ARTIGO – FOI APENAS UMA TRÉGUA...

Depois das amenidades geradas pelo espírito festivo do final de ano, o que favoreceu um breve esquecimento do conturbado quadro político brasileiro, parece que tudo volta à normalidade ou, mais precisamente, à anormalidade... Sim, porque o país volta à realidade do apagão moral e a conviver, tristemente, com o conflito na inversão dos valores de conduta, onde o inteligente virou “sabido”; o honesto é um “idiota”; a “propina” foi universalizada como a chave (ou moeda...?) que abre todas as portas; os corruptos envolvidos na Lava Jato continuarão negando o depoimento dos delatores; e o processo de “impeachment”, tanto da Presidente da República quanto do Presidente da Câmara dos Deputados, volta a ocupar os noticiários e as preocupações de muita gente...!

Bem, como chegou o primeiro dia útil do ano em quatro de janeiro de 2016, imagina-se que, certamente, tudo de produtivo voltou a acontecer no país... ledo engano, caro leitor! Exceto as atividades básicas e necessárias à manutenção alimentar e de consumo do cidadão, bem como de lógica atenção ao Turismo, já se popularizou no país o conceito de que as coisas só voltarão a funcionar, na sua plenitude, depois do Carnaval.

Essa trégua temporária só não existe para as pessoas necessitadas do atendimento médico pelo nosso Sistema de Saúde, que estão penando diante das péssimas condições dos hospitais públicos do país. O noticiário nacional das TVs exibe imagens de Unidades com alas totalmente fechadas por falta de medicamentos e materiais básicos de uso indispensável. Os médicos e enfermeiros, e também o quadro administrativo, sem receberem os seus salários ou 13º. Deitados sobre macas, pacientes com fraturas ósseas aguardam atendimento com até 60 dias de espera, enquanto outros sentados pelo chão choram pelo sofrimento da dor que sentem e pela desesperança, sem qualquer atendimento. É um caos total, cruel e vergonhoso...!

Diante da instabilidade política e institucional que a nação viveu nos últimos meses de 2015, o que afetou de forma substancial o perfil da economia e a vida do brasileiro, era de se esperar que ocorresse o envolvimento dos poderes ora em conflito – Executivo e Legislativo – no sentido de agilizar uma solução que reconduzisse o país mais rapidamente aos caminhos do progresso, reconquistando a confiança e o respeito perdidos. Sob esse prisma, louve-se, até, a atitude do governo que manifestou a opção de que o Congresso não utilizasse o direito do recesso e retornasse aos trabalhos logo na primeira semana do novo ano. Obviamente que essa tese defendida transparecia uma jogada estratégica perigosa, porque embasada na repercussão positiva da decisão adotada pelo STF, quanto à votação secreta realizada pela Câmara na formação da Comissão que iria dar andamento ao processo do impeachment na sua fase preliminar, antes do Plenário. Mas não houve a concordância dos parlamentares, principalmente do presidente do Senado e assim demandará mais tempo para um desfecho.

Para a nação, a essa altura, seria preferível que o impasse criado fosse resolvido em definitivo, defenestrando ou não os dois dos respetivos cargos, do que permanecer a economia nacional asfixiada pelas dúvidas e desconfianças quanto ao futuro. Os investidores internacionais não embarcam em canoa furada ou em nau sem comando e à deriva, como está o Brasil desacreditado da atualidade, rebaixado em todos os índices imagináveis pelas agências internacionais.

As articulações estão sendo fortes durante o recesso parlamentar, entre deputados, senadores e os magos políticos do governo. Teme-se, apenas, pela lisura dessas negociações, uma vez que nesse jogo pelo poder as regras e leis são interpretadas da forma mais conveniente possível, onde a ética é o componente menos presente e os interesses nacionais uma utopia.

Todo adulto de hoje aprendeu no passado, pela leitura ou tradição oral, que o “BRASIL É O PAÍS DO FUTURO”! Sim, somos um país ainda jovem no conjunto das nações, sem dúvida - 516 anos de descoberto, em abril próximo -, mas esqueceram de dizer até onde irá esse futuro, e de que na sua trajetória encontraria brasileiros que o fariam avançar um passo à frente e dois ou mais passos para trás! Um grande dilema nos dias de hoje é como adicionar na educação das nossas crianças e jovens uma mensagem de otimismo quanto a esse futuro, diante de tantos maus exemplos que presenciam na atualidade, principalmente entre nossos governantes e líderes.

Assim, concluo citando a frase deixada pelo falecido ex-presidente norte-americano John F. Kennedy, adequando-a para o jovem brasileiro: “Não pergunte o que o BRASIL pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo BRASIL”!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.