14 de Março, Dia da Poesia : A matéria prima

Um menino nu a pinotar num riacho
Um bicho macho a olhar uma marrã
Um piado o outro canto da acauã
Num sobrado a menina que nos olha
A água que respinga e às vezes molha
A saudade que vem e que não passa
A criança que para e acha graça
E o velho que a risada lhe fugiu
A verdade do primeiro de abril
A moeda misturada na argamassa
 
A vida plena que a tv não mostra
Uma fala que não se pronuncia
A rotina do mundo ao meio dia
O futuro com saudade do passado
Um cacho de banana amarelado
Um banana que afrouxa e amarela
Um cinturão que apertado se afivela
Uma calça ao sair pelo pescoço
Um cachorro que na falta de um osso
Rói com gosto o solado da chinela
 
Assim é um bicho chamado poesia
Que se esconde nos compêndios eruditos
E que se mostra nos lamentos dos aflitos
Nas calçadas nos botecos nas esquinas
Que adolesce nos semblantes das meninas
E que nunca envelhece com o tempo
Que mistura a apologia e o lamento
E que habita o peito de quem chora
E que quando acha espaço fica mora
Regada com o maior dos sentimentos

Por José Nilton Moreira