De tanto se conviver nos últimos tempos com uma saúde pública em estado deplorável, em que a população humilde que antes dependia inicialmente do Programa de Assistência desempenhado pelo SUS e passou a não ter mais qualquer esperança, optei por dar um tempo, nesta edição, na abordagem sobre a estúpida situação política em que estamos vivendo. Assim, resolvi me associar às preocupações gerais da população e de confrades colaboradores do Blog como o Acord@dinho, preocupados com os graves problemas de higiene e limpeza pública, que são os condutores das graves mazelas que afetam a saúde da população em geral e estimulam a epidemia de doenças provocadas pelo mosquito da “dengue”, na atualidade.
Mesmo com as informações diárias e frequentes quanto aos cuidados para evitar a proliferação do mosquito, a televisão exibiu vergonhosas imagens aéreas mostrando casas, lajes e construções abandonadas, com enorme quantidade de água exposta à espera dos mosquitos, numa visível irresponsabilidade da população e de Construtoras que abandonam obras e que estão se lixando para os riscos a que expõem a saúde pública...
Assim, recordei-me de um tema que já foi por mim abordado anteriormente, neste Blog, sob o título acima, em outubro de 2013, e optei por reeditar alguns pontos ali levantados, e que coloco entre aspas, para ressaltar a diferença no tempo:
“É muito comum ouvirmos a todo instante e nas mais diversas rodas, reclamações incisivas e contundentes quanto ao nível de sujeira das cidades em geral, sofrendo os prefeitos e suas equipes de limpeza pública todas as críticas e pressões possíveis e imagináveis. Fazer a garimpagem diária de todo o lixo produzido pelas cidades é um processo contínuo e interminável, de extraordinária importância na geração do bem-estar da população, cujo valor que representa minimiza o elevado custo para qualquer administração pública. Normalmente, as pessoas são levadas a serem duras na crítica e pouco generosas no elogio, nos dois momentos diversos em que as cidades estão sujas ou limpas, respectivamente.
[...] Recentemente, ao transitar pela cidade, vi um saco de lixo intacto e bem amarrado, postado sem qualquer rasgão no centro da rua, próximo a um Hospital. Logo me pus a imaginar: que cachorro zeloso e educado, que puxou este saco para a via pública com tanto cuidado que nenhum detrito ou resto de comida se espalhou pelo chão! Será que foi mesmo um irracional que fez aquilo?
[...] Mas é importante lembrar que os mesmos arautos cobradores da higiene pública são surpreendidos jogando papel, copos e sacos plásticos, latas de cerveja, tocos e maços de cigarros, e toda espécie de objetos geradores de lixo nas vias públicas ou arremessados pelas janelas de bonitos carrões. Esse costume reprovável contribui para passar a jovens e crianças muito dos maus hábitos caseiros de que são portadores. Para a correção dessa prática nociva urge a implantação de um projeto doméstico de reeducação. Processo que deve começar pelos adultos, pais ou não, e assim as nossas crianças e jovens serão transformados pelo exemplo dignificante dos mais velhos.
Estou me referindo à prática de bons costumes e nesse contexto não vejo apenas o lixo como o vilão da sociedade. Como é bonito quando se diz que o povo de uma cidade é educado, e inversamente triste quando se ouve dizer que o povo ou seus jovens são mal-educados. Tudo isso é fácil de ser identificado nos pequenos gestos das relações pessoais diárias. No tratamento respeitoso que deve ser dedicado às pessoas e aos idosos em particular. Não há melhor escola que o próprio lar, a família, para se sedimentar aquilo que se convencionou chamar de “educação doméstica”.
Não pactuo da velha tese de que “o pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”. É preciso acreditar num sistema de transformação. Se os adultos não tiveram a base que possa produzir os efeitos desejados na formação das crianças e dos jovens, cabe à escola e aos seus educadores o compromisso moral de participar desse processo de mutação, participando do esforço de elaboração de um novo perfil para o jovem, o adulto de amanhã. Ao poder público cabe a participação responsável nessa batalha de reformulação dos princípios e costumes de sua gente.
[...] Vivemos hoje novos tempos, em que muito se fala na reciclagem com o objetivo de dar sentido e utilidade a tudo que já teve uso e que se tornou descartável. Talvez ao longo da vida, e até os dias de hoje, tenhamos usado de hábitos e maus costumes que maculavam a nossa imagem. Após uma reflexão pessoal, que nos conduza a ter prazer no ambiente em que habitamos, vamos assumir um novo propósito de vida Reciclando os nossos (maus) costumes? ”.
Conclui-se que, em quase três anos decorridos do texto citado, ele continua atual porque nada mudou. É preciso que assumamos uma nova ATITUDE DE VIDA, com mais respeito e disciplina às regras de conduta instituídas pelas leis do Estado, o que será o primeiro passo para um sério e definitivo processo de mudanças, a partir de nós mesmos como cidadãos. Das observações feitas durante esse giro, uma verdade se torna evidente: que, para um ambiente público limpo e decente, não basta ter lixeiras espalhadas pelas ruas, mas uma população consciente de que tem de fazer a sua parte.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Da Flórida - EUA)
8 comentários
06 de Mar / 2016 às 23h12
O GRANDE AGENOR, ainda que de tão longe (Flórida-EUA) marcou presença com sua assiduidade nas noites de domingo no blog onde é assíduo cronista. Essa verdade tem que ser bem dita...!!! Seu texto imparcial como sempre, dá lições ao poder e ao povo e assim mostra caminhos de civilidade e civilização, algo que ainda nos falta tanto, e sobra lá de onde ele escreveu esse Artigo tão importante.
06 de Mar / 2016 às 23h45
Caro Agenor, perpassa sob meu raciocínio uma espécie de contágio, quando passo a analisar sua mais recente produção literária, como sempre, recheada de críticas contundentes ao poder público. Parece que sigo uma trilha paralela, com pontos de congruências quando verifico a abordagem sobre a deficiência da saúde pública, quando enxergo o caos no sistema de esgotamento sanitário e a ausência de saneamento básico nas cidades, sejam elas do sertão do Nordeste, ou mesmo parte da zona periférica de uma metrópole. Não consigo entender tal descaso ou, ato caprichoso, que os administradores, todos eles, insistem em manter. Parece ser o fim do mundo, espiar numa favela, a dentro, e perceber o abandono em que parte significativa de uma sede municipal, vive num abandono perpétuo. Sob essa dúvida, fico a imaginar e chego a uma conclusão de que a falta de regulamentação é muito próxima do descaso. Me vem logo a abstração, - a presença de um engenheiro civil, de um médico, de um advogado, de um arquiteto, de um professor de nível universitário e de órgãos de fiscalização e controle, pode fazer uma diferença enorme numa cidade. Não bastasse tal descaso, por falta de incentivo local, muitos dos primeiros gestores municipais, não residem no reduto eleitoral, mas, na capital do Estado e aí vem: o mestre de obras substitui o engenheiro civil, o servidor de nível médio é diretor da escola, a maioria dos citadinos praticam a automedicação, o mestre de obra que é craque na argamassa substitui o engenheiro civil, a parteira "D. Altina" é melhor que a Maternidade. O caos tem uma origem: o descaso. A reciclagem ou treinamento e o aprimoramento traz algum resultado. A solução definitiva passa mesmo por uma regulamentação e controle dos primeiros gestores e por uma fiscalização que proíba os atos infringentes, ao arredio da lei regulamentadora das profissões. Em resumo, o costume vira um mau costume se não existe uma legalidade que proíba, assim, "nós acostumamos com os mortos e que haja número para os mortos". Não haverá decência em nenhum ato público, se não houver uma regulamentação que anteceda, do mesmo modo que, "não há crime sem lei anterior que o defina". (Campo Grande-MS).
06 de Mar / 2016 às 23h48
Que texto lindo!! Este deveria estar preso em paredes de áreas públicas para que todos leiam, porque, com certeza, tocaria a consciência de algumas pessoas e já estaria, dessa forma, mudando a maneira de pesar e agir de muitos. Um dia tenho a esperança que teremos orgulho de sermos uma nação consciente e cuidaremos da limpeza da nossa cidade com amor! (Salvador-BA).
06 de Mar / 2016 às 23h58
Mais um ótimo e pertinente artigo (e, agora, internacional / Flórida-EUA). (Ponto Novo-BA).
07 de Mar / 2016 às 08h17
Agenor, este seu retorno ao texto que escreveu há 3 anos poderá ser reeditado daqui a 3 anos em relação ao texto de hoje. Mas eu espero, sinceramente, que você possa ter outra conclusão. Mais positiva. Afinal, devemos ser otimistas. Mas se observarmos a história do Brasil, veremos que tudo ocorre de forma muito lenta, e se arrasta de forma interminável. Basta observar a referência histórica que você delimitou na frase do Padre Vieira. Realmente, o problema não está só nas autoridades.E você frisou muito bem neste instigante artigo , não adianta lixeiras se não houver consciência pública. Que pode ser uma metáfora para a sociedade em outras situações. Somos o país do futuro. Que teima em chegar. Pelo menos nos bons costumes. FOZ DO IGUAÇU-PR.
07 de Mar / 2016 às 10h56
Sempre achei e continuo achando que educação vem de berço. (Mutuípe-BA).
07 de Mar / 2016 às 11h55
Bom texto e de grande utilidade. Estou reproduzindo em nosso site. (Salvador-BA).
07 de Mar / 2016 às 16h49
Agenor, este seu retorno ao texto que escreveu há 3 anos poderá ser reeditado daqui a 3 anos em relação ao texto de hoje. Mas eu espero, sinceramente, que você possa ter outra conclusão. Mais positiva. Afinal, devemos ser otimistas. Mas se observarmos a história do Brasil, veremos que tudo ocorre de forma muito lenta, e se arrasta de forma interminável. Basta observar a referência histórica que você delimitou na frase do Padre Vieira. Realmente, o problema não está só nas autoridades.E você frisou muito bem neste instigante artigo , não adianta lixeiras se não houver consciência pública. Que pode ser uma metáfora para a sociedade em outras situações. Somos o país do futuro. Que teima em chegar. Pelo menos nos bons costumes. FOZ DO IGUAÇU-PR.