Acima, quadro de Pedro Américo retratando a Independência do Brasil.
Ainda que seja indesejável que a Nação tenha que conviver com um clima político maculado por inseguranças e cruéis incertezas, temos de juntar todas as forças possíveis para a superação de tamanho impasse institucional. Conquanto empossado oficialmente o Vice-Presidente, após a definição do impeachment pelo Senado e sob a Presidência do STF, as sequelas ficaram e permanecerão por um bom tempo.
A perda do poder gera um duro sentimento de frustração para quem o deixa, mas uma dolorosa tarefa para quem tem de realizar o processo de recuperação de um país, cujo modelo de gestão implantado em Ministérios, Estatais, e entidades outras, tinha uma ambiciosa vocação para a apropriação indébita e descontrolada. Só para lembrar o segmento mais recentemente investigado, os Fundos de Pensão (Previ, Funcef, Postalis e Petros), foram utilizados em fraudes e gestão temerária dos seus investimentos por aqueles alçados aos respectivos comandos, com administrações voltadas para o uso político dessas instituições e não aos objetivos fundamentais de cada Fundo. Deterioraram os ativos que tinham a obrigação de proteger, os quais representavam a garantia da aposentadoria dos trabalhadores a eles associados.
No dia 7 de setembro último a Nação “vivenciou” festivamente os 184 anos de sua independência! O normal seria dizer “comemorou a sua Independência”, mas, será que em meio ao império desenfreado da corrupção, das decisões dúbias no Poder Legislativo, onde está presente “o toma lá, dá cá”, da grande carência na área da saúde, da submissão ao poder dos caciques políticos, de modo geral, pode-se bradar em alto e em bom som que somos INDEPENDENTES?
A própria separação do Brasil Colônia do vínculo com o Império Português em 1822, embora exaltada nos livros de História do currículo escolar, pelo bravo grito de INDEPENDÊNCIA OU MORTE do Príncipe-Regente Dom Pedro I - e foi assim que todos nós aprendemos -, somente se consolidou definitivamente em 29 de agosto de 1825, quando portugueses e brasileiros assinaram o Tratado de Paz e Amizade, com a intermediação do Império Britânico junto ao Reino de Portugal. O que pouca gente sabe - e isso enoja a nossa História -, é que o Rei de Portugal exigiu para reconhecer a nossa independência, mesmo tendo o filho no trono do novo império, a bagatela de DOIS MILHÕES DE LIBRAS ESTERLINAS como pagamento indenizatório! Isso foi quanto custou a compra da Independência do Brasil! O Brasil tomou o dinheiro emprestado dos bancos britânicos e o governo inglês, aproveitando-se da sua mediação interesseira, reteve 1,4 milhões de libras que Portugal lhe devia...! Traduzido para o português corrente: começou tudo errado! Pela cultura hoje vigente no país, fica no ar uma dúvida inquietante, se aí não começou a herança maldita: será que o Brasil não pagou uma “propinazinha” para o lobby do governo inglês?
Tenho certeza que a maioria absoluta dos brasileiros jamais leu ou ouviu sobre tamanha insanidade ocorrida em fato tão relevante da História do Brasil, porque, em livros didáticos escolares, desconheço esse registro!
Assim, conclui-se que o Brasil pagou caro pela sua Independência, e assumiu uma dívida logo no início do Império. Os Estados Unidos da América foi a primeira nação a reconhecer o “Grito do Ipiranga” em 1824 e somente a partir da assinatura do Tratado em 1825 é que ocorreu o reconhecimento e a aceitação pela comunidade internacional: Áustria, França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, México e a Santa Sé.
Se a história passada da pátria varonil foi escrita com a ocultação da verdade, imagine o leitor o que poderá a Lava-Jato descobrir no submundo da história política e administrativa dos dias atuais...!
O episódio histórico apenas corrobora uma tese recorrente e muito acionada pelos nossos amigos da esquerda, de que as manhas, desvios e maledicências não foram por eles inventadas durante o exercício do poder, mas que existem desde os primórdios do nosso descobrimento, verdade com a qual concordo plenamente. Diria que apenas as aperfeiçoaram ao extremo insuportável dos níveis da tolerância e da criminalidade, num curto período de apenas 13 anos!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor
9 comentários
11 de Sep / 2016 às 23h24
GRANDE AGENOR, isso é muito mais que um Artigo! Isso é uma aula que esconderam a vida inteira de todos nós... Parece com a historinha de Papai Noel, E AQUELES jogos de final de Copa do Mundo que, passado o tempo tudo vai vindo à tona sobre os resultados. Pobre Pátria, tão gentil... tão enganada, tão lesada e pelo jeito assim será eternamente...!!!
11 de Sep / 2016 às 23h38
Um fato histórico que realmente nos deixa indignados, Agenor. E você, como sempre, traz a tona temas que revelam a nossa instabilidade política e democrática. Começamos mal a nossa independência. E fico pensando sobre a nossa democracia, tão recheada de propinas em nosso sistema político. E através desta sua crônica, entendo que a nossa real independência ainda não chegou. Pois infelizmente ainda não conseguimos aquilo que uma nação desenvolvida consegue: líderes verdadeiros.Foz do Iguaçu-PR
12 de Sep / 2016 às 00h08
Vem sempre com uma belíssima crônica. Uma verdadeira aula de história. Parabéns, Amigo! (Salvador-BA)
12 de Sep / 2016 às 00h11
Ditado popular: "pau que nasce torto nunca se endireita". (Salvador-BA).
12 de Sep / 2016 às 08h00
Os verdadeiros bandidos tomaram o poder para não ser presos. Geralmente a violência vem de dentro. O Cunha eh o melhor exemplo. Milhões na Suíça. 400 mil em dinheiro vivo deu para o casamento da filha. A TV eh aliada dos traido. Leia o blog Conversar Afiada.
12 de Sep / 2016 às 08h27
Boa história Agenor. Você esqueceu de citar o corsário escocês Alexander Cochrane, desertor da Marinha Inglesa, que participou da batalha na Bahia, a mando de Dom Pedro I, e depois de ser consagrado como herói da Independência do Brasil, saqueou São Luis e Belém, e saiu do Brasil roubando três navios da novata Marinha Brasileira, que não tinha quase nada para defender o País.
12 de Sep / 2016 às 10h43
Muito bom, Agenor. Se “em se plantando tudo dá”, será que também “em se querendo tudo se compra”? É o que vemos hoje. (Salvador-BA)
12 de Sep / 2016 às 10h51
Verdade, verdadeira, nobre escriba de nossa história.
12 de Sep / 2016 às 18h30
Excelente a crônica dessa semana. Parabéns. (Curitiba-PR).