A transferência da Família Real para o Brasil fortaleceu o "toma lá, dá cá" no país - Reprodução
Nesses tempos amargos que o Brasil está passando, em que a criminalidade de todos os matizes domina a vida nacional, quando o nosso conceito alcança as raias do achincalhamento pelo mundo, é mais do que natural que haja no íntimo de cada brasileiro um questionamento profundo quanto às razões de tudo isso que está acontecendo ou quando tudo isso começou.
Naturalmente que o fato de estar em grande evidência os 13 anos do modelo petista de governar e a sua capacidade ímpar de gestão financeira, quando exibiu mestrado e doutorado em como destruir as finanças públicas, demonstrou que as práticas históricas sempre usadas no Brasil para fazer corrupção ao longo de tantos governos, recentes ou do passado, foram apenas aperfeiçoadas. Grande parte dos leitores nem imagina quando tudo isso começou, e já temos até o Museu da Corrupção...!
O que demonstra ser esse desconhecimento uma realidade, é que nas discussões presenciadas no dia a dia sobre o tema, somente se estabelece comparação entre os governos de Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma! Só que esse desvio de comportamento está incorporado e deixa rastro desde o descobrimento, e esse talvez seja o consolo e a melhor tese de defesa dos envolvidos nos escândalos atuais.
Tenho pelos irmãos portugueses o maior carinho e respeito, além de um apreço muito grande por Portugal e sua bela Lisboa. Mas, para a compreensão de tudo isso que está acontecendo no país, é indispensável recorrer a alguns registros dos nossos historiadores, para identificar que algumas dessas mazelas foram tristemente herdadas dos primeiros colonizadores que aqui chegaram, na sua maioria portadores de maus exemplos morais.
Assim, recordo alguns casos bem emblemáticos:
a) Em 1516, o português Pero Capico, chegou ao Brasil acompanhando a armada comandada por Cristóvão Jacques, incumbida de patrulhar a costa brasileira. Nomeado pelo Rei D. Manuel I, foi aqui donatário de capitania. Mesmo nada tendo realizado de benfeitoria, voltou riquíssimo para Portugal. O Jesuíta português Padre Antonio Vieira afirmou que “eles chegam pobres nas Índias ricas e voltam ricos das Índias pobres”;
b) Em 1543, Pero Borges foi nomeado pelo Rei para supervisionar a construção de um Aqueduto, lá em Portugal. Em 1547 é descoberto que houve superfaturamento na execução do projeto – isto nos parece meio familiar...! -, e que o mesmo desviara da obra a quantia de 114.064 réis, mais de 10% do total da verba, uma fortuna naquele tempo. A operação Lava-Jato da época obrigou-o a vender uma fazenda para restituir o dinheiro e suspendeu o seu direito de exercer cargo público por 3 anos. E o que aconteceu um ano e meio depois? O Rei o premiou com a nomeação de Ouvidor-Geral do Brasil, equivalente a Ministro da Justiça de hoje, com um salário privilegiado de 200 mil réis por ano, recebido adiantadamente, e veio com o Governador-Geral Tomé de Souza, desembarcando na Bahia em 1549. Tempos depois assumiu o cargo de Provedor-Mor, correspondente a Ministro da Economia, e houve quem afirmasse que era “raposa tomando conta de galinheiro”;
c) O Rei D. João VI, ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1808, recebeu de “presente” de um traficante de escravos a melhor casa da cidade, na Quinta da Boa Vista. Este gesto de simpatia à família real assegurou a Elias Antônio Lopes um status de “amigo do rei” e foi seu visto de entrada para os privilégios da Corte;
d) Por último, para não cansar o leitor, dizem que em oito anos de Brasil, o Rei D. João VI distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa. O conceituado historiador baiano Pedro Calmon disse que “para ganhar título de nobreza em Portugal eram necessários 500 anos, mas, no Brasil, bastavam 500 contos de réis”.
Não vai aqui, absolutamente, qualquer intenção de atribuir todos os males e condenar os irmãos portugueses pelo País que somos hoje, mesmo porque há uma história de 516 anos, durante a qual tivemos exemplos, modelos e oportunidades de toda ordem para mudar e definir um novo conceito de cidadania, respeito e integridade, sem a concepção de que todo mundo é bandido.
Oxalá, se as instituições e as lideranças que ocupam os cargos de comando em todos os níveis não assumirem a firme determinação de mudança, que o cidadão brasileiro busque uma nova atitude visando a transformação dessa estrutura corroída e arruinada! Como cantou o Cazuza, com muita propriedade: “BRASIL, MOSTRA A TUA CARA”! E que ela seja nova, bem diferente da atual!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor
9 comentários
10 de Jul / 2016 às 23h29
GRANDE CRONISTA, a reflexão desse Artigo nos leva a viajar a um passado distante. Imaginando como era “o me dá me dá me dá” sem nada em troca, a não ser um pedaço de espelho e bugigangas das mais baratas trazidas para as índias inocentes e puras no seu ingênuo modo de ser. Ou seja, a enganação vem do passado e foi a lição que muitos aprenderam e até hoje tem colocado em prática, agora de uma forma bem formalizada e intelectualizada... Como mostrar a Cara meu caro Cronista, se a vergonha não deixa! Belo e oportuno texto para o momento atual... Parabéns pela AULA!
10 de Jul / 2016 às 23h42
Cunha mandou milhões para a Suíça e varios deputados cheios de processos contra uma mulher honesta. Querem fechar os blog porque fala a verdade
10 de Jul / 2016 às 23h44
Poque Temer quer matar os sites progressistas? http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-temer-quer-matar-os-sites-progressistas-por-paulo-nogueira/
10 de Jul / 2016 às 23h49
Excelente! Merece ser divulgada aos quatro cantos.
10 de Jul / 2016 às 23h52
Se era assim, nada de novo! "Esse povo" que critica não sabia de nada! (Salvador-BA).
11 de Jul / 2016 às 08h00
É isso Agenor. Por mais de uma vez tive oportunidade de mencionar que o nosso problema (do Brasil) é de "origem". Além dos exemplos do alto escalão por você lembrados, é fato que para cá eram mandados a escória portuguesa (condenados, indesejáveis, e outras espécies tais), contribuindo para a formação do caráter do povo de uma futura nação. Sem contar com as pertinentes consequências da presença dos justificadamente revoltados escravos, além dos índios - todos incultos e subjugados. Essa mistura, sempre pensei assim, contribuiu para uma má formação do caráter do povo brasileiro.
11 de Jul / 2016 às 08h26
Agenor, esta aula de ciência política que você nos brinda, confrontando dados históricos e comportamentais para analisar uma postura política no Brasil, revela que ainda não conseguimos chegar ao objetivo democrático de um governo eleito. Pois todos que ali se estabelecem, praticam falcatruas e desvios. Mas correlacionando sua crônica com um fato político desta semana, em que nossos congressistas simplesmente desprezaram o projeto popular que trata dos "10 pontos para eliminar a corrupção", chego a simples conclusão que o nosso sistema político ainda está longe de se tornar correto e honesto. Continuamos distribuindo títulos de nobreza através do voto, que concede imunidade parlamentar. E distribuindo altos salários aos "amigos do rei". Principalmente nas estatais. Tomara que um dia o Brasil mostre uma "cara nova". FOZ DO IGUAÇU-PR.
11 de Jul / 2016 às 10h04
Devo dar parabéns ao CRONISTA Agenor pela crônica. Consiga pedir pela Editora Europa os seguintes livros: 1549 Terra de Santa Cruz, O Desejado, O Fundador, Os Diamantes Não São Eternos, escritos pelo Juazeirense Aydano Roriz. Neles você encontrará muitos episódio acontecido neste BRASIL. O Brasil foi onde colocaram, aqueles que Portugal rejeitavam e não tinham mais onde colocá-los. Os personagens todos nós sabemos.
11 de Jul / 2016 às 10h33
Obrigada Agenor por tão este texto tão bem escrito.