NÃO É CONTO DO VIGÁRIO!

Não se trata do Conto do Vigário, embuste, mentira articulosa, inventada, como o caso do embusteiro, o vigarista, contado pelo escritor Fernando Pessoa, em que o malandro aproveitando a boa-fé da vítima, contando uma história meio complicada, entretanto, com certa verossimilhança.

O perereco eclesial não fora fantasia, utopia ou fruto da imaginação dos fiéis – os seguros na mão de Deus -, sim, um acontecimento verdadeiro, “meio fúnebre meio folclore,” ocorrido dentro da Igreja São Francisco, no bairro do Country, em Juazeiro da Bahia, no dia 16\07\2016 às 19.30h, sendo um dos protagonistas do inusitado episódio, o vigário celebrante, carinhosamente chamado de Zezé pelos fiéis, carolas e beatas.

O vigário Zezé é um cioso representante do Templo Sagrado, que conduz uma estatura esguiez, muito solícito, que o facilita tirar frutos de  árvores sem auxílio de escada.

É um sacerdote brilhante que se empenha em sua oratória sacra, pregando o Evangelho com muito amor e fé, chamando atenção de todos que assistem às suas homílias sem bater as pestanas. 

O Vigário muito querido pelos paroquianos, que ficam atentos às suas pregações religiosas, convictos de que o Cura celebra de coração aberto e coroado de fé na ordenação sacerdotal, sendo caracterizado veemente quando no púlpito, tribuna para pregadores, incorporando-se no espírito do Evangelho.

Quando Zezé estava na tribuna, no dia 16, envergado em ricos paramentos, vestes litúrgicas, com cinta, faixa e solidéu, celebrando a missa da comunidade e, na hora das preces, do centro do templo, em todo silêncio, rompia uma voz de tom sentimental, despertando a todos os fiéis, entortando o pescoço de uma só vez, em tempo de desliga-lo do tronco e da cabeça, ao conhecerem de quem seria o pedido de súplica.

Todos com a liturgia na mão, no juízo e no coração, um autêntico “silêncio dos mortos,” ficaram profundamente atentos para ouvir a preceira Wanda Guerra, a qual é protegida de São Francisco e de Nossa Senhora das Grotas, carregadora de dia e noite dos oremus, liturgia e Bíblia Sagrada, espírito caridoso, peito cheio de bondade e amor fraterno que faz chorar laicos, ateus e incrédulos, quando de seus magnânimos pedidos de súplica, que também chora de alegria e de tristeza conforme a ocasião, não faltando lágrimas quando diante de qualquer de-cujus.

A suplicante tinha adornada à cabeça uma flor gigante, esplêndida, brilhosa e, bem vestida dentro do figurino, trigueira, elegante para uma noite de gala, fazendo, então, inveja a qualquer princesa ou rainha.

“Senhor Jesus, hoje, faz cinquenta anos do meu casamento; portanto, bodas de ouro e, faço esta prece, pedindo a São Francisco que me conceda muitos anos de vida e também para o meu marido Dedê.” “Senhor, escutai esta prece..!” Com tanta fé dos fiéis que o Santo da casa abaixou a cabeça: Amém! De joelhos as “meninas de São Francisco:” milagre..! milagre..!

O vigário que já estava tenso de uma imensidão de preces, o mesmo julgou que o pedido instante tratar-se de uma viúva, para que a alma do “marido vivo” da amiga e irmã Wanda se mantivesse em eterno descanso na Casa do Pai. Como é um pastor bondoso para com o seu rebanho, o celebrante passou a encomendar a suposta alma, com as orações habituais, havendo choro incessante de alguns seguidores, tornando-se um clima “defuntório” e, graças o alerta de uma Ministra, voltando-se dessa maneira à calma do episódio.  “Meio fúnebre meio folclore!” Desfeito o fatídico equívoco, o povo de Jesus, logo começou a rir em gargalhadas soltas salpicadas de fé, abraços, beijos e vivas a São Francisco, distinguindo-se o brado retumbante do sacerdote amigo de seu rebanho sanfransciscano.

Geraldo Dias de Andrade é Cel. PM\RR – Escritor – Bel. em Direito – Membro da ABI\Seccional Norte – Cronista – Membro da Academia Juazeirense de Letras.