A Revista VISÃO JURÍDICA, da Editora Escala, Edição nº 124 traz interessante matéria sobre o envolvimento de pequenas e médias empresas em algum tipo de fraude, afirmando que 60% dessas empresas que chegam à falência cometeram fraudes.
A matéria faz referência ao professor de História da Universidade Estadual de Campinas (SP), Leandro Karnal, autor de vários livros e que tem sido destaque nas discussões mais inteligentes que se propagam pela internet sobre o caráter do brasileiro.
Karnal tem observado que as pessoas têm substituído o culto do “Papai Noel e do Colelhinho” (isto é, o culto da crença na bondade, na solidariedade, no comportamento ético), pelo culto da corrupção isolada, pela qual apenas alguns poucos agentes da sociedade seriam corruptos, quando na realidade, segundo sua observação, a corrupção tem ocupado escala bem maior de pessoas, citando alguns exemplos: dirigir pelo acostamento; comprar recibos de despesas para abater no imposto de renda; obter atestado médico falso para si ou para um filho, entre outras práticas bastante comuns.
Barry Wolfe, advogado britânico, titular da Wolfe Associetes, que está radicado no Brasil há mais de 23 anos, especialista em investigação de fraudes e criação de políticas de governança empresarial, objetivando evitar desvios éticos, atuando no mercado de compliance (conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer), portanto, atuando com vigor no combate à corrupção, numa de suas recentes palestras, segundo a Revista Visão Jurídica, listou 10 (dez) indicadores considerados surpreendentes sobre desvios corporativos no Brasil.
Wolfe, ao listar esses indicadores, reproduzidos na matéria citada, demonstra em cada um deles, que a corrupção não é fenômeno isolado e que para evitá-la pode ser menos complexo do que nos parece. São os seguintes:
1.O medo de represálias explica porque poucos funcionários denunciam falcatruas: 65% dos fraudadores tem status de gerente ou diretor.
2.Há o fator de identificação com o fraudador: 7 em cada 10 corruptos corporativos estão no auge da vida profissional, na faixa dos 36 a 55 anos, o que dá a eles aura de modelos bem-sucedidos.
3.Interessa à empresa saber que a estão usando para ilícitos? Sim, mas em termos: a maior parte das firmas brasileiras não têm canais protegidos de denúncia – e várias os têm no formato “para inglês ver”, isto é, no “faz de conta”.
4.Não fosse essa precariedade de canais, as empresas seriam mais éticas: 50% dos golpes desvendados o foram via dispositivos seguros de denúncia.
5.E há o paradoxo do cadeado em porta arrombada: 83% dos empreendedores brasileiros só investem em prevenção após a descoberta de um caso de corrupção em casa.
6.Um mito que dificulta a ética corporativa é o de que colega não dá golpe em colega. Dá sim: 60% dos roubos são feitos por funcionários.
7.Outro mito é o de Santo de Casa. O santo pode não ser certinho assim: em metade dos casos de corrupção que incluem um funcionário, o corrupto tem mais de 5 anos de empresa.
8.Uma coisa é certa: corrupto gosta de bando. Só 1/3 dos desvios corporativos é realizado individualmente.
9.Quando fraudadores se unem em quadrilha, mais de 50% dos membros são externos à empresa prejudicada.
10. E a noção de que só as grandes companhias são corruptas é mesmo falsa: 60% DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS FALIDAS ESTIVERAM ENVOLVIDAS EM ALGUM TIPO DE FRAUDE.
*Maiana Santana é advogada, especializada em Direito Público, integrante do Escritório SANTANA ADVOCACIA, com unidades em Senhor do Bonfim (Ba), Salvador (Ba) e Brasília (D.F.). site: www.santanaadv.com/ E-mail: [email protected]
*Maiana Santana
0 comentários