Tive a feliz oportunidade de assistir à alegre festinha de encerramento do 1º. Ano do Ensino Fundamental da minha netinha de 6 anos, no Colégio Marista, em Salvador, e fiquei deslumbrado com a seriedade, a organização e o comprometimento demonstrado por aquelas 60 crianças, na apresentação do espetáculo de final de ano para os pais e avós corujas que enchiam o Auditório. O mais importante de tudo, porém, é que aproveitei daquele instante para fazer uma leitura diferente. Estava diante do Brasil do futuro! O desempenho sério, disciplinado e responsável daquelas crianças, ainda que envoltas num universo de inocência e ingenuidade, permitiram-me alimentar a convicção de que nessa geração que se exibia no palco estava a salvação do nosso Brasil do futuro. Isso porque parece cada vez mais verdadeiro o ditado popular que assegura que “o pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”. E, pelo jeito, essa nossa geração está nos estertores, tristemente maculada e corrompida! Infelizmente isso parece ser a verdade do momento.
Sim, leitor, a palavra correta é SALVAR, porque atualmente é impossível que se chegue ao final de cada dia sem que um novo nome seja erguido do lamaçal da corrupção e da criminalidade dos mais diferentes níveis, dentre os homens que são os responsáveis pela atividade política ou condução administrativa deste país! A essa altura já virou lugar comum a exclamação extasiada do cidadão brasileiro ao ouvir o noticiário diário: “não é possível, NÃO ESCAPA UM...!” Se serve de consolo para alguns, reafirmo a convicção de sempre de que nessa areia movediça não há distinção de Partidos, embora algumas raras exceções nominais até possam ser localizadas pela idoneidade ainda não afetada, mas, isso é realmente muito pouco e quase nada!
Esse desabafo que soa como o grito da desilusão e do desencanto, é a expressão mais eloquente do sentimento de um povo que tem sede de ver essa Nação crescer de maneira organizada e honesta, e cujos exemplos dos adultos possam ser fortes componentes na formação das crianças e dos jovens, e nunca um motivo de vergonha como tem sido até aqui. Por outro lado, na condição de uma Nação atualmente classificada como a nona economia do mundo e cujo Presidente da República há muitos anos vem tendo a honra de proferir o discurso de abertura dos trabalhos da ONU, é extremamente incômodo que tenha no exterior uma imagem objeto do desprezo e da chacota em razão da sujeira moral que campeia em todas as esferas institucionais, além da desorganização econômica.
Causa perplexidade a qualquer mortal, tomar conhecimento de que um Deputado Federal seja capaz de receber uma verba para manutenção de um Escritório em seu Estado de origem, exibir recibo frio de um aluguel fraudulento, e no endereço nada é localizado pela imprensa investigativa...!
Outra estupidez inconcebível e que só no Brasil pode acontecer, é saber que a Justiça do Trabalho produziu julgamentos em favor do trabalhador em 2015 que atingiu o montante de nove bilhões de reais, mas essa mesma instituição, que deveria nos dar o exemplo da racionalidade de custos, para funcionar em 2015 só em despesas administrativas, de pessoal e outros gastos, consumiu a bagatela de 17 bilhões de reais no ano! Isso, no mínimo, significa um descaso com os destinos deste país!
Como não lembrar, também, que no momento em que é grande o debate em torno da polêmica PEC-241/2016 (55/2016, no Senado), que pretende fixar um teto nas despesas públicas, o Congresso aprova e o Governo sanciona um aumento de até 41,47% para os servidores do Judiciário, Legislativo e Executivo, onde já existem salários acima de 100 mil reais, quando o teto nacional é de 33 mil reais! Então, seria falso o rombo de 170 bilhões de reais nas contas públicas...?
Todos esses fatos conjugados contribuem para que, periodicamente, a Nação brasileira tenha de conviver com os tais ajustes fiscais rigorosos para tentar puxar o país do fundo do poço, como se o povo fosse o responsável direto pela debacle econômico-financeira nacional, enquanto as causas injuriosas são muito mais conhecidas do que se pensa...
Um breve olhar pela face triste da criança da ilustração, remete-nos à reflexão de que há um clamor dessa geração à consciência de todos nós, no sentido de que ela já renuncia a qualquer benesse do presente – seja quanto ao tempo ou aos habituais presentinhos -, para que nos preocupemos mais, e principalmente, com o seu apelo à construção de novos fundamentos para um futuro melhor.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
11 comentários
27 de Nov / 2016 às 23h06
Disse tudo grande escriba. Sem poupar A nem B, mas colocando tudo dentro do mesmo balaio porque é exatamente isso que merecem pela igualdade em número, gênero, e grau... O que vai escapar ainda vai nascer então certamente a sua esperança na geração que você viu com tanta disciplina e organização, quem sabe venha fazer com que mudemos as palavras se ainda estivermos por aqui...!!! Abaixo as esmolas e mais ESCOLAS de qualidade para nossas crianças.
27 de Nov / 2016 às 23h21
Como sempre brilhante, meu Irmão. (Salvador-BA).
27 de Nov / 2016 às 23h25
É isso amigo, ainda podemos ter esperança. Parabéns pelo texto! (Salvador-BA).
27 de Nov / 2016 às 23h27
Mais uma vez vc demonstra que está afinado e ligado na turbulência por que passa a nossa Nação, e, acrescento que essas crianças de hoje são cabecinhas inocentes completamente alheias aos gestos irresponsáveis dos políticos que hoje, indiscutivelmente, são os reais responsáveis pela situação sócio-econômica que nosso País está mergulhado. Mas, temos fé em DEUS ONIPOTENTE, que haveremos de reverter este cenário lúgubre, porque esta nova geração bem informada tem O TALENTO, DETERMINAÇÃO E TENACIDADE. (Manaus-AM).
27 de Nov / 2016 às 23h36
Texto fantástico!! Vergonhoso saber da situação do nosso país, que cada dia que passa, se torna pior a situação. As crianças de hoje, todos nós ouvimos falar que vieram diferentes, parecem que tem um chip, já nascem sabendo usar o tablet, os celulares, a nossa esperança é que venham também sem a peça mental do roubar vergonhosamente, sendo essa peça substituída por consciência política!!! A nossa esperança, esse amanhã, vamos entregar a esses seres de luz! (Salvador-BA).
27 de Nov / 2016 às 23h43
Muito bom, amigo Agenor! Mais uma vez você foi feliz nessa avaliação dos privilégios da máquina política e a necessária revisão desses absurdos. Oxalá esse mínimo de POLÍTICOS conscientes possam um dia lograr êxito em seus iluminados ideais. (Três Rios-RJ).
28 de Nov / 2016 às 03h57
Temmer PMDBf e Cerra PSDBf 23 milhoes na Suiça na cadeia e nao em Brasilia mamando e mandando lascar com o povo
28 de Nov / 2016 às 04h03
Homens bandidos em Brasilia. Tirar uma mulher honesta trabalhadora para colocar Mixeu Temi e Cunhas PmDB 5 milhoes na Suiça foi o pior roubo da historia ao direito do povo de escolher seu presidente pelo voto do povo
28 de Nov / 2016 às 06h44
O instante que você aproveitou para fazer esta “leitura diferente”, foi fundamental e oportuno, em face do momento (crítico e grave) sobre o qual estamos passando. Felizmente (ou infelizmente), boa parte da nação (inclusive as nossas autoridades constituídas), não está se dando conta do que nos ronda a cada instante, caracterizando muito bem o titulo da sua crônica “NÃO ESCAPA UM…!”. “As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade” (Lev Vygotsky). Florisvaldo Ferreira dos Santos
28 de Nov / 2016 às 09h21
Continuo achando que, apesar de triste e desesperadora a revelação de tanta sujeira política, isso é uma grande limpeza que vai trazer novas expectativas para as gerações futuras. Á nossa geração cabe lutar e brigar pelo aqui e agora.
28 de Nov / 2016 às 10h45
Como sempre, Agenor, você nos trouxe uma aula de ciência política. E hoje vinculando práticas políticas e comportamentais. Relacionando a discrepância entre o futuro da nossa sociedade, nossas queridas crianças, com o profundo pesar político que nos represa. Mas a tristeza da pobreza na infância revela que estamos muito longe de sermos uma nação digna e justa. Enquanto alguns recebem salários que mais parecem de uma casta privilegiada, outros sofrem as agruras da miséria. E continuamos a ver movimentos sindicais aprofundando este fosso moral. Estamos cansados e indignados. FOZ DO IGUAÇU-PR