ARTIGO – PRESIDÊNCIA EM DOSE DUPLA?

As manifestações públicas que vêm acontecendo no país, como expressão maior de um descontentamento que cresce com grande velocidade, reflete um amadurecimento ideológico que somente os políticos e autoridades envolvidas não conseguem captar o recado das massas. Em razão de não interpretarem com fidelidade a legitimidade desse sentimento de revolta, apresentam justificativas que buscam dar um cunho partidário aos protestos, quando deveriam ler as mensagens contidas nas faixas e ouvir as palavras indignadas dos seus participantes, sempre direcionadas à revolta contra a corrupção impregnada em todos os setores da vida brasileira e a necessidade de acabar com a impunidade histórica no país. Por uma questão óbvia atinge determinadas pessoas e segmentos partidários que estão nas páginas do crime já a algum tempo...!

Nos movimentos anteriores os organizadores mandaram recados que não queriam a participação de lideranças partidárias, exatamente para evitar a sua exploração política, bem como combateram a atuação dos vândalos. Felizmente o movimento do último dia 13 veio reafirmar a seriedade dos objetivos de quantos participaram – adultos, crianças, jovens, idosos, famílias inteiras - visto o caráter ordeiro como se desenrolaram os protestos em 26 Estados e 505 cidades do país, com um total de comparecimento superior a cinco milhões de pessoas em todo o Brasil. Uma prova inconteste da pureza dessas intenções, é que o Governador Alkmin, o Senador Aécio Neves e outros políticos do PSDB foram hostilizados ao participarem da caminhada em São Paulo, aos gritos e palavrões, visto o evidente propósito de pretenderem extrair dividendos eleitoreiros de um movimento social que não tem qualquer fundamento ou cor partidária, mas insurgente contra a roubalheira oficializada, a imoralidade instalada e a falta de respeito com a sociedade brasileira que trabalha e produz.

Tenho repelido sempre com indignação em minhas crônicas, a frequência com que políticos, governantes, simpatizantes ou militantes sectários, bem como alguns analistas cujo pensamento é radicalizado, pela forma como utilizam o recurso da defesa do status quo que aí está, citando erros cometidos por governos passados, como forma de se justificarem e se defenderem, quando deveriam combater e reprovar, com firmeza, tantos absurdos que só aniquilaram a economia e a imagem do país.

Fala-se tanto em golpe, ultimamente, tentando intimidar com a acusação os que se opõem ao sistema político instalado, que, de repente, do fundo da cartilha esquerdista editada pela “escola bolivariana” foram encontrar a saída para o principal líder do esquema fugir aos rigores de uma justiça independente, consagrando-o como um simulacro de Ministro de Estado! Sim, apenas uma enganosa imagem para blindá-lo do julgamento pela 1ª. Instância da Justiça em Curitiba, ou leia-se Sérgio Moro. Na verdade, golpearam os 54,5 milhões de eleitores que votaram na Dilma para a Presidência da República e agora vão vê-la cumprindo ordens, enfraquecida e escanteada! Quem será capaz de imaginar que ela terá personalidade e autonomia para contrariar o Lula – que passaria a presidente de fato! – Criador dessa Criatura, certamente passando a mandar no país “por debaixo dos panos”? Com certeza terá carta-branca e poderes para intimidar a Polícia Federal, Juízes, testemunhas e delatores, e para valorizar os empresários corruptos que foram os parceiros na desmoralização das nossas instituições... Criaram no país uma PRESIDÊNCIA EM DOSE DUPLA, sem alterar a Constituição Federal?

Essa não deixa de ser uma rota de fuga alternativa que tanto poderá salvar esse governo debilitado, que investe na capacidade política inegável do ex-presidente, como ampliar a sepultura que vem sendo aberta pelas próprias mãos dos seus membros. Mas vale raciocinar que, em outras circunstâncias, em Estados ou Municípios, seria impensável que alguém sendo acusado e investigado por suposto envolvimento em vários tipos de denúncias, ainda que sem processo condenatório, pudesse ser cogitado para o exercício de qualquer função pública, principalmente como Secretário Municipal ou Estadual, sem que os arautos da lei protestassem para que tal fato não viesse a acontecer! Pelo andar da carruagem não é de duvidar que os familiares envolvidos também serão alçados aos cargos que asseguram o foro privilegiado e assim fiquem à distância do Sérgio Moro!

Causou estranheza que o Ministro do STF, Marco Aurélio Melo, um dos mais respeitáveis e competentes da Suprema Corte, tenha dado declaração ao “O Globo”, externando o seu pensamento pessoal sobre a notícia: “Eu vejo o deslocamento (de Lula para um Ministério) como uma tábua de salvação para o Executivo Nacional. [...] Ela não tem penetração política alguma em termos do Congresso Nacional”. Surpreende, como Juiz da Suprema Corte, porque o episódio da nomeação, certamente, gerou um fato jurídico a ser avaliado pelo STF, e assim a Corte terá, a bem da moralidade e da decência, a oportunidade de consolidar bons exemplos perante a sociedade em geral.

E como bem diz a ilustração, um País com a nossa dimensão e importância não pode, jamais, ficar dependente de jararacas e tucanos... 

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador - BA).