Nas últimas semanas, uma novidade vem chamando a atenção da comunidade acadêmica do Campus Sede da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf): a presença de Shiva, cão-guia que acompanha todos os dias o servidor Milton Carvalho Filho, novo revisor de texto braille da Universidade. Natural de Brasília (DF) e radicado no Recife (PE), Carvalho ainda está em processo de adaptação em Petrolina e na instituição, conhecendo os lugares e os obstáculos para se locomover e conta com o companheirismo de Shiva nesse processo. Na região, não é comum o uso do cão-guia e grande parte da população desconhece o trabalho desses animais. O novo servidor, que está lotado no Núcleo de Práticas Sociais Inclusivas (NPSI), orienta como lidar corretamente com o animal.
“Um dos desafios nessa fase de adaptação é a aceitação do cão, já que na cidade não é comum e as pessoas não estão acostumadas”, diz Carvalho. As reações com a presença do animal, segundo o servidor, são variadas. “Muitos ficam surpresos, principalmente quando estamos em lugares fechados como shoppings, supermercados e restaurantes. Já outros querem brincar, chamar a atenção da cadela”, relata.
Esses animais são especialmente treinados para oferecer segurança na locomoção dos deficientes visuais. Por isso, existem recomendações a serem seguidas, quando estão em serviço. Segundo Carvalho, o correto é ignorar totalmente o cão. “Não devem chamar, brincar, alimentar ou fazer qualquer coisa que distraia o cão-guia, pois o deficiente visual pode se acidentar”, ressalta. Ele afirma que existem momentos de lazer do cão, nos quais o animal brinca como qualquer outro cachorro de estimação. O servidor da Univasf ainda enfatiza que os cães-guias exercem essa função com prazer. “Não existe uma imposição. Eles sentem satisfação em nos ajudar. Há uma troca de afeto e companheirismo”.
A pessoa com deficiência visual tem assegurado, pela Lei N° 11.126, de 27 de junho de 2005, que é regulamentada pelo Decreto N° 5.904, de 21 de setembro de 2006, o direito de estar acompanhada por um cão-guia e ingressar e permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, seja de uso público ou privado de uso coletivo.
Durante todo o expediente de Carvalho na Univasf, Shiva fica na sala do NPSI e não causa interferências na rotina do setor. Os servidores do Núcleo já se acostumaram com a presença dela. “A Shiva é uma companheira e não atrapalha em nada. Ela é tranquila e alegra o nosso ambiente”, comenta Maria de Fátima Paixão Feitosa, coordenadora em exercício do NPSI.
O servidor está com Shiva desde 2012. Ele ficou cinco anos na lista de espera para conseguir a cadela, da raça Labrador, através do Projeto Cão-Guia de Cegos do Distrito Federal, desenvolvido pela Associação Brasiliense de Ações Humanitárias (ABA). “Passei um longo período até conseguir o cão-guia. Foi necessário passar por um processo seletivo com envio de documentos e vídeo. Após a seleção, passamos por um curso de adaptação para criar um vínculo”, conta. Essa última fase, chamada de formação da dupla, é muito importante para o cego conhecer o cão e seus movimentos. “Esse é o momento de conhecimento e de junção entre o cão e o usuário. É um trabalho em equipe, onde um precisa conhecer a necessidade do outro”, acrescenta Carvalho.
Vinda para a Univasf - O revisor de texto braile fez a prova do concurso para ingressar na Univasf em dezembro de 2016 e tomou posse no último dia 31 de março. Para ele, vir para a Universidade foi uma oportunidade de sair de sua zona de conforto e buscar novos objetivos. “Gosto de desafios. Na Univasf, existem possibilidades de crescimento. É uma instituição nova, que visa se desenvolver cada vez mais e estou feliz por estar aqui”, afirma. Carvalho vai atuar nos programas de inclusão e acessibilidade desenvolvidos pelo NPSI e com a formatação e impressão de materiais em braile.
O novo servidor é formado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e trabalhou durante dez anos na mesma instituição, dos quais cinco deles na Assessoria de Comunicação (Assecom), onde trabalhava com mídias sociais e acessibilidade da comunicação. Paralelamente, também desempenhava atividades como professor brailista na Secretaria de Educação de Pernambuco.
Ascom Univasf
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