A cada dia que passa nota-se que ganhou novo sentido a reação das pessoas diante das edições dos jornais televisivos, ao reproduzirem notícias e imagens que falam dos milhões desviados pela corrupção generalizada, insana e insaciável, sem falar nos assaltos com mortes banalizadas pelo simples prazer de matar e não dar em nada. E o resultado de tudo isso são reações de tristeza, vergonha e uma forte desesperança!
O diálogo, mesmo sem as pessoas se conhecerem, logo se encaminha para a troca de questionamentos e expressões de revolta: “cada golpe, só se fala em milhões de reais!”, "viu quanta maldade e ódio?", "onde esse nosso país vai parar?", e o desabafo final: "cadeia neles!", e tantas outras expressões!
Nesses diálogos anônimos, é interessante observar como o sentimento de solidariedade humana aproxima as pessoas, não importando, às vezes, o nível de educação e cultura de cada uma. Mesmo as pessoas simples e humildes se unem para uma manifestação de autodefesa contra esse mar de lama em que mergulharam o Brasil e ainda, tentam se vestir de pele de cordeiro quando na verdade são malfeitores e malversadores daquilo que não é seu. Melhor dizendo, são lobos maus, farejadores do dinheiro fácil.
Falar em dinheiro fácil nada entendi com relação a esses senhores e senhoras que quase não pararam de destilar veneno contra a unificação dos Ministérios da Educação e Cultura, visto que ambos sempre andaram interligados como irmãos siameses! O Ministério da Previdência Social, por exemplo, responsável pela gestão da aposentadoria de milhões de brasileiros, vai passar a ser uma Secretaria da Previdência, vinculada ao Ministério da Fazenda. Quantos ergueram a voz em protesto contra a redução da importância desse Ministério? Ninguém!
Para diminuir 10 Ministérios como é o desejo oficial e a aprovação da grande massa da população coerente, muitas incorporações desse tipo terão que acontecer. Vale lembrar que o segmento perde apenas o status de Ministério, com seus muitos Assessores e Comissionados de peso, e assume o status de Secretaria subordinada a um outro Ministério, o que resultará em notável redução de despesas. Isso em nada impede que os incentivos verdadeiros e legítimos continuem a existir, para Projetos que provem ser realmente culturais.
Mas, há algo que causa certa surpresa em todo esse contexto de frágil protesto partidário...! Onde é que está o incentivo à cultura quando o Ministério investe milhões de reais em shows de Cláudia Leite, Maria Betânia, Rita Lee, Sula Miranda, Luan Santana, Marisa Monte, Maria Rita, edição do livro de Camila Pitanga sobre a vida do seu pai, Projeto Santander Cultural (pertencente a um Banco?!), entre outros absurdos? Os shows artísticos sempre foram protegidos e estimulados, tradicionalmente, pelo patrocínio das empresas comerciais, embasados na divulgação das suas marcas e produtos, e não com recursos oficiais...! O que ficou evidente foi uma manifestação unida da classe artística em assegurar o gordo patrocínio dos recursos públicos para a realização dos seus shows, além de um compromisso camuflado na defesa de posições ideológicas. Parece pretenderem gritar bem alto: “Reduzir Ministério, sim, mas desde que não tire a minha boquinha”...! Que nacionalismo fajuto é esse?
É preciso analisar com mais sensatez e racionalidade, e entender que são outras e mais urgentes as nossas prioridades no campo da cultura, como fortalecer e criar bibliotecas públicas em todo o país, preservar e popularizar o uso dos museus históricos, investir no aperfeiçoamento e na melhor qualificação cultural dos nossos professores, em todos os níveis.
Como uma coisa tem muito a ver com a outra, os questionamentos quanto à natureza e razoabilidade do impeachment parcial e em andamento, são de responsabilidade do Congresso Nacional e dos Tribunais Superiores competentes. Mas, assim como o Deputado Valdir Maranhão foi duramente criticado por recuar ante uma decisão inconsistente e burra adotada, o povo, certamente, não vai aceitar um novo governo débil nas suas atitudes, que anuncia a tese de reduzir Ministérios e ante o primeiro protesto dos pretensamente interessados atingidos, logo volta atrás e cancela o seu projeto, numa demonstração de fragilidade e insegurança.
Como se já não bastasse tudo isso, compor a sua equipe com nomes envolvidos em investigações e denúncias de diversos matizes, dentre os quais um já sentiu o peso na consciência e pediu arrego antes que o prejuízo seja maior, parece-me um vexame inaceitável! O pior é que há outros camuflados que não resistirão por muito tempo...!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (De Cuiabá-MT).
4 comentários
29 de May / 2016 às 23h05
Mais uma vez um Artigo dessa grandeza deveria chegar ao conhecimento deles que apesar de viverem num Planalto (mesmo sendo 3 dias na semana) nada enxergam lá do alto... A verdade é que havendo redução a boquinha acaba e como tudo vai ficar? Como acomodar fulaninho e fulanão do primeiro ao terceiro escalão? Esse é o mistério meu patrão...!!! Parece que consegui responder... Ou não! Rsrsrs. ESCREVEU DE LONGE HEIN MEU RAPAZ...!!!
30 de May / 2016 às 08h01
Esse texto deveria ser amplamente divulgado em todos os meios de comunicação, pois fala bem e toda a verdade do momento que vivemos......A volta desse ministério da cultura monstra bem a fragilidade do novo governo....
30 de May / 2016 às 08h22
Este seu artigo revela de forma contundente e perfeita o problema que assola os brasileiros: o patrimonialismo. Que é a determinação em obter benefícios do estado de forma individual, com severos prejuízos a população. Como os cargos ministeriais "comissionados". E você focou, com muita coragem, em um ponto crucial, Agenor, que é a forma como as chamadas "celebridades artísticas" dominaram o cenário nos últimos 13 anos, conseguindo verbas para suas atividades sob a forma de patrocínio indireto, razão pela qual podemos entender por que a grande maioria destes que compõe este grupo não aceitaram o impeachment. Fácil de entender. Impossível de aceitar. O que eles chamam de "cultura" são em sua grande maioria apresentações artísticas, que beneficiam grupos fechados. E que devem ser custeados por quem assiste aos shows, e não por todos que contribuem com impostos. Realmente, trata-se de um nacionalismo fajuto. Que junto com o patrimonialismo forma o "mistério". FOZ DO IGUAÇU-PR.
30 de May / 2016 às 11h42
" ... Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão..." E assim caminha a "nossa" humanidade tupiniquim...