A população brasileira tem sido atormentada nos últimos tempos, 24 horas por dia, com as estressantes notícias sobre a corrupção, esta sobejamente assumida e incorporada como um valor componente da nossa cultura, para tristeza dos brasileiros. Tal ênfase é atribuída pelos que cercam os assim acusados, ao defenderem o desvio de caráter como uma contingência normal e cujos efeitos negativos devam ser minimizados...! Tanto isso é uma deprimente verdade, que os arautos defensores desses indignos “marginais da República” – como os chamou o Decano do STF Ministro Celso de Melo, olhando nos olhos de muitos deles presentes na sessão solene de posse da Ministra Carmen Silva -, já estão com os discursos decorados e frases repetitivas à exaustão, quando entrevistados.
Os nobres e respeitáveis advogados integrantes dos mais famosos Escritórios de Brasília, Curitiba e São Paulo, nunca faturaram tão alto como agora, uma vez que os seus clientes especiais de hoje não mais escondem dinheiro na “cueca” e sim na Suíça...! O advogado do último ex-ministro preso, por exemplo, não conseguia esconder um certo ar de riso ao ser entrevistado. Via de regra, os profissionais defensores já não sabem o que respondem aos repórteres das televisões e se restringem a dizer futilidades, como: “não havia necessidade dessa prisão, foi uma violência, o ministro tem família, endereço certo e não se constitui em qualquer ameaça à sociedade; isso é pirotecnia dos Procuradores de Curitiba, etc....”! Só falta aos doutos juristas acrescentarem que os ministros presos deveriam ter pensado em tudo isso antes de assaltarem os cofres públicos ou se saciarem no propinoduto que se tornou uma peste incurável na nossa República. Mas, nós entendemos o lado deles; afinal, a fatura é robusta!
Da punição, certamente os investigados e denunciados como réus pela Lava-Jato não escaparão, não importa a que sigla partidária pertençam. Os choros melodramáticos e artísticos em palanques e comitês, são uma contingência natural no comportamento daqueles que querem salvar a popularidade pela lágrima, e se projetarem como pretensos candidatos ao altar dos mártires nacionais... O Senador Jeferson Peres, falecido em 23/05/2008, pronunciou discurso na Tribuna e nos deixou essas verdades: “[...] O que há é a dilapidação do capital ético deste país [...] O que está faltando e sempre faltou é uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública capaz de fazer neste país o que precisaria ser feito, que era o investimento em capital humano [...]. Disse tudo, pena que dessa sábia lição não aproveitaram uma vírgula.
Nesta última semana a Nação voltou a conviver com mais um pleito eleitoral, desta feita para a eleição de Vereadores e Prefeitos. Muita coisa tem sido dita quanto ao nível de responsabilidade do eleitor, geralmente culpando-o por eventuais erros na escolha dos candidatos. Devido a um apelido histórico, muitos são cognominados como “Eleitores de Cabresto” (vide a ilustração). Efetivamente esse eleitor não pode ser totalmente inocentado, principalmente quando, conscientemente, pratica o ato irresponsável de comercializar o seu voto. Mas, a maior culpa deve ser atribuída aos nossos legisladores que não votam uma Reforma Eleitoral que discipline e estabeleça controles mais rígidos e seletivos aos nomes que se habilitam ao exercício dos cargos públicos, apesar da Lei da Ficha Limpa. Chega de nomes sujos e currículos manchados de vergonha, com trânsito livre entre os Poderes!
Um fato concreto é a certeza de que os membros do Legislativo quase sempre migram de volta aos cargos do Executivo e assim não há qualquer interesse em leis moralizadoras mais profundas no processo eleitoral. Já foi um belo progresso a decisão adotada pelo Tribunal Superior Eleitoral-TSE, avalizada por toda a população, de proibir a exibição de cartazes, pinturas em paredes e outdoors com propaganda eleitoral, o que evitou a sujeira das cidades. Mas a melhor reforma, poderosa e definitiva, contudo, é aquela que se define como mudança de caráter e atitudes no perfil de cada cidadão, o senhor dos seus atos, legítimo e independente para mudar e influenciar nos novos rumos da sociedade onde se acha integrado, e que não depende de Deputados, Senadores, Doutores ou Medidas Provisórias.
Essa transformação no interior de cada um é A REFORMA SONHADA, e se constitui na maior esperança deste país. Sonhemos juntos, porque: “Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade” - assim escreveu o escritor romancista e poeta espanhol Miguel de Cervantes (em Dom Quixote de La Mancha, 1605), a 411 anos atrás. Essa bela mensagem foi popularizada em “Prelúdio”, do baiano Raul Seixas, em 2011.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
4 comentários
03 de Oct / 2016 às 01h39
GRANDE AGENOR, realmente reformar é preciso. Uma reforma de tudo, a partir dos conceitos, e dos defeitos... Que eles tomem conhecimento de Artigos como esse lá naquele Planalto, para saber por onde devem começar a reformar... !!!
03 de Oct / 2016 às 07h16
Quando Cunhao PMDB 15 vai preso?? E os outros que estão trabalhando no governo em Brasília ta na lava jato e não vai preso porque ?? Se fosse do PT tavam soltos. Cadeia so para P....P.....P.....?
03 de Oct / 2016 às 08h39
Agenor, seus temas retratam situações que descrevem nosso péssimo sistema político. E o sonho que estamos tendo juntos é o de um país ético e justo. Por outro lado, a expressiva queda política que muitos ícones da política brasileira sofreram podemos atribuir a uma nova geração surgida dentro dos quadros públicos brasileiros, como o judiciário e a polícia federal, que tiveram a coragem de enfrentá-los. Após as eleições, hoje começa a REFORMA SONHADA. FOZ DO IGUAÇU-PR.
04 de Oct / 2016 às 18h46
Essa ilustração é do famoso voto de cabresto, mesmo, que vem do século passado.