Em julho de 2011 o saudoso professor Parlim em seu blog, postou essa foto aí de cima e fazia o seguinte questionamento: “Ainda resta um pedaço do antigo cais de Juazeiro, não sei, se com a duplicação da ponte, o que ficou, vai resistir”.
Sabemos nós os mortais juazeirenses, que o progresso por aqui nunca foi implacável e nem muito menos, voraz. Ao contrário, nosso progresso é preguiçoso, faceiro, jocoso, e caminha lento como aquele velho pescador em uma foto perdida do nosso fotógrafo-mor Euvaldo Macedo.
Talvez por isso, a ponte Presidente Dutra que foi pensada no início dos anos 40, só começou mesmo a ser construída no ano de 1949, sendo entregue meio “assim… assim…” sem festa mesmo, em 1954. O portão do carretel só foi levantado mesmo em 1956 e o primeiro trem só veio cruzar o rio em 1959, nosso progresso é assim, a vapor, tuc tuc tuc, mas chega.
E falando em vapor, entre os anos de 1950 e 1970 coube à ponte Presidente Dutra fazer a transição do transporte a vapor para o transporte rodoviário. Com a construção da barragem de Sobradinho, foram sumindo os vapores. O sobe e desce do carretel tornou-se desnecessário e pouco a pouco o movimento dos trens foi se tornando opaco, até não mais existir em nossas vistas – é ‘coisado’ mesmo esse nosso progresso.
Com o fluxo crescente, o vem e vai dos caminhões, e a evolução constante da frota das duas cidades, Juazeiro e Petrolina, tornou-se urgente (calma, pra que pressa…) a reforma e duplicação da ponte. A obra teve início lá em 2002, e somente em 2011 o lado petrolinense foi finalmente entregue. Eu até comentaria que demorou mais pra duplicar do que pra construir, eu até diria que comparando as épocas e as tecnologias, alguma coisa de errado não estava certa, mas seria intriga da oposição, nosso progresso é assim, manso, gosta de sombra e de um bom picolé, de umbu, por favor.
E falando em picolé…de 2011 para cá a população das duas cidades têm enfrentado um verdadeiro calvário em se tratando de trânsito, engarrafamentos constantes, acidentes e um sem número de piadas que levaram o nome da nossa região a nível nacional. Com a jocosidade que o nosso progresso tanto gosta do “picolé”, amargo, pois não, andou na boca dos dois últimos presidentes da república.
Longe de mim discutir engenharia, mecanismos, ou organização do tráfego. Meu negócio é poesia, mas particularmente da poesia da ponte, da poesia dessa cidade que às vezes nos maltrata tanto quanto é maltratada. E por pensar na poesia, e na poesia da cidade, não posso deixar de me irmanar com meu querido professor Parlim e com meu amigo Raphael Leal. É um negócio assim de querer saber, de assuntar sem ofender. O que será feito desse último pedacinho de cais, esse último pedacinho de uma Juazeiro que beira à extinção, que tem sobrevivido barbaramente ante às barbaridades preguiçosas do nosso tão preguiçoso progresso. Vão quebrar, vão levar para o museu, para casa, ou vão deixar voltar ao pó, o que do pó do concreto veio?
Esse texto é humildemente dedicado ao jornalista Raphael Leal, que assim como eu é doido por essa cidade doida e em uma noite dessas me fez, preocupado, essa relevante provocação.
João Gilberto Guimarães Sobrinho é juazeirense, produtor cultural, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, Pós graduando em Políticas Públicas e direitos sociais, pesquisador das Políticas Públicas de Cultura.
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