O jornalista da revista Carta Capital, Rui Daher escreveu nesta semana, na versão online do veículo, um artigo sobre a cidade de Petrolina. Rui, que já visitou nossa região diversas vezes, apontou que o atraso social e a concentração de renda têm raízes na história da cidade pernambucana. Leia abaixo na íntegra e opine:
"Sempre que volto do Vale do São Francisco não resisto comentar o que observei na região, do alto e com a lupa. Lá, tenho negócios e paixões. Aos primeiros, leva-me o trabalho de oferecer matéria orgânica e tecnologias naturais para aumentar a produtividade de quem decidiu plantar, exportar e lucrar com frutas de alta qualidade no semiárido. Às paixões, levam-me o povo e a cultura nordestinos.
Na semana passada, estive em Petrolina para trabalhar e participar de um evento esportivo da TV Grande Rio. Talvez por vivermos um momento triste, no qual mais uma vez a Federação de Corporações sangra nosso direito de democracia, desenvolvimento e inserção social, fui menos paixão e negócios, e mais colunista de CartaCapital.
Fiz perguntas e anotações. Desconfiei de passado e presente que fazem evidentes os descaminhos políticos da região e consequentes distorções econômicas e sociais. Petrolina revive um paradigma antes muito utilizado: a convivência maligna entre a riqueza exuberante de poucos e a pobreza expressiva de muitos, o que sugeria vivermos em país parte Bélgica parte Índia, a Belíndia.
Padres capuchinhos, em missão de catequese indígena no final do século 17, começaram a desbravar aquela região de caatinga do médio São Francisco. Passaram-se dois séculos para que fosse fundada como Vila, em 1870, e mais 23 anos para município com autonomia legislativa.
Não se trata, pois, de um aglomerado urbano novo, como os polos criados no Centro-Oeste a partir do crescimento do plantio de grãos. Teria idade para ter-se desenvolvido mais, não fossem os entraves do semiárido nordestino, de recente solução.
Tem população estimada em 350 mil habitantes, PIB per capita de 15.334 reais, e IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,697. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.000 estão à sua frente.
Depois que as águas do São Francisco possibilitaram contornar o principal entrave do semiárido, em Petrolina e região desenvolveu-se avançado polo produtor e exportador de frutas de ótima qualidade. A expressão econômica da região cresceu e trouxe com ela agregação de valor através de indústrias, comércio e serviços.
Por que, então, a visível pobreza?
Embora o Censo IBGE 2010 mostre Petrolina com 32% de brancos e 68% de pardos, negros, amarelos e indígenas, a impressão é de que apenas os primeiros frequentam o luxo da cidade, expressão territorial na chamada Orla e comercial no River Shopping.
Espanta numa cidade banhada pelo rio São Francisco, de agricultura viável e rica por efeito da água de irrigação, predominarem grandes extensões de terras como se desertos fossem. Poucas praças, ínfima arborização, paisagismo restrito aos guetos particulares em condomínios residenciais de luxo ou estabelecimentos comerciais de caro consumo.
Apesar de parte da explicação eu já conhecer através dos livros e do que me foi ensinado nos “barracões” da Ciências Sociais, na caminhonete de um grande amigo e empresário, pergunto os motivos para a convivência de exuberante riqueza e desoladora miséria.
“Vou te mostrar”, respondeu, se encaminhando para zonas periféricas à Orla e ao Centro da cidade.
- Vê esse terrenão? Dos Coelhos. Aquele posto de gasolina? Dos Coelhos. O supermercado? Também. Concessões de TV e rádio? Idem.
De volta ao asfalto da Orla, percorremos vários quilômetros. De um lado, edifícios altos e modernos, hotéis e restaurantes de arquitetura arrojada. De outro, olhando-se em direção ao rio, pouco se vê do “Chico”, apenas longas extensões de terras áridas de caatinga. De tempos em tempos, aparecem condomínios de luxo ali incrustados.
Pergunto: “E essas extensões de terras descuidadas, vazias”?
- Tocas de Coelhos esperando valorização para venda.
Não pensem, no entanto, que isso tudo é falado como recriminação. No Brasil, patrimonialismo e desenvolvimento nem sempre foram fatores antagônicos. Muito do que hoje Petrolina tem de bom se deve aos empreendimentos dos Coelhos, como políticos e empresários.
A saga do clã começa ainda nos primeiros anos do século 20, com o coronel Quelê, apelido de Clementino Coelho, líder político e econômico da região, desde a República Velha.
Quelê Coelho teve farta prole, 11 filhos. Entre eles, Nilo Coelho, governador biônico de Pernambuco de 1967 a 1971, senador da Arena e do PDS, e presidente do Congresso Nacional, em 1983.
Ao encaminhar seu filho médico, Nilo Coelho, para a política, fez dele o grande indutor do avanço de Petrolina. Pavimentou estradas, criou médias e pequenas empresas, levou eletricidade e postos de saúde às vilas rurais, ergueu casas populares. Mas, apaixonado, implantou os projetos de irrigação que vira nos EUA.
Como em todo patriarcado, ramos da família acabam rachados. Nem por isso suas fortunas diminuíram, pelo contrário, aumentaram. Nada, porém, mais determinante do atraso social e da concentração de renda. Quem foi ao Maranhão e conhece o clã Ribamar, sabe disso.
Será muito difícil a querida Petrolina superar a desigualdade sem fugir do coronelato político".
20 comentários
06 de May / 2016 às 09h49
Isso e dor de cotovelo de juazeirense
06 de May / 2016 às 10h10
CONCORDO COM TUDO ISSO. PETROLINA TEM "PROPRIETARIOS ". JUAZEIRO, TEVE SEUS CORONEIS , E ATE HOJE DECENDENTES ACHAM QUE SAO DONOS DE JUAZEIRO, VIVEMOS EM UMA CIDADE CARENTE DE TUDO. O MAS INTERESSANTE. E QUE TODO. " rico " OU. " metido a rico " QUANDO APAREÇE POR AQUI ,VIRA CORONÉ QUER MANDA, COMANDAR ,E DESMANDAR. SAO COISAS DO NOSSO SERTAO.
06 de May / 2016 às 10h10
CONCORDO COM TUDO ISSO. PETROLINA TEM "PROPRIETARIOS ". JUAZEIRO, TEVE SEUS CORONEIS , E ATE HOJE DECENDENTES ACHAM QUE SAO DONOS DE JUAZEIRO, VIVEMOS EM UMA CIDADE CARENTE DE TUDO. O MAS INTERESSANTE. E QUE TODO. " rico " OU. " metido a rico " QUANDO APAREÇE POR AQUI ,VIRA CORONÉ QUER MANDA, COMANDAR ,E DESMANDAR. SAO COISAS DO NOSSO SERTAO.
06 de May / 2016 às 10h14
Concordo plenamente. Esse cidadão descreveu corretamente a situação de Petrolina. Toca de Coelhos.
06 de May / 2016 às 10h15
Concordo plenamente. Esse cidadão descreveu corretamente a situação de Petrolina. Toca de Coelhos.
06 de May / 2016 às 10h29
Realmente Petrolina demonstra claramente na sua face o apartheid espacial originada de uma concentração de renda imensa resultado de uma uma pobreza política.
06 de May / 2016 às 11h15
QUEM REALMENTE TRABALHA NA FAMÍLIA COELHO ??? GOSTAM MESMO É DO PODER E DE SUAS BENESSES. B N B / BANCO DO BRASIL APOIAM TODOS QUE ESTÃO NO PODER. DA DITADURA AO GOVERNO DE PLANTÃO. NILO COELHO (MAIS CONHECIDO COMO N U L O COELHO) GOVERNADOR DA DITADURA - NOMEADO. OS COELHO NÃO DIZEM QUE N U L O NÃO TEVE NENHUM VOTO PARA GOVERNADOR SEU SOBRINHO FERNANDO EX-MINISTRO DE LULA/DILMA - TRAIU LULA E AGORA QUER EMPLACAR O FILHO MINISTRO (FERNANDINHO) QUEM REALMENTE TRABALHA NA FAMÍLIA COELHO ????
06 de May / 2016 às 11h26
Excelente texto! Escrito com o distanciamento necessário de quem não é natural da região, mas preciso nas observações sobre o distanciamento social que há na "Califórnia" do sertão. No mato petrolinense tem muito "coelho", que são na verdade camaleões políticos, Dona Dilma que o diga.
06 de May / 2016 às 15h06
O texto é altamente histórico e , apesar das intrigas de uns, o elogio da pujança econômica e desenvolvida na cidade é vista. Dos 5570 municipios brasileiros , petrolina está á frente de 3570 . E aí?
06 de May / 2016 às 17h18
Petrolina tem coelho, e nós o que temos? Se lá tem desbravadores, homens que conseguiram evoluir esta linda e próspera cidade, porque não dizer o nome e sobrenome dos seus desbravadores/criadores. Se as riquezas, passam pelas mãos da família Coelho é porque fizeram por onde. Se fosse sua família a criar patrimônio e desenvolvimento, o que você faria? Iria doar à igreja ou aos pobres? Juazeiro, que não cresce, a não ser na área da irrigação, só teve episódios de famílias fracas. Nosso histórico é de família: festeiras, poéticas, boêmias... Nosso histórico é de cultura, o que me orgulha também, mas será que não dava para unir poesia com trabalho? (risos). Para deixar como exemplo ruim, Juazeiro teve a maldade de começar a Guerra com Antônio Conselheiro. Para quem não sabe a Guerra de Canudos, começou por aqui. Antônio Conselheiro comprou madeira, a um “Coroné” vagabundo daqui e este não entregou o pedido, ficando com o dinheiro dele e de seu povo. Antônio ameaçou atacar este “coroné” e ele de pronto acionou a polícia da época. Essa é a história daqui. Começamos com fama de caloteiros. Quisera Juazeiro, que alguma família tivesse a visão e o empreendedorismo dos Coelhos de lá. A família Coelho, tem meu respeito e admiração. Se acumularam riquezas é porque fizeram por onde. Os que reclamam se tivessem a oportunidade e a inteligência, fariam o mesmo.
06 de May / 2016 às 18h34
Bem que esses Coelhos poderiam vim aqui pra Juazeiro, mesmo sendo Coronéis!
06 de May / 2016 às 20h19
Eu acho essas pessoas que perdem seu tempo pra ficar falando da vizinha e vice versa de uma médiocridade incrível. Dois municípios que deveriam se unir para o desenvolvimento da região fica com disputinha boba de que a minha cidade é melhor que a sua. Acorda meu povo! É por isso que homens como os da família Coelho dominam a cidade porque tem pessoas que dão espaço para mediocridade. As duas cidades tem problemas como qualquer outra no mundo eu atet acho que Juazeiro por exemplo tem mais policiamento que Petrolina. Assim, como Petrolina é um pouco mais forte estruturalmente que Juazeiro, assim como, Petrolina carece de um transporte de qualidade como Juazeiro. Ao meu vê, Petrolina peca em muitas coisas para ser considerada desenvolvida porque na questão da urbanização, segurança, transporte, vegetação a cidade na sua maioria é bem escura e os bairros mais longes são praticamente abandonados. Juazeiro é uma cidade como pouca infraestrutura no quesito transporte, iluminação, paisagismo mais vence na segurança. O que Petrolina sabe fazer bem é cobrar multas no trânsito. Então, é preciso uma gestão dos dois lados mais entrosada.
06 de May / 2016 às 20h28
A REPORTAGEM ESTÁ CPRRETA. OS CORONEIS MANDAVAM EM PETROLINA E ATÉ HOJE. COM O FIM DA FAMILIA COELHO RESTARAM OS CORONEIS FERNANDO BEZERRA QUE RESPONDE PROCESSO DO LAVA JATO E JULIO LOCIO, QUE SE ACHA A ULTIMA BALA QUE MATOU LAMPIO.
06 de May / 2016 às 21h38
O que fizeram com Júlio Lóssio nas últimas eleições foi coisa de coronelato, quiseram e conseguiram tirar na marra o direito do mandato do prefeito de Júlio Lóssio, somente aqui na Capitania de Pernambuco, tudo dominado pelos coronés Bezerras; Bezerrão e Bezerrinho. Inclusive colocaram um dos seus capangas para se assentar na cadeira de Prefeito, e tocar a mandar ilegitimamente na prefeitura, só saiu por que o Superior Tribunal de Brasília botou ordem na casa. Eles se meteram com escândalos de desvio de dinheiro de obras sociais, como a transposição do Rio São Francisco que é uma obra para matar a sede do povo, social na sua essência, mas há inquéritos aí que estão investigando em segredo de Justiça, o que eu acho totalmente errado. Como pode ser segredo se eles estão na rua pedido voto? O pior é que os dois bezerras, estão cada um na sua casa envolvidos até o pescoço e a alma nesse vergonhoso golpe de Estado a presidência Dilma do PT, de uma das mais aliadas lideranças políticas, que Pernambuco já teve, que trouxe imensos benefícios para pernambuco nos últimos anos; mas eles são os cabeças lá desse golpe, se juntaram com os paulistas, mineiros e cariocas, vamos ver se sobra algum botim disso tudo aí.
07 de May / 2016 às 03h25
Realmente. Uma cidade extremamente desigual. Pobre querendo ser rico hahahahaha
07 de May / 2016 às 18h21
Concordo com o Fernando Souza, vamos acabar com a mediocridade, vamos deixar de disputinha boba. Porque enquanto o povo fica com rivalidades, os políticos fazem o que querem. Afinal de contas o governo é o reflexo de nós mesmo, porque quem coloca eles no poder somos nós. Se o Brasil está do jeito que está, nó temos uma grande parcela de culpa. Vamos refletir!
07 de May / 2016 às 18h41
José Antônio da Silva Filho, Deus nos livre e guarde...Juazeiro já tem problemas demais...
07 de May / 2016 às 22h03
Petrolina teria crescido muito se fosse o PT que dominasse aqui. Seríamos um paraíso na terra, teríamos belíssimos campos de peras e maçãs. Manda esse colunista safado petista procurar o que fazer. Graças à família Coelho Petrolina é o que é hoje. Bando de vagabundos. Quem elege eles são os petrolinenses que vêem resultados. O cara é tão desinformado que o sistema adotado aqui é o isrraelense e não americano. Graças Deus, quinta feira estaremos livres dessas corjas.
07 de May / 2016 às 22h26
A primeira vez que Lula veio a Petrolina, fui, feito palhaço, o receber no aeroporto da cidade (Internacional e construído pela família Coelho). Quando ele abriu a boca e condenou "os Coelhos", tomei logo nojo. Meu pai saiu da Paraíba e minha mãe da Bahia, procurando um lugar que existisse emprego e encontraram em Petrolina, nas Indústria Coelho. A esquerda brasileira não construiu nada, Só vive de mentiras.
07 de May / 2016 às 22h28
Não se esqueçam que os coelhos mandaram e continuam mandando na Bahia também , como o governador Nilo coelho que hj é perfeito da cidade de Guanambi, e teve forte representação no congresso nacional atraves. do deputado Nestor Duarte da Bahia mas que trabalhava para levar todos os órgãos federais para Petrolina pois é genro de Zé coelho.