ARTIGO – O BRASIL PEDE RESPEITO

Em entrevista concedida dias atrás, um importante empresário fez uma declaração de viva voz que me deixou estarrecido, quando declarou: “estamos trabalhando pensando em 2017, porque 2016 já acabou, morreu”! Ora, e o ano apenas começou...! Semelhante afirmação, partindo de um segmento empresarial que nunca entrega os pontos e está sempre acreditando no sucesso e na virada, passou-me uma sensação de total desencanto quanto à possibilidade de uma reviravolta no quadro de inércia, desconfiança e descrédito que o país está atravessando. Em paralelo a depoimentos desse tipo, o que se ouviu, nesta semana, e entristece, foi o anúncio de que a última “Agência Internacional de Classificação de Risco” que restava rebaixou o último selo de “bom pagador” do Brasil, o que só aumenta a retração na demanda de novos investimentos externos e amplia a evasão dos que aqui estavam, que partem à procura de segurança e países mais confiáveis. A falta de estabilidade política e a inexistência de um projeto de recuperação econômica determinam esse perfil negativo. O país está no SPC/SERASA, internacional... Lamentável!

A Presidente Dilma ao substituir o Ministro da Fazenda pelo seu Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, imaginava-se que ele traria a solução com um novo projeto a ser tirado da cartola e nada disso aconteceu. Pelo contrário, as teses acadêmicas foram as mesmas, as providências que dependiam do próprio Poder Executivo continuaram inertes, nada avançou em termos de redução da máquina administrativa, o que acarreta um extraordinário volume de despesas, e aquilo que teria de ser feito logo, foi adiado para o mês de março próximo ou quem sabe quando... Redução do número de Ministérios? Não passa de mera retórica de palanque, pois significa a simples transferência de estrutura e funcionários para um outro Ministério assumir as obrigações... Falta firmeza e coragem para mexer com os apadrinhados de deputados e senadores que estão pendurados nos diversos órgãos federais, de Ministérios, Agências e Autarquias, às vezes em assessorias fantasmas que só aparecem nas folhas e muitos, nem sequer comparecem em Brasília! Exatamente agora que se discutem propostas de impeachment e ajuste fiscal, assumir posturas que podem atingir interesses dos senhores parlamentares? Jamais! Eles, certamente, acham que o Brasil pode esperar...! Nesse processo de estagnação, o Congresso Nacional tem corresponsabilidade na obrigação de tirar o país do fundo do poço em que se encontra e serão cobrados por isso.

Pelo ciúme e animosidade que adornam o folclore das relações entre brasileiros e argentinos – o que não fica restrito ao futebol e à disputa comparativa entre Pelé e Maradona -, a coisa menos desejável seria buscar bons exemplos na política ou nos atos do governo do país vizinho a serem aplicados por aqui. Vale registrar, contudo, que, em apenas dois meses de governo, o Presidente eleito e empossado, Maurício Macri, deu uma guinada na triste situação econômica, assumindo decisões corajosas e objetivas ao demitir o excesso de funcionários e assim reduziu as despesas do Estado. Para superação de uma crise tem de haver vontade política, e não somente a pretensão de transferir para o povo o ônus exclusivo de uma pesada carga fiscal que faça surgir dinheiro como num passe de mágica, através do aumento de tarifas dos impostos, criação de CPMF, etc.!

Qualquer cidadão sensato vai justificar que a paralisia na adoção de medidas corretivas mais eficazes é resultante do estado de intranquilidade política em que o governo está mergulhado. Não deixa de ser uma realidade. Porém, uma verdade insofismável que ressalta aos olhos do mais simples observador é a constatação de que a culpa pela débil e corroída estrutura de sustentação política desse governo se originou do próprio veneno daqueles que se julgaram donos do partido e jogaram por terra, pelo menos no sentido moral, um Projeto de Poder previsto para 20 anos. Tanto isso é real que os principais nomes inspiradores da criação do Partido ou estão presos por corrupção ou abandonaram a sigla, envergonhados e decepcionados pelos escândalos e a falta de ética, entre eles: Plinio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Cristóvão Buarque, Marina Silva, Heloísa Helena, Fernando Gabeira, Chico de Oliveira, Babá, Ivan Valente, dentre outros. A própria Presidente Dilma lançou um ensaio ao pretender desvincular a imagem do PT ao seu governo, enquanto o ex-presidente diz que “ela não foi uma criação minha”. E eu não sabia disso...!

De todo esse confuso cenário de dominação e poder, uma verdade precisa ficar bem clara e evidente para os senhores políticos da Situação e Oposição: o Brasil é maior que todos eles e merece ser tratado com mais dignidade e respeito como nação, além do que precisa ser colocado acima dos mesquinhos interesses em disputa.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.