ARTIGO – A INFELIZ METÁFORA DE UM SENADOR

Tenho por hábito de estilo de quase sempre recorrer à cultura popular com o fim de captar algo interessante para reforçar ou ilustrar uma linha de pensamento. Nos últimos tempos, o nosso querido Brasil está pródigo no surgimento de fatos que inspiram um universo de cenários e interpretações de toda natureza, inclusive influindo no redesenho do sentido de alguns ditados populares, como este muito usado: “vivendo e aprendendo”, para a nova versão consagrada através dos maus exemplos da atualidade: “vivendo e desaprendendo”!

Mesmo o leitor afeito ao costume de estar atento aos acontecimentos do cotidiano, ainda mais quando o país passou a ser vítima da irresponsabilidade de forma genérica e o crime popularizado com uma intensidade nunca imaginada, nem sempre se apercebe dos efeitos de certas mudanças. Por exemplo, os desvios de verbas públicas ganharam tantos dígitos nos seus valores que não mais se fala em MILHARES DE REAIS, mas sim em MILHÕES DE DÓLARES, parecendo, até, que o nome da moeda nacional foi mudado repentinamente e o povo não soube de nada.

Ainda assim, esse povo, de vez em quando, é induzido a se surpreender diante de certos episódios. Na última semana a sociedade brasileira quedou, decepcionada, incrédula e estupefata, diante de algo sujo, baixo e vil a que foi obrigada a ouvir na sala de suas casas através da televisão, testemunhado por jovens, idosos e crianças! Os noticiários da TV e os seus âncoras comentaram fartamente as manifestações do Senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-Ministro dos três últimos governos e líder do atual no Senado Federal, e um dos investigados da Lava Jato, quando, num desabafo intempestivo, usou de palavras torpes e de baixo nível para defender a classe política, ao declarar ao repórter do jornal O ESTADO DE S. PAULO: “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não é uma suruba selecionada”.

Desprezível e vergonhoso imaginar que isso saiu da boca de um senador da República!!! Talvez alguns pais tenham passado pelo desconforto de ter de explicar de forma didática aos seus filhos o verdadeiro sentido do que é “suruba”, metáfora brega utilizada para nivelar por baixo esse tipo de bravata desses criminosos de “colarinho branco”. Em razão da repercussão negativa, desculpou-se depois de forma inadequada dizendo que foi uma brincadeira ao plagiar a música “Vira-Vira” dos Mamonas Assassinas...!

Diria que é o fim da picada...! Os túmulos de muitos senadores brasileiros honrados do passado, como José Bonifácio de Andrada e Silva, Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Nilo Peçanha, Miguel Calmon du Pin e Almeida, Tancredo Neves, dentre outros, tremeram face a tamanho desnível de qualidade e à revelada baixaria que domina o nosso quadro político atual. Só para recordar, no período do Império a comunidade elegia uma lista tríplice para o Senado e o Imperador escolhia o nome que reunia melhores qualidades para o cargo, porque os senadores eram considerados “augustos e digníssimos senhores representantes da Nação”...! Que conceito desfrutavam!

Jamais poderia pretender que a Nação retroagisse para reimplantar práticas institucionais vigentes no período Imperial. Mas, é fundamental, sim, voltar no tempo para buscar a dignidade perdida, restabelecer os valores de respeito pelas instituições e os atores principais responsáveis pela gestão, em todos os níveis da vida pública, reaprenderem que a educação da nossa juventude não depende apenas da Escola e do que é passado de pai para filho, mas, substancialmente, pelo conjunto de bons exemplos de honradez e integridade das autoridades dirigentes, constituindo-se numa verdadeira cadeia sucessória formadora do caráter, em geral. Mas, com tamanha baixeza, podemos ver que desses tipos nada podemos esperar, principalmente, quando se trata de um tema tão nobre como é a Educação!

Oxalá as gerações mais jovens possam, ainda, testemunhar o renascimento e reconquista desses conceitos perdidos, e que não tenham de conviver com representantes que buscam no palavreado do submundo “breguista” as palavras chulas para comporem as suas declarações infelizes.

Finalizando, ficamos a imaginar o lixo que deve ser as conversas desses caras entre si, os quais, infelizmente, são intitulados como “nossos representantes”.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).