleiro, encarregado de migrar enormes somas de dólares para os Bancos internacionais! É uma máquina que funciona de maneira invejável e devidamente politizada, tão importante que até parlamentar deixa de desempenhar a sua função institucional de legislar para a qual foi eleito, para assumir o papel vergonhoso de fantoche do esquema criminoso!
Esses eventos festivos têm o condão de encaminhar essas tragédias para os escaninhos do esquecimento, enquanto os três Poderes da República se digladiam na montagem dos esquemas de ataque e defesa.
Essas reflexões devem contribuir de maneira positiva para uma reorientação dos novos rumos que pretendemos para o nosso País, com o fortalecimento da esperança e do otimismo de que algo possa surgir do além, ou daqui mesmo, para despertar as consciências doentias dos nossos políticos e autoridades constituídas.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
6 comentários
25 de Jun / 2017 às 23h17
Excelente crônica sobre a “Quadrilha que sai e a quadrilha que entra”. Pena que um mesmo termo, esteja servindo para as duas situações, apesar de que, as quadrilhas juninas também estão entrando num clima confuso de disputa interna de interesses pessoais, os quais a gente não entende, para não saber o que está ocorrendo nas entranhas. Um abraço e volte logo para Salvador, pois a sua presença está sendo cobrada. (Salvador-BA).
25 de Jun / 2017 às 23h17
Mais uma vez e sempre, o Grande Agenor, nos trás colocações que merecem toda nossa atenção pelo seu grau de preocupação com quem está do lado de cá daquele balcão de negócios que se tornou aquela cidade que nem precisa citar. O pior de tudo é que estão negociando e passando a mão naquilo que não é deles, e pior ainda, não se sabe quando isso vai acabar, pois, parafraseando de forma real com o texto, sai quadrilha e logo entra outra em seguida...
25 de Jun / 2017 às 23h21
Realmente você expõe com a maestria e sentimentos de um nordestino que tem um profundo conhecimento de suas origens culturais. No entanto, esperar que essa corja de políticos que estão no poder, jamais vão sentir o mínimo de senso crítico, para encontrar um novo norte para o soerguimento moral e desenvolvimentista do nosso combalido País! Que a terra lhes seja leve e surjam novas lideranças, com a nossa fé inabalável de cristãos com fortes, com infinitas esperanças de vivermos num Brasil que possa transformar nossa juventude com maciço investimento na EDUCAÇÃO. (Manaus-AM).
26 de Jun / 2017 às 08h31
Realmente, Agenor, não só no Nordeste, mas aqui na região sul também a tradição das festas juninas não possui mais o brilho e a alegria dos tempos de outrora. Foram substituídas por eventos pontuais, normalmente restritos a uma tarde com extensão a noite. Em colégios e em igrejas. Aqui em Foz do Iguaçu, 24 de junho é o dia do Padroeiro da cidade, São João. Pelo menos ainda temos este gostinho de tradição. Quanto as outras quadrilhas, pelo menos hoje vou tentar não lembrar delas. Para termos uma boa semana. FOZ DO IGUAÇU-PR
26 de Jun / 2017 às 14h25
Eu pergunto, em quem votar? O Marcelo Odebreche disse em depoimento que todos os políticos no Brasil usam caixa dois, principalmente os eleitos. Isso deu para si notar na eleição municipal de 2016, mas a verdade não deve ser dita porque ofende.
27 de Jun / 2017 às 09h27
De caixa dois a família dos Laranjas do Sertão de Pilão Arcado entendem. Aliás entendem de Caixa dois, três, quatro...